Conheça Victor Mayamba: O treinador que fez da formação trampolim para chegar aos seniores

DESPORTO

Depois de ganhar quase tudo no Clube dos Desportos da Costa do Sol na condição de adjunto, Victor Mayamba decidiu seguir uma carreira a solo, ou seja, desempenhar a função de treinador principal pela segunda vez no Campeonato Nacional de Futebol, vulgarmente conhecido por Moçambola. Nas quatro jornadas disputadas antes da interrupção do certame, conquistou nove em doze pontos possíveis, tendo dado um passo para a manutenção que é o principal objectivo do único representante da Província de Inhambane na fina-flor do futebol moçambicano, a Associação Desportiva de Vilankulo (ADV), ex ENH. O jovem técnico faz parte da nova geração dos treinadores em Moçambique e sonha em algum dia trabalhar ou estagiar no estrangeiro.

Texto: Duarte Sitoe

Não restam dúvidas que Victor Mayamba é uma das grandes esperanças de Moçambique no que à nova geração de treinadores diz respeito. O actual técnico da ADV é profundo conhecedor do futebol moçambicano, uma vez que teve um longo percurso nas camadas de formação nos clubes da Cidade de Maputo, antes de chegar aos seniores.

Em entrevista ao Evidências, Vitó, como é carinhosamente tratado nos meandros desportivos, confessou que ainda na mocidade teve um dos golpes mais duros da vida. “Perdi o meu progenitor e ainda hoje guardo sequelas desta perda. É no futebol onde procuro refugiar-me da falta que sinto do meu falecido pai que perdeu a vida em Niassa, quando eu tinha apenas um ano de vida. Até hoje tento localizar os familiares do meu progenitor”.

A infância do menino Vitor foi passada no bairro do Chamanculo, um dos históricos da Cidade de Maputo. Mayamba esteve na responsabilidade dos seus avós maternos.

Sem rodeios, o actual treinador da ENH de Vilankulo declara que desde a tenra idade sempre foi inteligente e apaixonado pelo futebol. Os avós não olhavam para o futebol como prioridade, razão pela qual vinha em segundo plano, depois dos estudos que lhe eram religiosamente impostos.

“Em casa dos meus avôs os estudos vinham em primeiro plano e o futebol era secundário. Primeiro ia à escola e depois é que ia treinar. Fiz o ensino primário na escola 25 de Junho. Depois do ensino secundário na Escola Estrela Vermelha passei para Escola Industrial 1º de Maio, onde me especializei na área de construção civil. Fiz igualmente formação profissional metalomecânica, onde fiz contabilidade e gestão”.

Antes de abraçar a carreira de treinador, Victor tentou a sorte dentro dos relvados, mas terminou no escalão que antecede os seniores, ou seja, nos juniores do Mahafil, clube do bairro onde passou maior parte da sua infância.

“Vivia em frente ao campo do Grupo Desportivo de Mahafil, por sinal onde iniciei a minha carreira. Primeiro como jogador de futebol e foi mesmo na mocidade, quando jogava juniores deste clube histórico, que fui desafiado a pendurar as botas para assumir o papel de treinador de infantis no longínquo ano de 1996”, lembra Vitó, destacando que não se arrepende de ter assumido o desafio.

Um brilho na formação que lhe valeu altos voos nos seniores

Victor Mayamba cumpriu com os mandamentos dos seus avós. Deu primazia aos estudos e foi premiado com um diploma do técnico de construção civil e contabilidade e gestão.

Depois disso, aventurou-se na formação desportiva, tendo o nível “A” da CAF desde 2015, mas para conseguir este prestigiado diploma da Confederação Africana de Futebol Vitó teve que abdicar de várias coisas.

“Para tirar o curso de nível “A” da CAF, em 2015, tive que rescindir o contrato que me ligava ao Clube dos Desportos de Maxaquene”, revelou o técnico.

No seu percurso como treinador das camadas de formação, Victor iniciou-se no Grupo Desportivo Mahafil, tendo mais tarde passado pelo Desportivo de Alto-Maé, antes de orientar emblemas como a Liga Desportiva de Maputo, Académica, Costa do Sol e Ferroviário de Maputo.

