Polícia encarcera secretamente dois refugiados ruandeses na Matola

POLÍTICA SOCIEDADE
  • Denuncia Nova Democracia que diz tratar-se de tentativa de rapto
  • Secretário-geral da Associação dos Ruandeses foi mantido 24 horas na Esquadra
  • Operação seguiu o mesmo padrão do rapto do jornalista ruandês Ntamuhanga Cassien
  • Há suspeita de que algumas “botas” ruandesas estejam a actuar em Maputo

O secretário-geral da Associação dos Ruandeses em Moçambique, Byiringiro Wellars e seu irmão Niyonteze Jean Jacques, foram “raptados”, há dias, no bairro de Zimpeto na cidade de Maputo, tendo sido levados à Matola, mantidos na Esquadra Policial de T3, de onde só viriam a ser libertos 24 horas depois, após uma forte intervenção da Comunidade Ruandesa junto do Governo.

É um episódio que fez aumentar os nervos da comunidade ruandesa refugiada em Moçambique, que já manifestou publicamente o seu sentimento de insegurança depois da presença das forças de defesa e polícias de Ruanda nas terras moçambicanas, meses depois do rapto e desaparecimento do jornalista Ntamuhanga Cassien, raptado em Inhaca e que até aqui está em parte incerta.

Esta tentativa de rapto, que segue o mesmo padrão do registado contra Cassien em Inhaca, ocorreu no dia 12 de Agosto corrente, às 15h e 30min, quando Byiringiro Wellars, Secretário-geral da Associação dos Ruandeses em Moçambique e seu irmão Niyonteze Jean Jacques foram surpreendidos pela polícia no Bairro de Zimpeto, na cidade de Maputo, tendo sido levados à Matola, mantidos na Esquadra Policial de T3 e libertados 24 horas depois, após forte intervenção da Comunidade Ruandesa junto do Governo.

O facto foi denunciado, esta segunda-feira, pelo partido Nova Democracia (ND) que dá a voz a uma comunidade que nos últimos dias vive apreensiva devido a presença de agentes da polícia e agentes secretos, entre o contingente ruandês destacado para Cabo Delgado.

“Hoje, dia 23 de Agosto, faz três meses que o jornalista ruandês Ntamuhanga Cassien foi raptado em Inhaca e entregue à Embaixada do Ruanda em Maputo, não se sabendo, até hoje, do seu paradeiro e sem nenhum pronunciamento das autoridades moçambicanas”, destaca a nota partilhada à nossa redacção.

O partido liderado por Salomão Muchanga, avança que os refugiados ruandeses no País estão expostos a sua sorte e sofrendo graves atentados à sua condição de refugiados e inerente dignidade humana.

Um pouco por todo o País, existem milhares de cidadãos ruandeses que escolheram Moçambique como destino, à luz da Convenção Internacional de protecção de refugiados, ratificada pelo nosso País, condição legal para acolher e proteger pessoas que sofrem de deslocamento forçado, a recomeçar suas vidas.

“A Nova Democracia, solidária com a comunidade Ruandesa em Moçambique, quer, através deste alerta internacional, despertar ao País e ao mundo sobre a violação assistida dos Direitos Humanos com a cumplicidade das autoridades moçambicanas, que permitem que cidadãos ruandeses, com estatuto de refugiados, sejam raptados ou extraditados extra-judicialmente para o País de origem, onde seus direitos e integridade correm risco absoluto”, sublinha na comunicação intitulada “alerta internacional: cresce o rapto de refugiados ruandeses em Moçambique”.

Embaixador de Ruanda em Maputo é persona non grata na África do Sul por liderar perseguição

O partido ND, dos poucos activos no país, explica que decidiu erguer a sua voz em defesa do clamor dos refugiados, que vêem o seu estatuto de refugiados e o direito à vida em Moçambique em causa. Acusa ainda o actual embaixador ruandês no país de ter um perfil de perseguição que já lhe valeu expulsão noutros países.

“Queremos lembrar e denunciar que o embaixador do Ruanda em Moçambique, Nikobisanzwe Claude foi expulso da África do Sul, em Março 2014, por perseguição a refugiados ruandeses”, escreve a ND, no comunicado em que repudia com veemência e desprezo “estes actos macabros e exige que as autoridades moçambicanas se pronunciem a respeito dos raptos de 23 de Maio e 12 de Agosto”.

Segundo dados da agremiação, Moçambique conta com, pelo menos, 4.000 refugiados ruandeses, parte dos quais fugiram daquele país devido a alegada perseguição a opositores e intelectuais exilados pelo regime do actual Presidente, Paul Kagamé.

Neste momento, Moçambique conta com apoio de 900 militares e 100 polícias provenientes de Ruanda, na sequência de apoio para combate à insurgência em Cabo Delgado, uma aproximação que tem surtido efeito no Teatro Operacional Norte (TON), mas assombra a comunidade ruandesa que teme que alguns destes polícias tenham sido destacados para perseguir pessoas procuradas pelo regime. Refira-se que após o rapto de Cassien, havia uma lista de outros quatro ruandeses que estavam na mira do regime de Kigali.

A Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique já pediu ao Governo moçambicano que respeite a convenção de Genebra, no que diz respeito aos refugiados provenientes do regime de Kagamé.

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