Administrador de Magude acusado favorecer açucareira de Xinavane

POLÍTICA

Na senda do conflito que opõe a população de algumas comunidades do distrito de Magude e a açucareira de Xinavane, empresa maioritariamente detida pelo grupo sul-africano Tongaat Hullet, esta última acusada de usurpação de terras sem a devida compensação aos camponeses e de não estar a cumprir com algumas das obrigações de responsabilidade social acordadas com as comunidades, o Governador da Província de Maputo, Júlio Parruque irá deslocar-se, esta semana, a aquele distrito para inteirar-se do problema e tentar uma aproximação entre as partes.

Está instalada uma guerra sem tréguas entre comunidades de três povoados do distrito de Magude e a empresa açucareira de Xinavane, devido a uma alegada falta de compensação dos camponeses locais pela perda de seus campos de cultivo a favor da empresa para o cultivo da cana de açucar.

Ao que o Correio da Matola apurou, o caso remota há mais de 12 anos, quando aquela açucareira, querendo ocupar as terras hoje em disputa, fez uma série de promessas às comunidades que acabaram cedendo, na esperança de ver sua vida melhorada.

Contudo, passados todos esses anos, nenhuma das promessas foi integralmente cumprida, segundo as comunidades locais, facto que tem gerado uma onda de descontentamento e um sentimento de falta de protecção dos seus interesses por parte do governo distrital.

São ao todo mais de 200 mil hectares de terra reclamados pelas comunidades que juram de pés juntos que tentativas de chegar a um acordo com a açucareira redundaram em fracasso, razão pela qual tem, nos últimos meses, recorrido a manifestações para ver salvaguardados os seus supostos direitos.

“Já tentamos muitas vezes resolver esta situação por uma via pacífica mas não somos ouvidos. Já tivemos uma reunião com a empresa e o governo, mas resposta que nós tivemos, não é a que nós esperávamos. O que nós percebemos é que estão numa manobra dilatória para poderem terminar a campanha da colheita de cana”, disse um dos camponeses, na última revolta, registada há menos de três semanas.

Comunidades foram aliciadas a entregar terras em 2008

Segundo os camponeses das referidas comunidades, desde 2008 que a empresa vem “enrolando” as supostas vítimas, fazendo promessas que nunca são cumpridas e de um tempo a esta parte, a empresa tem mostrado alguma arrogância.

Apontando o dedo acusador ao governo do distrito de Magude, por, no seu entender, estar a favorecer a empresa em detrimento das comunidades locais, os queixosos apelam ao administrador do distrito para ouvir o seu clamor.

“São muitas as coisas que a empresa prometeu-nos quando chegou aqui, mas nada disso acontece, por isso a população de tanto esperar acabou se fartando. Antes de arrancarem as nossas terras enganaram-nos prometendo fazer projectos que pudessem ajudar as comunidades. Foi assim que conseguiram tirar as comunidades das suas terras, na expectativa de que iriam ganhar qualquer coisa”, revelou um outro manifestante.

Desde então, prosseguem os queixosos, nada de palpável foi feito em favor das comunidades que, hoje, exibem cartas supostamente emitidas pela açucareira assegurando que iria cumprir com as suas obrigações de responsabilidade social.

Governador vai sentar com as partes

Falando, semana finda, após um encontro com gestores da açucareira de Xinavane, o governador da Província de Maputo, Júlio Parruque asseverou que está preocupado com a situação e mostrou prontidão para, esta semana, ir liderar um encontro com as partes desavindas.

Para Júlio Parruque é urgente parar com o conflito instalado entre a açucareira de Xinavane, propriedade da Tongaat Hulett e as comunidades lesadas, de forma a garantir uma convivência sã e profícua entre as partes.

O Chefe do Executivo Provincial de Maputo expressou o seu sentimento durante um encontro que manteve com a delegação desta unidade fabril, chefiada pelo respectivo Administrador Delegado, Tendai Masawi.

Na ocasião, o Governador da Província de Maputo apelou aos gestores desta unidade industrial a investir mais na sua comunicação com as comunidades circundantes, formando e informando-as sobre os processos produtivos.

Apelou a fábrica a apostar na responsabilidade social, fazendo obras de qualidade nas comunidades e criando mais postos de emprego para os jovens locais, como forma de evitar conflitos.

Júlio Parruque assumiu como seu e do elenco que dirige o problema da Açucareira de Xinavane, prometendo trabalhar com a população para uma solução definitiva do mesmo, em colaboração com o Governo Distrital.

Açucareira queixa-se de vandalização

Ao governador da província de Maputo, o Administrador Delegado da açucareira, Tendai Masawi, queixou-se de manifestações e onda de vandalização do equipamento e postos de transformação eléctrica, acções alegadamente levadas a cabo pelas comunidades circundantes da fábrica.

Masawi considerou estes movimentos preocupantes e nocivos aos objectivos da Tongaat Hulett, tendo em conta que em 2019 foram investidos 500 milhōes de randes para a reabilitação da refinaria da Açucareira de Xinavane, esperando-se alcançar este ano uma produção de 60 mil toneladas de açúcar.

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