No mês passado, o país celebrou o seu 46º aniversário, desde que foi declarado independente. É um aniversário cheio de significados que devem transcender protagonismo político para lembrar-nos as linhas de convergências que devem, de forma contínua, nos unir como um só povo. Une-nos a vontade de vencer nesta pátria, que em corro, no hino, auguramos construir para o bem desta e das futuras gerações, sem que qualquer “tirano nos escravize”. E é um desejo explicitamente expresso sempre que se fala do Estado, da Pátria e de Moçambique de todos, independentemente do Governo ao qual foi confiada a responsabilidade de gerir os anseios do povo.
Quarenta e seis anos depois, esse vencer é apenas vontade que não encontra um campo fértil para se materializar. Vontade de ver o país independente dos tiranos, rumo à plena realização individual de cada um dos moçambicanos, sem descriminação de qualquer grupo, como se assistiu há dias com os membros da Renamo em Gúrue, quando foram negados hotéis por serem da oposição, uma nódoa que rasga o sentido daquele discurso lido às zero horas de 25 de Junho de 1975, pelo saudoso Samora Machel.
Uma nódoa que mancha a obsessiva busca pela unidade nacional. Afinal, não há independência quando há moçambicanos que se sentem mais moçambicanos que outros. É essa bola de pólvora, que espera só um rastilho, para que se eternizam as guerras que acompanham as quatro décadas desse belo Moçambique. Ontem era Renamo, hoje são os Nhongos e os insurgentes. É a balança a pender para os pontos de divergência, denunciando os tiranos incapazes de apontar um horizonte comum, para o desenvolvimento da Nação e não de grupos e alienados.
Quarenta e seis anos depois, fala-se de um país sem rumo, sem projecto colectivo conhecido. O único instrumento que acolheu as sensibilidades dos seus povos para que se traçasse qualquer rumo que nos conduza com visão de Estado, independente de temperamentos partidários, que oscilam a cada cinco anos, foi a agenda 2025, mas este está engavetado sei lá em que armário da Presidência da República. Seus autores, alguns membros do governo, apagaram da memória a sua existência. E quando se falam dos my love, de mais buracos do que estradas nos centros urbanos, da desnutrição crónica, das aulas debaixo da árvore… há quem se mostra surpreso, quando há um documento que narra esses desafios que afundam Moçambique no subdesenvolvimento.
Moçambique, “a pátria bela”! É hoje vítima “dos que ousaram a lutar”. Quando passam 46 anos, reivindicam esse direito de luta. São mais moçambicanos do que aqueles que não pegaram em armas. Perpetuam por gerações em negociatas do Estado, dilapidam a pátria, assumindo posturas híbridas: de dia são ministros, cinco anos depois são grandes empresários, graças à barganha desviada do fundo que deveria ter construído estradas, melhorado o ensino e saúde.
Saem do governo sócios de multinacionais com quem foram negociados contratos precários, sócios de bancos comerciais que lucram mil porcento à custa de um povo pobre, e ninguém coloca freio nesses roubos, porque já venderam o país em troca de sociedades… malditos tiranos, quais combatentes que têm os filhos e netos na dianteira de tudo.
Nessa senda da busca obsessiva pelo direito de título de moçambicanos de primeira, quais libertadores de um povo, a ética foi renunciada, as instituições foram vulgarizadas e hoje são geridas como compartimentos caseiros, até nos sectores mais sensíveis escasseia o profissionalismo, já que a confiança política e nepotismo substituíram o profissionalismo. Depois das instituições, os tiranos vulgarizaram o país e mais do que um país com que se fala, somos um país de que se fala mal.
Facebook Comments