Uma Lula fora do Bolso?

OPINIÃO

Por: Luca Bussotti

A lula é um animal resistente, um cefalópode que pode enganar, se comparado com as suas aparências. Ela possui uma casca externa dura, apresentando-se externamente macio,mas com uma casca interna mais dura. E tem mais: é exclusivamente carnívoro, sinal de agressividade e espírito de competição. Tem elevada capacidade mimetizante, oito braços e dois tentáculos, competindo com os peixes quanto à sua habilidade de natação.

Em suma, trata-se de um animal que sabe adaptar-se a qualquer desafio, sabe esperar e, na altura certa, vai rápido à procura da sua presa.

Ignacio Lula da Silva partilha muitas das características do seu animal homónimo. Não tem dúvidas que, na arena política, sempre usou uma retórica agressiva, até populista, que soube esperar, depois de várias derrotas, para vencer por duas vezes as eleições presidenciais no Brasil, assim como aguardou para que viessem tempos melhores, quando o juiz Moro, do foro de Curitiba, em 2014 iniciou a operação Lava-jato, que viu Lula como um dos principais arguidos, em ligação com vários políticos, empresários e, sobretudo, Petrobras, com sede em Curitiba, e Odebrecht, com sede em Salvador da Bahia. Lula foi condenado, em 2017, a 9 anos e 6 meses de prisão, de facto retirando-lhe qualquer possibilidade de retorno à vida pública.

É importante frisar que o foro de Curitiba, no Estado do Paraná, tratou deste enorme processo de corrupção em razão da sede legal de uma das empresas mais envolvidas neste escândalo, a Petrobras. E foi este o elemento legal que induziu o juiz do Supremo Federal, Fachin, a anular a condenação de Lula, remetendo o caso à sede na sua opinião competente, Brasília. Isso deveu-se ao facto de o Lava-Jato ter assumido uma relevância nacional, e portantoCuritiba não devia ter feito o julgamento do caso, por falta de competência.

Esta última decisão remeteu Lula, o resistente, a voltar à arena política. Um novo impedimento seria possível apenas no caso em que Lula seja condenado em segunda instância pelo Tribunal Federal de Brasília, coisa praticamente impossível, em consideração dos tempos da justiça brasileira e do facto de as eleições presidenciais estarem previstas para 2022.

O quadro político, portanto, mudou repentinamente, com o retorno de Lula. O Presidente Bolsonaro, que tinha colocado a sua Lula pessoal no bolso, está a ver esta ou este Lula em liberdade, com tentáculos que provavelmente irão lhe comer (do ponto de vista político).

As sondagens que já começaram a circular indicam em Lula o provável vencedor, mas só na segunda volta das presidenciais, contra Bolsonaro. Não tem dúvidas de que Bolsonaro está, neste momento, em dificuldade. A gestão trágica da pandemia, com quase 300.00 mortos até hoje e nenhuma medida séria assumida, com o corte inexplicável do auxílioemergencial para as famílias mais pobres e pouquíssimas realizações feitas, não deve descurar que o actual Presidente ainda goza de um consenso popular considerável. Tal consenso popular irá subir com a descida na arena política de Lula, polarizando o voto dos brasileiros. Mesmo assim, a figura política de Lula, sobretudo agora que a administração americana de Trump, muito próxima à governação de Bolsonaro, mudou, vai conseguir aglutinar vários aliados, apesar de o seu partido, o PT, ter havido desempenhos péssimos nas últimas eleições autárquicas.

Em suma, é provável que os tentáculos do carnívoro Lula possam comer os pedaços políticos do Bolsonaro, mas o caminho ainda é longo e outras surpresas poderão vir. É só ficar a ver quem é que saberá nadar melhor nestas águas difíceis desses tempos de pandemia.

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