Luca Bussotti
Não existe um só observador, nacional ou internacional, a nível dos países africanos, que não avalia as potencialidades desta ou daquela nação consoante a disponibilidade de matéria-prima, particularmente de tipo energético. Possuir petróleo ou gás significa que aquele país é destinado a viver longos anos de bem-estar, geralmente muito mal distribuído entre as suas populações, e ainda mais provavelmente sujeito a tensões que podem desaguar em verdadeiros conflitos, como no caso da Nigéria com Boko Haram, ou de Moçambique com Al-Shabaab.
O continente africano tem o privilégio de totalizar quase 40% do potencial energético solar do mundo; entretanto, ele só contribui na medida de 1% à produção energética mundial mediante o solar. Os únicos dois países que registam dados razoáveis quanto ao uso e consumo de energia solar são Marrocos (com uma central que, quando finalizada, custará USD 9 mil milhões) e África do Sul. O resto são migalhas.
Entretanto, os investimentos no solar não seriam tão gigantescos como no caso de gás e petróleo, pelo que, com um esforço relativamente modesto (não precisa de emular Marrocos, neste sentido), vários países africanos estariam em condições de, dentro de pouco tempo, produzir energia mediante pequenos e médios sistemas de produção de energia solar. Talvez seja por isso que a maioria das classes dirigentes africanas não gosta muito da ideia de um solar devidamente desenvolvido: sem a necessidade de uma mão externa (as multinacionais estrangeiras) que deve negociar pessoalmente com ministros, chefes de governo e de estados, de forma não transparente, o círculo da corrupção na exploração de matérias-primas energéticas seria quebrado definitivamente. É justamente isso que não se quer, a nenhum custo.
Moçambique não faz excepção: 7 pessoas de 10, hoje, não têm acesso à energia no país, e 53% das empresas reportam graves falhas na distribuição de energia, com consequências imagináveis. O sinal positivo vem do início da construção de uma central solar nos arredores de Cuamba, capaz de produzir 19MWp e armazenar 2MW. A central está sendo construída pela Globeleq, Source Energia e EDM; o projecto custará, quando completado, USD 32 milhões, ocupando cerca de 100 pessoas ao longo da sua edificação.
Esta, assim como outras centrais solares de momento em construção, representa apenas o início tardio do investimento do país no solar. Com efeito, actualmente Moçambique produz só 1% da sua energia total (3.001 MW) do solar, sendo que a maioria das necessidades energéticas do país vem do hidroeléctrico (75%) e, muito distanciado, do gás (5%).
As opções políticas, ao longo dos últimos dez anos, têm sido claras, em termos de estratégia energética: apostar no gás (sobretudo em Cabo Delgado), deixando de lado as outras possibilidades, solar e eólico acima de tudo, de que Moçambique dispõe naturalmente. Uma escolha pouco visionária, que tem acarretado consequências, até hoje, nefastas para o país e grande parte das suas populações, e que poderá ser revertida depois de muito tempo, muito trabalho e significativos investimentos, financeiros e em recursos humanos. Um assunto, este, completamente fora do debate político nacional, mas que mereceria a devida atenção, pois é a partir das políticas energéticas que se decide o futuro de Moçambique, no bem assim como no mal.
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