Não nos dá orgulho ser uma fonte que traz os detalhes que ilustram com fidelidade o nosso desnorte como país. O facto é que as notícias boas são escassas, seriam aqui notícias boas aquelas que tiveram uma resposta à altura dos desafios colectivos como nação. Num momento em que as más práticas vão se institucionalizando a todos os níveis, atentando contra o consenso assumido de desenvolver um país como um projecto comum.
Dentre as várias situações que indiciam cumplicidade na institucionalização de corrupção, vazio ético, entre outras condutas que mancham o compromisso dos nossos gestores na edificação de uma pátria assente nos valores nobres de justeza, dignidade e transparência, pontifica a cultura de omissão, a falta de prestação de contas, a monopolização do bem colectivo e a descredibilização da verdade ou de quem questiona essa postura, a fim de permitir que se perpetue o estado actual das coisas, aliás, o cargo de gestor.
Das mentiras em torno da gestão das dívidas ocultas, da omissão da verdade sobre Cabo Delgado, da indiferença às sucessivas denúncias de desvios de fundos destinados a projecto até humanitários, entre outras respostas a acontecimentos que deveriam ter merecido uma resposta melhor por parte de gestores públicos, há algumas ilações a serem retidas, e a principal é de que estamos perante gestores cúmplices.
Os desafios não podem ser adiados. As respostas às várias intempéries são indicadoras da qualidade de gestores de cada pelouro, que tem as ferramentas para impedir que certas práticas acontecem ou se perpetuem. Seja qual for a estratégia, a omissão e a protecção ou mesmo o orgulho político são péssimos caminhos para quem quer eliminar um problema.
Vem isto a propósito da resposta de Helena Kida, que mostrou hesitação na melhor resposta a tomar sobre o caso de exploração sexual de reclusas na Cadeia Feminina de Ndlavela. Tentou contornar a decisão de suspender a direcção do Cadeia Feminina, investindo na omissão, quando, em conluio com ela, agentes do Serviço Nacional Penitenciário (SERNAP) instruíram as reclusas para que não falassem à imprensa, uma tentativa de negar o problema, mesmo com as evidências que acompanharam as denúncias.
Desdramatizar qualquer que seja o assunto, dentro de gestão pública é no mínimo cumplicidade. A mesma cumplicidade é assistida em vários outros pelouros, quando chega ao público o envolvimento de funcionários públicos em negociatas que não abonam à confiança das instituições do Estado.
No geral, não são os ciclones, as dívidas ocultas, o terrorismo no Norte, os conflitos do Centro, entre outros desafios evocados para legitimar, com bons argumentos, o nosso franco subdesenvolvimento. Mas são as respostas que perpetuam esses desafios.
São também as nossas péssimas escolhas na indicação de gestores, falhamos quando confiamos o poder a mentirosos, que mesmo descobertos não têm remorso e nós, incrédulos, acreditamos que os mesmos podem reconduzir o barco. A primeira reacção às denúncias das dívidas ocultas é o principal indicador de que temos na dianteira da pátria mentirosos, que mesmo não havendo mais argumentos para contornar a verdade, não assumem suas falhas.
O bem aqui é coincidência, porque é feito apenas quando o mesmo converge com a ideia de manutenção do poder. Uma pura falta de um compromisso colectivo que deve orientar todas as decisões de quem está no cargo de direcção, mesmo quando atentam contra o cargo político ou profissional, afinal, o bem é sempre o melhor caminho e não tem preço. E é louvável em todas as línguas.
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