Por: Afonso Almeida Brandão
Oescritor António Emílio Leite Couto, mais conhecido por Mia Couto, tem viajado um pouco por todo o lado. A sua última “estadia” ocorreu aquando da sua deslocação a Cabo Verde para participar numa “conversa literária” na Biblioteca Nacional e ser recebido pelo Presidente da República.
Ele adora estas coisas oficiais. Deste reconhecimento protocolar. Basta visitar o “site” dele — em que o próprio diz que “é comparado a Gabriel Garcia Marquez e Guimarães Rosa”. Presunção e água benta, como é sabido, cada qual toma a que quer. E ele toma muito da primeira.
E já que estamos aí, acrescente-se que aquilo que está no “site”, mesmo, é esta frase: «É, comparado a Gabriel Garcia Marquez e Guimarães Rosa”. Assim mesmo, sem tirar nem pôr. Com a vírgula analfabética entre o predicado e o complemento directo. Olha o grande (?) escritor do “pontapé” na Gramática. Mas deixemos as coisas pequenas.
O António Emílio foi à bela cidade da Praia “botar faladura” (pergunto-me quanto terá custado a digressão — esta e tantas outras que tem realizado por esse Mundo fora! — e quem terá pago a factura). E como gosta sempre de se “armar em engraçado”, apesar de nesta ocasião não ter nada na cabecinha para dizer aos seus interlocutores, resolveu inventar uma “tirada forte”. Daquelas que ele deve ter aprendido quando ERA JORNALISTA DA FRELIMO E CHEGOU A SER DIRECTOR DO DIÁRIO «NOTÍCIAS».
Disse o Mia Couto assim: “Estamos no grau zero. Para conhecer o que se passa ou o que se faz em Cabo Verde ou em Angola ou na Guiné-Bissau ou em São Tomé e Príncipe tenho de ir à Europa. Esse triângulo tipicamente colonial continua a existir”.
A tirada tem de ser bem digerida
O figurão referia-se às relações culturais entre os países lusófonos. E quando afirmava que “estamos no grau zero”, devia estar a pensar (exercício muito perigoso que não aconselho a figurões destes) na sua própria visita a Cabo Verde.
O “nosso” Antoninho voltou a premir a tecla, em declarações aos jornalistas, ao protestar contra “a quase inexistência de trocas no domínio da Literatura e o fraco conhecimento em outras áreas” nas relações entre países da CPLP. E o Emílio acrescentou (essa já levava também preparada, como “brinde ao anfitrião”): «Cabo Verde é uma excepção, porque é um grande centro de exportação de música”.
Não é fácil escolher entre todos eles, qual o dislate mais patético. Comecemos pela Geometria.
Ensinava-se dantes na escola primária (e nem as escolas da cidade da Beira, onde nasceu, era excepção) que um triângulo é uma figura geométrica formada por três lados e três ângulos. Agora, contemos os ângulos que o Mia Couto referiu: Cabo Verde, um; Angola, dois; Guiné-Bissau, três; e São Tomé e Príncipe, quatro. Se acrescentarmos a Metrópole Colonial-Fascista semi-explícita, Portugal, temoscinco; e juntando Moçambique, que o Couto por modéstia omitiu, teremos seis. Eis, assim, obtido o único triângulo do universo com seis lados ou seis ângulos. Defeito, por certo, do Fascismo Matemático.
De que “esse triângulo tipicamente colonial continua a existir” já a gente desconfiava. O Mia-Mia acaba de confirmá-lo. O “triângulo tipicamente colonial”, convenhamos, está estampado na “cara pálida” do António Emílio, esse «grande arauto» do independentismo negro (ou africano, como queiram!)
Está nos cabelos castanhos e lisos do Mia, essa espécie de Makua de RioTinto. Nos olhos azuis acinzentados do Couto, mais anti-europeu do que o Samora Machel. E está em mais coisas, em abono da verdade.
Esse horror colonialista está no colar deComendador da Ordem Militar de Sant´Iago da Espadaque Jorge Sampaio entregou ao António Emílio em Novembro de 1998. E está no Prémio Camões que foi atribuído ao Mia Couto em 10 Junho de 2013, Dia de Portugal. No Palácio de Queluz, construído pelos imperialistas com as riquezas sugadas às Colónias (ditas) Ultramarinas. Pelo Presidente Cavaco Silva, esse antigo oficial miliciano das tropas fascistas que ocupavam Moçambique. Sim, “esse triângulo tipicamente colonial” está em tudo isso. Mas a Memória dos Povos, por incrível que pareça, por vezes, “finge” esquecer alguns pormenores…
Mas o intrépido Mia Couto não se fica pela banal denúncia do Colonialismo Cultural Português. Ele, que é mais Makonde do que o Alupekedo Rovuma, maisNsenga e maisPimbwe do que os filhos do Zambeza, mais Shona e Bitongado que a Tatenda, esse intrépido “cara pálida” deixou na Praia a sua mensagem anti-capitalista.
Ao felicitar Cabo Verde pela futura presidência da Comunidade dos Países de Língua Poertuguesa, e ao referir-se ao Projecto oficioso de criar oficalmente um Mercado Único de Cultura oficial lusófona, o Couto “miou” assim: “Isto é muito bom. Faz falta. É preciso que “se roube” a iniciativa que agora está completamente nas mãos do mercado. É preciso que haja qualquer coisa que force um outro critério. Um jovem que não tem venda e que é bom tem de ser apoiado por alguém e esse alguém tem de ser o Estado”.
Claro que o jovem não vende livros, mas é do Partido, tem de receber apoio, Mia. Claro que tem de ser o Estado a apoiá-lo, camarada Mia-Mia. E de preferência o Estado Socialista Marxista-Leninista, amigo Mia-Mia-Mia. Como aquele que o Leite Couto tãoFIELMENTE serviu durante tantos anos. E vice-versa.
Porque é absolutamente necessário acabar de vez com “esse triângulo tipicamente Colonial”. Que não está só nas “caras pálidas”, está em mais coisas. Está, por exemplo, na Editora moçambicana Ndjira, inventada à época, como delegação colonial pelo departamento literário do PCP, mais conhecido pela triste — e já defunta! — Editorial Caminho.
Editora Ndjira de que Fernando Couto, pai do Mia-Mia, foi destacado dirigente — e denunciante feroz de diversos colegas jornalistas portugueses, que haviam escrito há data mal da FRELIMO, nas décadas de 60 e 70, obrigando-os a deixar Moçambique «à pressa para não serem presos», embarcando com destino à África do Sul, Portugal e Brasil.
Editora Ndjira que em 2007 se vendeu ao Grupo Editorial Português LEYA, o grande imperialista das Letras Metropolitanas. Por sinal, o mesmo grupo que colonizou também a Editorial Caminho e é o editor português dos livros do António Emílio Leite Couto. O Mia. Porque uma coisa é o que a gente diz. E outra, o que a gente faz.
Ah!, maldito “triângulo tipicamente colonial”!
Não admira que estejamos “no grau zero”! Raios parta para a Sorte!!!
E assim, de “conversa literária” em “conversa literária”, vai o Mia Couto viajando (sim, que trabalhar é bom para os outros) e bolsando veneno (sim, que a perfídia não tem cor).
Apetece dizer, a concluir: ó António, ó Emílio, ó Leite, ó Couto, deixa de te armares em engraçado, que não tens graça nenhuma. E ganha é vergonha na cara.Pálida. E mais (algum) juízo que te tem faltado ultimamente… E fica bem.
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