“Um completo martírio”. É assim como automobilistas descrevem as suas viagens pelas avenidas e ruelas que serpenteiam a capital da província de Maputo, a cidade da Matola, que aos poucos vai sendo escangalhada pelo tempo, perante o olhar inerte de quem jurou tudo fazer para materializar o sonho da “Matola que queremos”.
Na verdade, os munícipes da Matola compraram esse discurso, sem saber que logo depois seriam apunhalados pelas costas e que, afinal, a “Matola que queremos” seria uma Matola esburacada, inundada, intransitável e que cheira a lixo.
Durante a sua campanha para as últimas eleições autárquicas, Calisto Cossa vendeu a ideia de que tinha um plano para acabar com as inundações urbanas nesta urbe e que continuaria a envidar esforços para o melhoramento da rede viária. Prometeu construir uma vala de drenagem que seria uma espécie de espinha dorsal para o escoamento de todas as águas pluviais, aliviando, assim, os bairros do sofrimento sempre que chove. O mandato vai já a meio e nem uma pedra foi movida.
Hoje, os munícipes deste ponto do país sentem-se traídos, por terem chancelado mais um mandato a um governo municipal sem ideias e que se mostra incapaz de oferecer soluções aos problemas que se multiplicam a cada dia.
Mas, a indignação e decepção não é só dos munícipes. É também de quem visita ou escala a Matola de passagem, pois, por mais que se tente esconder, quando uma casa está suja e desarrumada, a poeira, a má estética e o cheiro sempre denunciam.
É, pelo menos, esta a impressão com que fica quem escala bairros como Nkobe, Liberdade, Matola Gare, Machava 15, Bunhiça, Machava-Socimol, Tsalala, T3, Mahlampsene, Muhalaze, e certos pontos da zona cimento, por esses dias de chuva. A Matola transborda falta de cuidados e carrega profundas marcas do desleixo das autoridades.
Tornou-se uma tarefa dos deuses fazer meio quilómetro de carro pelas estradas daquela urbe, de tão esburacadas e peladas como ficaram as vias que interligam os bairros onde vive o cidadão comum. A Av. Josina Machel, sobretudo no troço da Mafureira, ou mesmo na Zona de 15, está num estado que só não envergonha aquele que perdeu sensibilidade.
Em outras andanças onde a vergonha ainda impera, dirigentes se demitem quando vêem que não são capazes de dar mais nada ao povo que juraram servir. Muitos colocam o lugar à disposição para permitir que pessoas com ideias frescas possam remar e levar o barco a bom porto.
Mas cá entre nós a crítica serve apenas para acordar dorminhocos ávidos de simularem trabalho para, logo depois, voltarem a “curtir” a sua soneca. Foi o que se viu esta semana, quando, o desaparecido e, todo raro, presidente da Matola, Calisto Cossa decidiu voltar à ribalta preocupado em tapar buracos debaixo da chuva, como que a reclamar protagonismo depois do leite (do senhor) derramado.
Foi vergonhoso ver senhores grandes mobilizados por uma chuva miúda para tentarem desmentir sua própria inoperância. Quanto a nós, o Edil da Matola, devia ter continuado relaxado e a chafurdar na lama da sua arrogância, mandando “passear” cada um dos munícipes, que diariamente contribui para que o executivo municipal possa prover soluções.
Acorda Calisto Cossa! Não se governa com recados em jornais, não se governa com conferências de imprensa, muito menos com obras simuladas, ou entrega de equipamentos para irem tapar fugas de água. A governação tem que ser planificada, as acções não podem ser esporádicas e deve haver sempre compromisso com o povo.
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