Por: Teodósio Camilo
A Teoria de Finanças Comportamentais (TFC) surgiu na década de 80, em resposta às falhas emergentes dos principais modelos económicos que explicam anomalias nos mercados financeiros. A TFC explica que o comportamento financeiro, preconceitos, crenças e preferências não-padronizados determinam o procedimento irracional entre agentes influência nas escolhas incorrectas de activos e gestão dos seus fundos. O sociólogo francês Le Bom (1896) descreveu o impacto do mercado no processo de tomada de decisão de um indivíduo e apresentou as seguintes categorias: a primeira categoria inclui soluções acidentais e instantâneas; e a segunda integra soluções regulamentadas por lei apoiadas pela opinião pública, com a reputação de outras pessoas acima das próprias preocupações (De Castro et. al., 2018).
As decisões irracionais são influenciadas pela ilusão de controlo, ou seja, os indivíduos superestimam ou subestimam suas capacidades de controlar eventos, motivo pelo qual alguns indivíduos são hábeis em assumir um nível de risco mais alto, outros não. A Teoria de Finanças Comportamentais promove o entendimento do comportamento financeiro, incorpora aspectos da natureza humana em modelos financeiros e económicos. O Paradigma Financeiro Racional (PFR) baseia-se na noção de que os consumidores agem racionalmente e consideram todas as informações disponíveis no processo de tomada de decisão. O interesse em buscar benefícios pessoais do ser humano racional ou interessado é incentivado a atender a estas necessidades sociais. Esta teoria conduz-nos a compreensão de uma outra área, sendo a Psicologia Monetária área importante na Educação Financeira.
Assim, determinadas características psicológicas como aversão ao risco, arrependimento, excesso de confiança desempenham impactam a gestão financeira de uma família, as atitudes positivas podem levar a melhorias na tomada de decisões financeiras e no crescimento da riqueza de uma família. Infelizmente, a Educação Financeira neste segmento da população é lenta, uma pequena percentagem de famílias tem conhecimento capaz de efectivamente usar as informações financeiras disponíveis. Algumas fracções da população que têm dificuldades financeiras a curto e a longo prazo, consideram impossível garantir a sua segurança financeira a longo prazo devido aos aspectos psicológicos. Pode-se afirmar que o seu comportamento financeiro é apenas parcialmente racional, pois, nem sempre escolhem a melhor decisão financeira em termos de incerteza e risco (Jureviciene, 2013 & DE Castro, et al., 2018).
As finanças comportamentais têm um impacto positivo nas atitudes de poupança individuais e estão directamente relacionadas com a Educação Financeira do indivíduo. Nesta óptica, não se trata apenas de elevar a alfabetização financeira, mas também melhorar comportamento financeiro das pessoas. As pessoas tomam decisões erradas por não terem conhecimento ou informações adequadas sobre produtos e serviços financeiros, assim sendo, a Educação Financeira afecta o comportamento financeiro a curto e longo prazos de diversas pessoas, em particular, os segmentos excluídos ou mal servidos financeiramente (Wagner, 2015).
Acesso às Fontes Financeiras
FMI (2018) indica que cerca de um terço da população moçambicana não é coberta por qualquer provedor de serviços financeiros, observa-se sobreposição substancial no tipo de clientes-alvo dos bancos e de outros provedores, incluindo microfinanças. O desenho e implementação de políticas inclusivas pode reduzir os problemas da falta de acesso às fontes de financiamento e baixo nível de educação financeira, estima-se que em Moçambique, apenas 42 por cento da população rural usa produtos bancários em comparação com 73 por cento da população urbana (FMI, 2018).
A indisponibilidade de um conjunto de infra-estruturas económicas básicas, como vias de acesso melhoradas e saneamento básico, electricidade e serviços de telecomunicações de boa qualidade em alguns locais com potencial económico, em principalmente nas áreas rurais, constituem grande obstáculos à expansão da oferta dos produtos e serviços financeiros. O custo de lidar com transacções de pequenos montantes em locais com pouca actividade económica e menor densidade populacional é bastante elevado e torna inviável a instalação de agências bancárias tradicionais em alguns locais, por conseguinte, regista-se fragilidade na Inclusão Financeira no país (BM, 2013).
Como forma de reduzir a exclusão de segmentos de baixa renda das comunidades rurais, o uso das microfinanças e cooperativas de crédito têm desempenhado papel importante, embora seja caracterizada por altas taxas de juro, tornado o crédito caro, insuportável e insustentável. O mutuário chega a não ganhar quase nada no seu negócio, senão pagar as prestações acordadas durante o período de vigência da letra, caso contrário, perde os seus activos a favor da instituição bancária ou micro finança. Nesta linha de pensamento, antes de se endividar, é de extrema importância que o consumidor procure ter a educação financeira básica para melhor gerir os seus recursos de forma sustentável.
TICs e Inovação Financeira
A inovação financeira é notória, através do advento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) e a expansão da rede de telefonia móvel criam oportunidades do funcionamento de instituições de moeda electrónica, Mobile Money e fintech. Porém, as fintechs, que serão analisadas de forma profunda nas próximas edições, são mais predominantes nos países desenvolvidos e nos com economia emergente, enquanto as microfinanças e mobile money são predominantemente usados nos países em desenvolvimento. Assim, os bancos comerciais investem em produtos e serviços especializados a clientes de renda alta, serviços de gestão de investimentos, empréstimos às empresas públicas e privadas, os serviços do Mobile Money e microfinanças são escaladas aos segmentos da renda baixa no país, cobrem cerca de 70% da população residente nas comunidades rurais ((Taha, 2012; Colce, 2017; ENIF 2016-2022).
De acordo com Banco Mundial (2018), esta tendência pode favorecer os segmentos financeiramente incluídos, a titularidade de contas bancárias é o produto mais comum. Em média, 46 por cento dos residentes nas zonas urbanas actualmente têm uma conta bancária quando comparado aos 19 por cento das zonas rurais. O uso de serviços de transferência de crédito, tanto a nível dos provedores formais assim como dos informais e os produtos de seguros não é muito comum. Produtos mais sofisticados de poupança tal como investimentos na bolsa ou pensões do sector privado não são usados.
As barreiras extraordinárias aos titulares de contas são a falta de dinheiro, observa-se a indisponibilidade e a deficiência de conhecimento sobre produtos e serviços financeiros na maior parte da população das zonas suburbanas e uma fasquia nas urbanas. Um entre cinco pessoas com conta bancária que vive nas zonas rurais reporta não ter tido acesso ao crédito por ser do segmento de alto risco. Apesar de este número ser mais reduzido, no caso das populações urbanas, continua a ser a segunda razão mais importante para não se ter uma conta bancária e acesso ao financiamento. As constatações do Inquérito sugerem ainda que a falta de confiança e não conhecimento dos produtos financeiros dificulta a 19 a 26 por cento dos usuários nas zonas urbanas e rurais em Moçambique (Banco Mundial, 2018).
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