Antigo Ministro da Saúde responsabiliza o Governo pelas medidas desastrosas

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Por não se apologista da maneira errática que está sendo gerida a pandemia do novo coronavírus em Moçambique, Hélder Martins disse basta e abandonou a Comissão Técnico – Cientifica. O antigo Ministro da Saúde culpa o Governo pelas medidas que contribuíram para a curva ascendente de infecções e óbitos.

Depois de 11 meses “a engolir sapos”, Hélder Martins observou que havia chegado o momento emque uma simples gota de água faz transbordar o copo. Algumas medidas restritivas avançadas, sem consultar a Comissão Técnico – Científica, pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, pesaram na decisão de Martins.

Na carta enviada ao Presidente da República, Hélder Martins lamenta a falta de divulgação dos trabalhos da comissão, citando como exemplos Portugal e a África do Sul para indicar a necessidade da transmissão mediática em direto dos encontros entre as lideranças políticas e os especialistas em saúde.

“Todos os Governos têm o direito de tomarem as decisões que bem entenderem, mas se entenderem tomar decisões contrárias às recomendações dos especialistas, assumem as suas responsabilidades diante do povo eleitor, pois este também fica esclarecido sobre o que recomendam os especialistas,” argumenta.

Por outro lado, o antigo Ministro da Saúde denuncia que o Governo ignorou várias recomendações da Comissão Técnico – Científico, tendo tomado muitas vezes decisões sem absolutamente ouvir a comissão. Hélder Martins aponta o Decreto 110/2020, de 18 de Dezembro – que autorizou a reabertura de cassinos, bares e barracas de venda de bebidas alcoólicas – como “o ponto alto do desrespeito pela comissão”.

“As consequências dramáticas dessa medida associada à abertura desenfreada ao turismo na quadra festiva desencadearam uma segunda onda da epidemia de que estamos todos a sofrer as consequências. Mais uma vez ficou provado que políticos não podem dirigir o combate a epidemias”.

Hélder revela que a Comissão Técnico Cientifica recomendou ao Governo a reabertura de ginásios, piscinas públicas ao ar livre. Aliás, na opinião do especialista em saúde pública, estes nunca deviam ter sido proibidos, uma vez que são locais onde os cidadãos praticam exercícios físicos e apanham sol, por sinal dois factores essências para a saúde.

“O Decreto 110/2020, de 18 de Dezembro foi o ponto alto do desrespeito pela Comissão. No seu Artigo 15 reabre casinos (alínea c) do no 2), bares e barracas de venda de bebidas alcoólicas (alínea f) do no 2), o que nunca podia ter merecido o acordo da Comissão se esta tivesse sido ouvida. É verdade que a Comissão recomendou a abertura de ginásios (que são locais de prática de exercício físico tão necessário à Saúde), de piscinas públicas ao ar livre e de praias (que são locais onde as populações podem apanhar Sol tão necessário ao combate à COVID-19), que nunca deviam ter sido proibidos, mas a Comissão nunca podia propor a reabertura de casinos, bares e barracas de venda de bebidas alcoólicas. Nessa altura aproximava-se a quadra festiva e essa reabertura de casinos, bares e barracas de venda de bebidas alcoólicas foi o sinal errado dado à população e sobretudo à elite moçambicana, de que devia pôr fim às medidas de prevenção”, dispara Martins

 O Especialista em saúde pública critica ainda o descalabro do recolher obrigatório todos os dias a partir das 21 horas, na área metropolitana de Maputo. “Uma medida deste tipo tem muitas implicações logísticas e exige uma fiscalização educativa, dum tipo que a nossa Polícia não está preparada para fazer. Não posso ser tomado como cúmplice desta medida tão desacertada,” atira Hélder Martins.

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