Como timoneiro dos juniores dos locomotivas de Maputo, Mayamba teve a façanha de se sagrar campeão nacional. O brilho na formação não passou despercebido aos olhos dos clubes que evoluíam no Moçambola e Victor Mayamba foi pescado pelo Vilankulo Futebol Clube.

“Em Outubro de 2011 assinei o meu primeiro contrato profissional com o Vilankulo Futebol Clube para assumir o papel de treinador adjunto, depois passei para o Matchedje de Maputo e para o Maxaquene como adjunto”.

No meio deste percurso, o actual treinador da ADV aventurou-se no futebol feminino, tendo conquistado alguns títulos a nível da Cidade de Maputo. Depois de desempenhar a função no Vilankulo e nos tricolores, foi treinador do Desportivo de Niassa.

Como adjunto, Victor Mayamba logrou o feito de ser campeão nacional em dois clubes diferentes, ou seja, Costa do Sol e União Desportiva de Songo (UDS). Depois destas conquistas Mayamba decidiu seguir a carreira como treinador principal e na presente época pretende alcançar uma manutenção tranquila.

“Na UDS fui campeão em 2017, tendo repetido o feito 2019 ao serviço do Costa do Sol. Na ADV, primeiro fui adjunto e agora sou técnico principal. O objectivo para a época em curso passa por potenciar e capacitar os jogadores para alcançarmos uma manutenção tranquila, projectando as próximas épocas onde o clube terá que se assumir como candidato ao título”.

“No futebol não se vive apenas de bons momentos”

Víctor é um treinador com provas dadas no panorama desportivo nacional. Sendo o futebol uma modalidade caracterizada por altos e baixos, guarda nostalgicamente dois momentos marcantes na sua carreira. Um foi ao serviço da União Desportiva e outro foi na primeira e única aparição do Desportivo de Niassa na fina-flor do futebol nacional.

“Em 2017, a UDS jogava a última cartada de acesso à fase de grupos da Taça Nelson Mandela. Neste dia fiquei alguns minutos trancado na casa de banho e de joelhos a rezar durante o intervalo e no final do jogo conseguimos o apuramento no deserto do Sudão, foi um momento que para sempre vou guardar na minha carreira. Contudo, no futebol não só vivi momentos bons, um dos momentos negativos e desafiadores foi a minha primeira experiência vivida em Lichinga, onde vivi seis meses numa igreja e sem salário”, recorda.

Na quarta jornada, por sinal a que antecedeu a interrupção do Campeonato Nacional de Futebol, Victor Mayamba voltou a uma casa onde foi feliz e venceu aquele que em 2019 era o seu mestre. Convidado a tecer comentários sobre o triunfo na casa do campeão nacional, o técnico desvalorizou o facto de só se destacar a vitória da turma de Inhambane frente aos canarinhos.

“Coloca – se em destaque o facto de termos vencido o Costa do sol que é o campeão em título, mas nós vencemos também o Textáfrica, que é o primeiro campeão nacional e o Ferroviário de Nacala que já foi vencedor da extinta taça BNI. Não houve um segredo especial, pois trabalhamos como termos trabalhado para defrontar os 13 adversários no Moçambola, com a mesma humildade que nos caracteriza, até então fazemos uma avaliação positiva, pois ganhamos 75% dos jogos e isso é fruto de muito trabalho, dedicação e união do grupo. Tenho uma equipa de jovens com uma excelente margem de progressão, que só precisam de darem o máximo de si, que os resultados irão sempre aparecer com naturalidade”.

“Um treinador ama o próximo”

Para um treinador que passou um longo período na formação chegar aos seniores na qualidade de treinador principal é a cereja no topo do bolo, mas apesar de ter conseguido esse feito com suor, sacrifício e paciência, Mayamba ainda tem sonhos e objectivos.

“Trabalhar para estar entre os melhores formadores e treinadores do país, quiçá trabalhar além fronteiras e conseguir um estágio na Holanda ou Portugal onde tem grandes Treinadores e escolas de futebol”, disse o treinador que define-se como uma pessoa que procura sempre ajudar o próximo.

“Sou um simples doador voluntário como forma de ajudar o próximo. Gosto de aderir a campanhas de doação de sangue e faço com gosto, perdi há 5 anos um amigo que precisava de transfusão de sangue e isso mexeu comigo e passei a doar de forma voluntária”.

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