Sucessão de Daviz Simango: Lutero Simango já está em clara pré-campanha

POLÍTICA

Apesar de ainda não ter formalizado a sua candidatura à presidência do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), em substituição do seu irmão, Daviz Simango, falecido em Fevereiro último, Lutero Simango já está em pré-campanha desde princípios de Maio último, altura em que, através de uma página do Facebook, registada em nome da bancada parlamentar por si chefiada na Assembleia da República, começou um movimento de promoção da sua imagem.

Reginaldo Tchambule

Já foram lançadas as bases para que os membros do partido MDM, que preenchem o perfil desenhado, possam avançar com as suas candidaturas à presidência do partido. Até o momento, apenas Silvério Ronguane é que mostrou publicamente intenção de concorrer, mas nos corredores são ventilados nomes como Lutero Simango, Luís Boavida e José Domingos Manuel.

Destes, Lutero Simango, irmão do falecido presidente, é dos poucos que já estão claramente em pré-campanha, com um movimento de promoção de sua imagem, sobretudo pelo facebook, onde, para além de publicação de fotos com certas legendas algo enigmáticas e de promoção pessoal, passou a emitir suas opiniões sobre alguns assuntos que considera relevantes.

De Maio a esta parte, de um total de 27 publicações da página Bancada Parlamentar do MDM – Assembleia da República, 14 falam de Lutero Simango e grande parte deles são reproduções de discursos e pensamentos, mas também abrem o baú das memórias da família para mostrar o berço político de onde vem.

Conhecido por ser uma pessoa de poucas palavras, na semana passada chamou atenção quando recuperou a sua reflexão extemporânea em torno do debate sobre a descentralização administrativa.

“Preocupa-nos o que vai acontecer em termos práticos e concretos depois das eleições de 2024 no concernente a governação descentralizada nas províncias em que os administradores distritais e governadores são eleitos para exercer o poder governativo no mesmo espaço territorial. Sabendo que a acção governativa é exercida na base de território e população, que acção política terá o Governador da Província numa situação em que os Administradores Distritais Eleitos terão o domínio e o controle político administrativo dos distritos que governam com a legitimidade democrática e na letra da governação descentralizada”, lê-se na publicação extraída do seu discurso de enceramento proferido em Maio último.

Entre vários aspectos no seu discurso, Simango fala da necessidade de revisão da Constituição da República para o fortalecimento de princípios Republicanos, de separação de Poderes e respeito pelas liberdades individuais e de associação, respeito pela concorrência no mercado, respeito pela independência do sistema judiciário e tendo o homem como o centro da acção.

“A revisão global da Constituição da República de Moçambique é um imperativo nacional para reinventar o Estado Moçambicano e buscar as sinergias para uma verdadeira Reconciliação Nacional e construção de bases sólidas para uma nação democrática, próspera, coesa e desenvolvida”, defendeu.

Entretanto, Simango nunca assumiu a sua candidatura, mas uma fonte próxima confirmou-nos a sua intenção de concorrer. Recentemente, falando à TV Sucesso, disse que tudo vai depender da vontade das bases do partido e não descartou a possibilidade de avançar.

Refira-se que na reunião do Conselho Nacional do MDM, que teve lugar entre 29 e 30 de Maio último, os membros do partido acabaram saindo divididos, depois de uma tentativa de forçar um perfil feito à imagem de Lutero Simango. É que, segundo a primeira proposta, o candidato devia ser membro fundador e natural da cidade da Beira, o que foi imediatamente contestado.

Um homem controverso

Lutero Simango é irmão mais velho de Daviz Simango e durante muito tempo foi tido como alguém que controlava o partido, dada a génese do partido, que, durante muito tempo, foi confundida com um projecto da família.

Durante muito tempo foi acusado pelos seus correligionários como sendo uma das pessoas responsáveis pelas desavenças no seio do partido, que levaram ao rompimento de muitos membros considerados extremamente fortes no partido, como são os casos de Muhamudo Amurane, Manuel de Araújo, Venâncio Mondlane, Geraldo Carvalho, entre outros.

Consta que Lutero Simango sempre quis impor uma gestão familiar no partido, baseada num protectorado regional, com lideranças a vários níveis apontadas a dedo, o que fez surgir a expressão “regulado”.

Muitos membros, que outrora foram de capital importância para o enraizamento e estabelecimento do MDM, se queixaram de alguma perseguição por parte de Lutero Simango, que, entretanto, sempre manteve a serenidade e a sua célebre frase “não discuto pessoas, mas sim assunto”.

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