A Covid-19 gerou uma onda de desempregados e condicionou sobremaneira o modus vivendi do grosso dos moçambicanos. Para mitigar os efeitos econômicos da pandemia viral, o Governo, com a ajuda dos parceiros de cooperação, introduziu um subsídio para apoiar as famílias mais carenciadas. Entretanto, tal como aconteceu na zona Sul, não há transparência na gestão dos fundos destinados aos pobres na zona Centro. No distrito de Dondo, província de Sofala, centenas de pessoas protestaram junto ao edifício do governo distrital de Dondo para exigirem a atribuição do subsídio para mitigar a crise provocada pela Covid-19.
Através de mecanismo de protecção social para proteger os mais carenciados e vulneráveis, o Governo, por via do Instituto Nacional de Acção Social, deu autonomia aos líderes comunitários e estruturas dos bairros para auxiliarem no processo de identificação. Entretanto, os mesmos são acusados pela falta de transparência no seu trabalho.
Maria Luís, uma das residentes daquele distrito, observa que a liderança dos bairros tem sido selectivos no processo de registo e acesso à informação sobre os fundos.
“Estes chefes estão a escolher as pessoas. Todos aqui estamos a sofrer com a pandemiaʺ, disse Luís, para depois questionar o facto de muitos deficentes terem sido ignorados.
“Não se sabe porque esta senhora que é deficiente não pode beneficiar do fundo. Registaram os nossos nomes e hoje dizem que não podemos receber os subsídios. Afinal o que se passa com esses senhores?”,questionou
Emilia Jonasse, viúva e mãe de quatro filhos, olha para o prometido subsídio como bóia de salvação para os problemas que enfrenta no presente, uma vez que com a eclosão da pandemia viu-se obrigada a parar de trabalhar.
“Fomos inscritos e as senhas estão a sair às escondidas. Acho que não temos os mesmos direitos. gostaríamos que os nossos nomes fossem também contemplados na lista. Todos precisamos de apoio e espero que haja bom sendo da parte das pessoas que estão a gerir o fundo”, denunciou.
Anita José, de 57 anos, deficiente e desempregada, residente na vila do Dondo, lamenta a maneira como o processo está sendo gerido junto das estruturas dos bairros, visto que os que tem o direito de receber os subsídios são os mais sacrificados.
“Eu sou doente, o meu marido é deficiente visual. Ninguém trabalha na nossa casa, Ficamos surpresos quando o secretário do bairro nos disse que não temos o direito de receber o subsídio. Nós nem casa temos”, lamentou.
Castro Rodrigues considera-se um homem azarado, uma vez que é a segunda vez que é excluído no processo da distribuição dos subsídios naquele ponto do país. “Primeiro o dinheiro do Idai não tivemos porque tínhamos os subsídios de reassentamento. Agora estão a dizer que não temos direito porque não fomos contemplados, mas existem pessoas que eles conhecem que estão a registar ” disse Castro Rodrigues
“Nem todos têm direito ao valor”
As vítimas relatam que o critério usado para a selecção dos beneficiários não está a ser transparente, defendendo por isso que o subsídio devia ser atribuído a todos os moradores de classe baixa.
As reivindicações iniciaram quando funcionários do INAS escalaram vários bairros ao nível da para registar no sistema os beneficiários dos subsídios da covid-19. Insatisfeitos com o que aconteceu no processo da selecção vários cidadãos amotinaram-se junto ao edifício do governo distrital de Dondo para reivindicarem os seus direitos.
“Temos de perceber uma coisa: nem todos têm direito ao valor. É dinheiro, todos necessitamos, mas há quem precise mais do que outros, do que muitos que se encontram a reivindicar neste grupo”, disse”, disse Abdul Razack, delegado do Instituto Nacional de Acção Social de Sofala.
Razack disse ainda que há trabalhos em curso para reavaliar casos de famílias carenciadas fora do processo no distrito de Dondo.
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