Dionildo Tamele
Moçambique, nas últimas duas décadas, transformou-se no palco de violência política, conflitos armados, actos de corrupção que se agudizaram cada vez mais, aliados à ausência proativa das instituições do Estado, nas zonas rurais, sendo que na arena política os únicos protagonistas, de forma sistemática, foram o partido Frelimo e a Renamo, e um pouco a intervenção do MDM, mas de forma insipiente. Diversas organizações da sociedade civil, apesar de serem excluídas do debate político nacional, tem evidado esforços, para que a política em Moçambique seja apenas debatida nos centros urbanos das capitais províncias.
O actual cenário faz com que a intolerância, a ausência do diálogo, sejam a panacéia da sociedade moçambicana desde a política, economia, cultura religião, entre tantas vicissitudes que não estão no rol ao longo do processo da construção do Estado moçambicano.
Uma das coisas repugnantes desta sociedade é o facto de, no meio de pessoas aparentemente instruídas, que podiam, de certa forma, contribuir para que a sociedade crescesse, nada fazerem para além de estarem associadas ao poder político na perspectiva de ter em sua posse o poder económico. Quando me proponho falar em poder político não me cinjo a descrever o governo do dia mas estão também implicados os partidos políticos, na medida em que nos últimos tempos temos visto indivíduos com certo nível acadêmico aliarem-se a estes aparelhos, não na lógica de ajudarem no crescimento, mas de se apropriarem dos benefícios económicos.
Particularmente, acho pertinente termos nos nossos partidos políticos pessoas instruídas cujo móbil seja de certa forma contribuir para o crescimento do debate político. O velho continente fez isso na sua transição, a única discrepância que se constata para o caso do país é o facto de encontrarmos as pessoas menos interventivas na lógica das políticas públicas que possam beneficiar os cidadãos, não esquecendo a falta de um debate político que possa trazer o enriquecimento da cidadania que ainda está no processo de construção.
No nosso tempo é difícil fazermos uma nova revolução, na ideia de remodelar toda uma estrutura paupérrima que marca o sistema político e a própria sociedade. Talvez isso seja produto do nosso analfabetismo político, no sentido em que não nos interessa de forma profunda compreender como funciona a política e a economia do país, mas agenciarmos as nossas forças para que possamos ser mais interventivos nos assuntos do país.
A ciência, em qualquer parte do mundo, deve ser parte integrante na evolução dessa mesma sociedade, mas o que encontramos em Moçambique é um exercício do demérito da actividade científica, sem distinção nenhuma de qualquer campo científico.
Outrossim, o conflito que se avoluma entre as forças produtivas em desenvolvimento e as relações de produção, que devia ser levado pelas elites intelectuais, encontra-se numa encruzilhada entre o carácter social da produção e a forma privada de apropriação capitalista, a luta de classe quase insistente no país, mas deviam ser o trabalhador e o capital, aliados fortes do crescimento e agudização de todas as outras classes antagônicas caraterísticas do regime capitalista, a determinarem a inevitabilidade histórica da passagem do capitalismo para o socialismo.
O enunciado acima tem a sua razão de ser pelo simples facto de estarmos numa sociedade onde a construção do Estado foi na base de duas perspectiva: uma capitalista e outra socialista, que ao longo do tempo fez emergir um Estado centralizado. Mesmo os partidos políticos não ficaram alheados a este pormenor. Se, por um lado, tivemos uma Renamo mais para direita mas sem nenhum argumento para o efeito, em 1977, a Frelimo assumia-se definitivamente como um partido marxista-leninista, enquanto na prática era um explorador das massas populares, vendo os seus líderes que se apropriavam de conceitos burguês ou melhor da vida burguesa.
Mas o que eu tento propor aos moçambicano é que não devemos de maneira alguma aceitar um futuro de miserabilidade que estamos a ser impostos pelo sistema político e sistema partidário que está em vogo no país, sob uma falsa bandeira de liberdade, seja ela a dos direitos reprodutivos, ilimitados ou a de investigação cientifica livre de qualquer restrição do analfabetismo político. Não temos de nos ver como escravos de um progresso político inevitável quando esse progresso serve a fins particulares. A verdadeira liberdade significa a liberdade das comunidades políticas, de proteger os valores mais altos da nossa soberania, e é essa liberdade que precisamos exercitar no tocante à revolução da política hoje em Moçambique.
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