Nyusi ataca “grupos” e limita debate sobre “assuntos descontextualizados”

DESTAQUE POLÍTICA

Ciente de que está fragilizado e acossado pelos fantasmas de um debate à cesariana sobre a sucessão, o Presidente da  Frelimo, Filipe Nyusi dedicou parte considerável do seu discurso de abertura da V sessão ordinária do Comité Central da Frelimo  a mandar recados para os seus detractores de dentro e de fora. Reconheceu que o partido está dividido em grupos e que algumas alas foram àquela reunião mais importante entre os Congressos com interesse em ver debatidos outros assuntos.

Depois de responder à corrente de opinião que alegava que os sucessivos adiamentos do Comité Central tinham a ver com um certo receio da direcção máxima do partido em agendar a reunião por medo de oposição interna, Filipe Nyusi recorreu à parábolas para iniciar o seu grande recado para os de dentro.

“Camaradas membros do Comité Central. É nas grandes tempestades que imergem os melhores marinheiros, que imergem os melhores líderes”, começou por dizer Filipe Nyusi, para depois rematar “os membros deste Comité Central representam essa classe de liderança”.

E porque a experiência mostra que no calor dos debates, alguns membros acabam questionando a liderança do partido e forçarem a abertura de debate sobre temas fora da agenda, Filipe Nyusi tratou de mandar um repto.

“O debate que teremos neste dois dias só terá repercussão sobre a vida do nosso partido e do País, desde o momento que estiver focado nas mais prementes aspirações do povo moçambicano, não no tratamento de assuntos de grupos, descontextualizados do nosso foco comum”,

Nyusi quer um debate encorajador, mobilizar e de ideias accionáveis e plenamente exequíveis, mas também que seja aberto, franco, honesto e justo na abordagem das matérias agendas e que os camaradas saiam mais unidos e coesos.

Refira-se que entre o rol das matérias agendadas consta apenas a análise da situação de segurança no norte e centro do país, o programa do partido para o ano 2021 e o balanço das eleições gerais, legislativas e das assembleias provinciais.

Mesmo assim, tal como avançou o Evidências, já há movimentos tendentes a forçar o debate, ainda que à cesariana, em torno da sucessão, numa altura em que o actual Presidente do partido, Filipe Nyusi está politicamente fragilizado por causa da incapacidade em lidar com a situação do terrorismo em Cabo Delgado e dos ataques na zona Centro do país, agarrando-se tão-somente em projectos de desenvolvimento sobretudo no sector da agricultura.

O Evidências já havia alertado que a ala Nyusi preparou uma estratégia para expurgar os membros que representam potencial ameaça e evitar que assuntos fora da agenda sejam chamados à colação.

Como tal, a sessão não conta com a participação de convidados, nem mesmo antigos membros da Comissão Política e do secretariado, o que é visto em outros corredores como uma forma de limitar a base de apoio de opositores internos. Armando Guebuza, na qualidade de presidente honorário é o único convidado presente no evento.

Ademais, nas últimas semanas, as brigadas centrais despachadas para as províncias tinham uma missão clara de apaziguar os ânimos dentro do partido para evitar “barulho” no CC. O mesmo repto dominou as reuniões da OJM, OMM e ACLLN que tiveram lugar ao longo desta semana.

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