Calisto Cossa abandonou munícipes e lixo abunda nos bairros
No próximo ano, Matola completa meio século da sua elevação à categoria de cidade. Entretanto, apesar da idade a edilidade continua com os velhos problemas. Em Fevereiro do ano em curso, propalou que reforçou a capacidade de recolha de resíduos sólidos nos bairros, no entanto, a cobertura destes serviços continua aquém do desejado e muitas famílias, apesar de pagarem mensalmente a taxa de lixo, por via de factura de energia eléctrica, nunca viram um carro ou carrinha de tracção manual a fazer o referido trabalho, acabando por enterrar o lixo nos seus quintais, o que não só faz os munícipes desconhecerem o destino das suas contribuições mensais, como também apontarem o dedo à já questionada gestão de Calisto Cossa.
Apesar de algumas intervenções, estão claros os graves problemas na gestão de lixo em muitos bairros do município da Matola, nomeadamente, a deficiente recolha de resíduos sólidos que faz com que alguns contentores transbordem e se formem montanhas de lixo que permanecem dias sem ser recolhidas. Os munícipes indicam que mesmo pagando mensalmente a taxa de lixo nunca viram a movimentação de carros de recolha de resíduos sólidos.
Como solução, muitas famílias optam por enterrar o lixo nos seus quintais ou jogá-lo em lixeiras improvisadas, colocando muitas vezes em causa a saúde da comunidade.
Gilda Magaia, de 48 anos de idade e residente no bairro Zona Verde, arredores do município da Matola, é um dos rostos da desilusão dos munícipes em relação à edilidade da Matola.
A fonte disse ao Evidências que, depois da campanha eleitoral, que culminou com a reeleição de Calisto Cossa, não tem visto os camiões que naquele período foram mobilizados para recolherem o lixo na sua zona.
“Não sei porque nos cobram todos os meses a taxa do lixo. Desde 2019 que os carros do município não passam desta zona. Quando era tempo das eleições, os tractores passavam todos os dias, mas agora que conseguiram vencer esqueceram-se de nós. É doloroso o que estamos a passar, pagamos taxa de lixo para enterrar o lixo nos nossos quintais. Existe um contentor na rua da escola, mas para nós é muito longe. Se for para continuarmos a sofrer com o nosso lixo melhor não nos cobrarem a taxa de lixo”, disse Magaia, para depois acrescentar que é obrigada a pagar pessoas para retirarem o lixo.
“Somos obrigados a pagar pessoas para tirarem o lixo para o contentor que fica na rua da escola. Mas todos os meses cobram-nos a taxa de lixo. Pedimos a quem de direito para deixar de discursos e resolver os problemas do lixo”, acrescentou a fonte.
Para onde vai a taxa de lixo cobrada pela EDM?
Na primeira factura de pagamento de energia eléctrica de cada mês a empresa Electricidade de Moçambique (EDM), debita aos clientes domésticos, através do sistema de retenção na fonte, 12 meticais da taxa de rádio e 45 meticais da taxa de lixo, mas a utilidade destas taxas é desconhecida.
O dinheiro cobrado até em zonas onde não há condições de recolha de lixo é depois canalizado aos cofres das autarquias para garantir a gestão dos resíduos sólidos.
Durante a sua campanha para as últimas eleições autárquicas, Calisto Cossa prometeu trabalhar afincadamente para resolver os problemas que inquietam os munícipes, contudo, volvido meio mandato, parte dessas promessas ainda não foram materializadas. Sábado Ernesto, residente no bairro Matola C, sente-se, mais uma vez, enganado pela edilidade.
“Os anos passam e o município da Matola continua com os mesmos problemas. As estradas continuam esburacadas e quando chove piora a situação. Pago a taxa de lixo desde que ligaram a energia na minha casa, mas de um tempo para cá as coisas mudaram, ou seja, os camiões circulam apenas nas estradas e já não entram nas ruas para a recolha do lixo. Não conhecemos a razão de continuarmos a pagar a taxa de lixo para ver os camiões a passearem na estrada. No tempo da campanha encheram-nos de promessas falsas e hoje estamos a sofrer com o nosso lixo nos quintais. Pedimos ao senhor Calisto e seus funcionários para a melhorarem a gestão de lixo”.
Para desencorajar os munícipes a não abrirem covas nas ruas para enterrarem lixo, o Conselho Municipal da Cidade da Matola prometeu criar condições para a recolha dos resíduos sólidos duas vezes por semana. No entanto, a edilidade não tem conseguido no grosso dos bairros honrar com o compromisso assumido.
