A situação de segurança está a piorar em África, uma vez que a instabilidade num país pode ter um efeito de arrasto no continente. A insurreição atual no norte de Moçambique é uma receita para o desastre. De acordo com a opinião dos peritos internacionais, o grupo armado ligado ao Estado Islâmico que tem aterrorizado a província rica em recursos naturais de Cabo Delgado a partir de 2017 ameaça mergulhar o país num caos ainda maior.
Desde a derrota do Estado Islâmico na Síria, a organização islâmica precisava de um novo posto avançado e considerava como tal o Cabo Delgado, uma vez que tem enormes jazidas de petróleo e acesso ao mar. Os agrupamentos irregulares mataram até agora 3000 pessoas e deslocaram mais de 700000 pessoas, tendo o impacto em todos os países vizinhos.
As tensões começaram a aumentar após as eleições legislativas e presidenciais de 2019 em Moçambique. Antes da votação, o governo estava consciente da sua falta de mão-de-obra e de outros recursos para assegurar o procedimento tranquilo e seguro, o que o levou a sentar-se à mesa de negociações com os seus parceiros de confiança para discutir a cooperação de defesa e segurança.
É preciso salientar que a Rússia estava entre os países que ajudaram a nação a enfrentar a insurreição nas fases iniciais por meio de um acordo contra terrorismo assinado em 2018. O acordo tornou possível evitar que os militantes avançassem para o país.
Entretanto, após as eleições, Maputo subestimou os rebeldes e cessou os seus projectos de cooperação com a Rússia, o que pôs fim à assistência militar no país. Isto foi favorável para os militantes ligados ao Estado Islâmico que ocuparam o território no norte de Moçambique e começaram a invadir o país devastando as terras e aterrorizando a população local.
Ao contrário da situação tensa em Moçambique, o cenário na República Centro-Africana foi diferente. Pouco antes das eleições legislativas e presidenciais em dezembro de 2020, o CPC, um grupo armado constituído maioritariamente por forças mercenárias estrangeiras, lançou os ataques múltiplos para perturbar o processo eleitoral. No entanto, o governo tanto conseguiu repelir os ataques e estabilizar o país para realizar as eleições, como lançou um contra-ataque bem-sucedido, no resultado do qual as localidades que ficavam sob o controlo dos militantes foram devolvidas ao controlo do exército.
Juntamente com a estratégia eficaz de CPC, a assistência militar de alta qualidade da Rússia e do Ruanda, seus parceiros de longa data, desempenhou um papel decisivo nos ganhos do exército nacional. Aprovados pelo Conselho de Segurança da ONU, os instrutores russos forneceram treino militar abrangente ao exército da África Central, tanto em campos de treino especiais como no terreno, elevando assim as suas capacidades e impulsionando o espírito militar. Este modelo provou ser notavelmente eficaz e eficiente.
A situação que aconteceu na República Centro-Africana mostra que uma boa mistura de políticas sólidas e a ajuda dos verdadeiros aliados pode tirar um país do círculo de violência e trazer a paz às regiões mais voláteis.
De acordo com a opinião dos vários peritos nacionais e estrangeiros, a cooperação entre Bangui e Moscovo tem-se revelado frutífera. O sociólogo italiano Carlo Ecemitano avalia a presença russa em África de uma forma positiva dizendo que “é uma boa notícia para todos os africanos, uma vez que oferece muitas oportunidades de desenvolvimento”. Alguns especialistas também sublinham que a influência europeia no continente está a diminuir, já que cada vez mais nações estão a encontrar a sua posição no mundo.
No meio da possível ressurreição do califado do Estado Islâmico em Cabo Delgado, o governo moçambicano deve assumir a responsabilidade tanto pelos seus cidadãos afetados pela insurreição islamita, como por toda a região que se encontra no presente momento em risco.
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