Comité Central: Fugir até quando?

EDITORIAL

Neste momento em que a credibilidade da Comissão Política da Frelimo está em causa, é menos difícil separar o adiamento do Comité Central da vontade de Filipe Nyusi, que acreditar que de facto, seu adiamento está relacionado aos elevados números dos casos da Covid 19; ou por outra, em respeito ao decreto presidencial, cuja possibilidade de se ter feito com objectivo inconfesso de influenciar para a não realização do Comité Central não se exclui.

Afinal, desde quando a Frelimo é tão certa a ponto de respeitar Decretos com tanto rigor, quando se conhece órgãos que em nome de bem maior se viram obrigados a aglomerar pessoas num número próximo dos membros que compõe o CC. Referimo-nos à Assembleia da República, um órgão de 250 membros, que na sua decisão competente, modernizou-se para se ajustar às novas vivências impostas pela Covid-19, colocando 180 deputados e convidados na sala de sessões para debates directos, enquanto outros socorrem-se das facilidades que as tecnologias de informação e comunicação oferecem. Ora, o CC tem 180 membros efectivos.

A Frelimo já violou a Constituição da República, a lei mãe, no caso das Dívidas Ocultas; já violou leis e leis eleitorais, já violou Decretos voltadas à contenção da propagação da Covid-19, em festas promovidas pelos seus membros, é de se duvidar que seria o actual Decreto, que aceita excepções, a inviabilizar uma reunião tão importante, como Comité Central.

Não estamos a instigar a promoção da Covid-19, mas a convidar a Frelimo a rever suas decisões já que perece ter descartado qualquer possibilidade de imitar, ou mesmo levar a sério o discurso presidencial que insta os moçambicanos a reinventar-se perante esta nova realidade que somos todos desafiados a aceitar.

A reunião deste órgão deixou de ser somente interesse da Frelimo, passou a ser interesse de todos moçambicanos, na medida em que há respostas de assuntos candentes que neste órgão terão as devidas respostas, que o partido e seu Presidente não conseguem dar.

São as omnipresentes dívidas ocultas, aliadas ao escândalo dos comprovativos de recebimentos de dinheiro da Privinvest, o caso Samora Machel Júnior e mais tarde a suposta “guerra” entre as alas Guebuza e Nyusi, apontadas como sendo assuntos que Filipe Nyusi e seus sequazes devem dar os devidos comentários. Neste momento, nem o partido, nem o próprio Presidente do Partido, Filipe Nyusi, reagiu estes assuntos.

Um outro tema temido por Nyusi tem a haver mesmo com a sua sucessão. Mas é um assunto que já foi lançado pelo próprio partido, na pessoa do secretário-geral. No entanto, Roque Silva, que se limitou a falar do perfil do sucessor de Nyusi, em princípios do mês em curso, assegurou que o partido no poder vai indicar um candidato presidencial à altura das expectativas da população para suceder o actual chefe de Estado.

Empurrar esses debates para frente é um sinal claro de que o Presidente da Frelimo não tem respostas para esses assuntos e não quer ser antecipado na escolha do seu sucessor, cujos nomes já circulam nos corredores do partido e nas próximas edições prometemos trazer aqui. É certo dizer que este adiamento não reflecte a vontade da Frelimo, mas sim a de quem controla a Frelimo, o que reduz a credibilidade do órgão como a Comissão Política.

Na Covid-19 é possível encontrar, sim, um argumento plausível para o adiamento do CC, mas existem também argumentos favoráveis à realização da reunião, mas quem tem domínio agarra-se ao que lhe é favorável. É só escolher.

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