Gestão negligente de uma paz cara e frágil

EDITORIAL

O Presidente da República, Filipe Nyusi, não empresta a devida credibilidade ao processo do DDR, e esta postura de falhanço reflecte-se em todos os processos que lidera pessoalmente, legitimando as deficiências funcionais dos órgãos do Estado.

Não se pode esperar que, na cauda, a administração pública atenda inteiramente sua missão, quando, na dianteira, temos um gestor que conduz processos relevantes de forma fraudulenta e sem a devida seriedade. Não se pode imaginar a gestão desse processo a nível das respectivas instituições que devem dar seguimento à implementação e manutenção da Paz, como é o caso do Ministério dos Combatentes.

Com o mais Alto Magistrado da Nação a mostrar-se incapaz de gerir, com maturidade, os processos que reivindica a condução, estamos a hastear a vulgarização do Estado, que actua de forma problemática a todos os níveis, basta um olhar superficial das instituições públicas.

Esperava-se que o único problema do DDR fosse Mariano Nyongo, por uma questão de estar, supostamente, fora do controlo dos três órgãos (Governo, Renamo e Nações Unidas) envolvidos neste processo, mas o líder da Junta Militar aparece como parte de uma série de irregularidades que deviam ter sido sanadas pela Renamo e um profeta que vaticinou, desde o embrião, as lacunas que minam o processo de implementação de um Acordo de Paz Definitiva (?), e, por isso, isolou-se da fraude presidencial, que reduziu a Renamo às cinzas.

É inconcebível que um processo ambicioso, cujo sucesso foi antecipadamente proclamado em 2019 e usado como a única conquista “palpável” para comprar aos leitores mais um mandato, com argumentos de “mais tempo para finalizar e consolidar a Paz”, esteja, três anos depois, abaixo da metade da realização, uma metade precária.

É que os poucos ex-guerilheiros da Renamo que integram o DDR andam descontentes, (desincentivando a maioria que ainda não aderiu ao DDR) e com sentimento de marginalizados pelo governo e pelas Nações Unidas. E a Renamo, incapaz de explicar aos seus ex-guerrilheiros, assume um papel de vítima, dando eco ao descontentamento dos que aderiram ao processo. Um posicionamento que a transforma num vilão, imediatista, sem capacidade analítica para medir os riscos das suas acções e decisões (o pacote da descentralização é disso um exemplo) e a Junta Militar de Nyongo, que deve estar rir às gargalhadas nas matas, ao ver os murmúrios dos colegas seus, apareça como o único que previu esse golpe.

Ora, dentro deste cenário todo, o facto é que há unanimidade nas posições da Renamo e das Nações Unidas, que deixaram claro que agora é com o governo. O compromisso das Nações Unidos foi (é) de subsidiar cada grupo dos militares por um ano e eles têm feito, e depois cabe ao governo incluir os desmobilizados no fundo das pensões, o que não aconteceu e este meteu-se em silêncio, enquanto deixa ganhar corpo as especulações de que não tem dinheiro. É assim que fracassa mais um acordo de Paz, o terceiro, conduzido pelo alto magistrado da Nação.

Em suma, a Renamo socializou os seus homens, as Nações Unidas subsidiariam e o governo negligenciou, colocando o processo numa incerteza. Reiterando que estamos a falar de um processo que está a ser gerido ao mais alto nível!

 

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