O que era somente uma suspeita ficou confirmado ontem (12), no Fórum de Segurança Global-2021, que decorre em formato híbrido (presencial e virtual) na cidade de Doha, em Catar, quando o Presidente de Ruanda, Paul Kagame, revelou que, afinal, são 2 000 militares do seu país, entre Polícia Nacional do Ruanda (RNP) e a Força de Defesa do Ruanda (RDF), que se encontram em Cabo Delgado a apoiar as Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique na luta contra terroristas.
Com o silêncio de Maputo, que sempre se manteve fechado em copas sobre aspectos operacionais e até administrativos no Teatro Operacional Norte, as notícias sobre as operações militares de Cabo Delgado continuam a chegar de Kigali dos novos amigos de Filipe Nyusi.
Em Agosto passado, o África Monitor Internacional revelou que havia mais do que os mil homens da tropa ruandesa oficialmente anunciados em Cabo Delgado, facto que nunca havia sido confirmado. Nesta terça-feira, o Presidente do Ruanda, que recentemente esteve em Mocambique, foi citado pela imprensa ruandesa a afirmar, com poucos detalhes, que já estão em Cabo Delgado perto de dois mil militares e policias do seu país.
“O Governo de Moçambique nos convidou e connosco convidaram os países da SADC, os seus vizinhos, para virem ajudar. O Ruanda foi convidado a partir de um acordo bilateral por um país amigo que quer ajuda com urgência. Então, nós respondemos. Na verdade, desdobramos mais de 1000 soldados. Temos cerca de 2000 efetivos militares e policiais também”, disse numa intervenção virtual no Fórum que decorre desde domingo último e termina nesta quinta-feira (12 a 14 de outubro de 2021).
Prosseguiu referindo que o desdobramento foi feito rapidamente para posicionar tropas onde o problema se mostrava grande. “O governo de Ruanda está trabalhando com Moçambique. Nós dois encontramos recursos para implantar as operações. Não recebemos nenhum financiamento externo”, secundou, voltando a reagir indiretamente as informações que indicam que as operações de Cabo Delgado estão a ser financiadas pela França.
Centrando-se em progressos alcançados, Kagame sublinhou que o seu país está empenhado em lidar com os problemas em Áfricaas e as relações bilaterais entre dois países devem ser feitas de forma mais rápida e eficaz.
“Se tivéssemos, por exemplo, que esperar até que os planos fossem colocados em prática, a mobilização estivesse concluída, usando o formato usual que é usado, provavelmente ainda estaríamos esperando e não teríamos certeza de quando começaríamos”, disse, eferindo-se a reposta que o seu exército tem dado em Cabo Delgado.
Kagame revelou que Ruanda e Moçambique estão trabalhando juntos para identificar a causa do problema e o que precisa ser corrigido, o que deverá ser feito, através da capacitação de moçambicanos a vários níveis para lidar com seus próprios problemas.
O Presidente de Ruanda reconhece que os seus militares não estarão no terreno para sempre, mas sim trabalhar com o país para lidar com o problema enquanto o apoio for necessário do modo que o país se mantenha por conta própria.
O Ruanda enviou o primeiro contingente de tropas conjuntas a Moçambique a 9 de julho de 2021. Moçambique, com seu carácter mais secreto, nunca se pronunciou sobre o segundo envio de mais mil homens.
Além dos militares de Ruanda que não tem nenhum prazo previsto, está a Missão da SADC em Moçambique (SAMIM), cujo mandato foi recentemente prorrogado até Janeiro 2022. Essas intervenções externas são coordenadas pelas FDS, que mostraram sérias dificuldades de lidar com a insurgência de Cabo Delgado sem apoio externo.
Há duas semanas, Kagame esteve em Pemba, onde assinou diversos documentos com o Governo de Moçambique, no entanto, seu conteúdo nunca foi tornado público
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