Desde sempre os moçambicanos se questionavam qual era o papel de Armando Ndambi Guebuza no processo que culminou com a contratação das dívidas ocultas e por que razão este recebeu a maior parte do bolo (33 milhões de dólares). Esta quinta-feira, quarto dia do julgamento, o réu Teófilo Nhangumele, apertado com as perguntas do juiz e do ministério público acabou revelando que “sempre que notasse que o processo estava lento e precisava desbloqueiar algo falava com Armando Nhambi Guebuza, identificado várias vezes nas correspondências entre Nhangumele e Jean Boustani como Júnior ou Cinderela.
Durante o interrogatório, o principal lobbista das dívidas ocultas, Teófilo Nhangumele confirmou não ter nenhum vínculo com o Estado ou com os Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE), contudo revelou que efectuou três viagens, sendo uma para a Alemanha e outras duas para Abu Dhabi, Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, entre 2011 e 2012, na companhia dos co-réus Bruno Langa, Armando Ndambi Guebuza e António Carlos do Rosário, este último era único funcionário do Estado.
Aquelas três deslocações, segundo explicou Nhangumele, num discurso cheio de contradições e num dia em que não esteve tão a vontade como no primeiro, tinham como objectivo conhecer o fornecedor e fazer das devidas diligências (due-dilligence).
Foi numa dessas visitas, em Abu Dhabi, conta, que Jean Boustani “após saber que não éramos funcionários públicos, que sugeriu que devíamos assinar contratos de trabalho como consultores da Privinvest”. No entanto, apenas Bruno Tandane e Teófilo Nhangumele é que ficaram ligados a aquela firma por um vínculo contratual.
Questionado sobre as razões pelas quais Ndambi Guebuza não assinou contrato com a Privinvest, Nhangumele disse que este estava em conflito de interesses por ser filho do antigo Presidente da República, enquanto António do Rosário representava interesses do Estado.
É daí que, o juiz após apresentar vários e-mails trocados entre Teófilo Nhangumele e Jean Boustani, um dos executivos da Privinvest, questionou qual era o real papel de Armando Ndambi Guebuza e por que razão recebeu 30 milhões de dólares não tendo nenhum contrato com a Privinvest.
Em resposta, o réu disse que era o acelerador do processo, ou seja, sempre que precisasse desbloquear algo no projecto ligava para o “Júnior” para falar com o pai, em clara referência ao antigo Presidente da República, Armando Guebuza. O facto foi atestado por um email, obtido pelo Ministério Público no âmbito da diligência processual em que Nhangumele dá garantias a Boustani que acabava de falar com o “Júnior” para que este fizesse chegar a preocupação ao seu progenitor.
“Bro, falei com o júnior para lhe clarificar que existem fortes sinais de falta de compromisso e cooperação por alguns dos actores do processo, pois não vejo por que razão este processo tem que se arrastar por tanto tempo”, leu o juiz uma das correspondências enviadas por Nhangumele à Jean Boustani.
Nhangumele não só confirmou a autenticidade do e-mail como também, depois de muita insistência, que o papel de Ndambi Guebuza era de falar com o seu pai para acelerar o processo.
“O meritíssimo perguntou-me se era essa a função de Júnior, mas eu não confirmo, porque mesmo no princípio quando eu mandei o e-mail para o Bruno, o Júnior não tinha nenhuma função. Quando eu encontrava uma situação, por vezes fazia recurso a ele”, disse Nhangumele, antes ter ser interrompido pelo juiz a perguntar “falava com o júnior, para este ir falar com o pai?”, ao que responde “essa era a minha intenção, agora se todas as vezes que eu falava com ele isso acontecia meretíssimo, eu não sei. Quando eu tivesse desafios, algumas vezes em que eu não entendia certos níveis de morosidade eu falava com ele e se todas as vezes que eu falei com ele fez as coisas ou não sei”.
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