“A taxa de lixo que os municípios cobram é uma autêntica roubalheira legalizada, porque há bairros onde desde que o processo de autorização iniciou, os camiões de lixo nunca entraram. Vivo em Mapandane, mas nunca vimos os carros de recolha do lixo. Como o município não consegue cumprir com o que prometeu, continuaremos a abrir covas na rua para enterrar o lixo.
Quem também acusa a edilidade de dar prioridade a alguns bairros em detrimento dos outros é Anacleta Cossa. Cossa observa que em alguns bairros os carros do município passam frequentemente ao contrário do que acontece em Khongolote.
“Há bairros que são privilegiados. Para quem olhava para bairros como Matola e Liberdade pode pensar que no Município da Matola não há problemas de gestão de lixo. Parece que os outros pagam mais em relação aos outros para serem bem tratados. A minha irmã vive na Matola e nunca reclamou de lixo, mas nós que vivemos em Khongolote até já nos esquecemos que existem carros que se dedicam a recolha do lixo. Pagamos taxas para enterrar o nosso lixo”, sublinha.
Munícipes ameaçam processar a edilidade
Alguns munícipes entrevistados pelo Evidências ameaçaram recorrer aos tribunais para obrigar a edilidade a recolher o lixo. “Pagamos a taxa de lixo e o município não tem outra alternativa a não ser criar condições para o efeito. Prometeram que tínhamos que deixar lixo nas ruas para o carro recolher, mas nada disso está a acontecer. Se isto não melhorar, seremos obrigados a recorrer aos tribunais para que a edilidade faça o seu trabalho”, ameaçou Mauro dos Santos.
Para Santos, o município da Matola deve se reinventar para solucionar os problemas que inquietam os munícipes. Santos considera que, alem do lixo, a edilidade presidida por Calisto Cossa deve também olhar para a gestão dos cemitérios e das vias de acesso.
“Matola anda como se não tivesse dirigente. Algo deve ser feito para melhorar a vida dos munícipes. O problema de lixo não é de hoje. Calisto Cossa está a cometer os mesmos erros que cometeu no primeiro mandato. Deve-se melhorar urgentemente a questão da recolha do lixo. O cidadão não pode pagar a taxa de lixo e continuar com o lixo armazenado no quintal, enquanto aguarda pelo camião que só passa uma vez em cada três meses”.
“Os cemitérios são outros locais que evidenciam os problemas que a edilidade tem na gestão do lixo. Há dias estava no cemitério de Texlom e o capim tinha tapado tudo. É dever do município zelar por aquele espaço e isso não está a acontecer. Os dirigentes devem sair do conforto dos gabinetes para resolver os problemas do povo. Não é esta Matola que Calisto Cossa prometeu-nos durante a campanha”, lamentou.
Município reconhece os problemas na gestão do lixo
Em Maio do ano em curso, o presidente do Conselho Municipal da Cidade da Matola, Calisto Cossa, reconheceu que a edilidade continua sem capacidade para resolver os problemas de lixo, mas de quando em vez tem estado em campanhas de propaganda para ocultar a dimensão do problema.
Contactada no âmbito desta reportagem, a vereadora da Área de Salubridade, Ambiente e Jardins Municipais, Inocência Monjane, declarou que a edilidade tem trabalhado para minimizar os problemas da recolha de lixo nos bairros da cidade de Matola. Na conversa que teve com o Evidências, Monjane declarou que há camiões nos três postos que recolhem frequentemente o lixo.
A fonte disse que há camiões de algumas empresas que, em vez de despejar o lixo nas lixeiras, depositam nos contentores, o que, de certa forma, acaba preenchendo o espaço que seria para os munícipes depositarem o seu lixo.
“As empresas pagam uma certa taxa para depositarem lixo nas lixeiras, mas há camiões que depositam os seus resíduos sólidos nos contentores”, referiu.
Para minimizar o crónico problema de lixo que assola o município da Matola, Monjane afirmou que tem organizado jornadas de limpezas em alguns bairros, tendo lembrado que, recentemente, foi escalado o bairro da Matola-rio. “Fizemos limpeza nas primeiras horas do dia, mas no final do dia já tinha lixo no mesmo local”.
No que aos cemitérios diz respeito, Monjane contrariou a ciência e declarou que “o inverno permite o crescimento do capim”, no entanto, adianta que decorrem no momento trabalhos de limpeza no cemitério de Texlom. Por outro lado, apelou às famílias para fazerem limpezas nas campas dos seus entes queridos.
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