Poeta brasileiro considera Prémio Camões a P. Chiziane inspiração para os negros

CULTURA DESTAQUE

O poeta brasileiro João Innecco considera o Prémio Camões 2021, atribuído à escritora moçambicana Paulina Chiziane, um reposicionamento da lusofonia. O poeta e curador brasileiro diz ter ficado emocionado com o anúncio do prémio atribuído à primeira escritora moçambicana a lançar um romance porque é uma inspiração para juventude, especialmente para jovens poetas negros e negras

Oriundo de um país onde as diferenças entre negros e brancos são ainda bastante notórias, Innecco considera o prémio Camões a Paulina Chiziane como um recado interessante para a ‘branquitude’ europeia, para que leiam mais o hemisfério sul e a periferia global.

“Quando eu desloco essa realidade para o Brasil, penso como a literatura escrita por pessoas negras está (agora) sendo lida, comprada, editada…, isso não é uma coisa tão antiga. Lá no contexto brasileiro, quando a gente assiste a entrevista da Paulina (Chiziane) e vê esse prémio a ser entregue a ela, é sinal de muita esperança”, assegura.

Paulina Chiziane sagrou-se vencedora do Prémio Camões 2021, numa escolha feita por unanimidade, anunciado no dia 20 de outubro de 2021, destaca-se a sua vasta produção e recepção crítica, bem como o reconhecimento académico e institucional da sua obra. O júri referiu também a importância que dedica nos seus livros aos problemas da mulher moçambicana e africana. O júri sublinhou o seu trabalho recente de aproximação aos jovens, nomeadamente na construção de pontes entre a literatura e outras artes.

Paulina Chiziane foi a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, em 1990, Balada de Amor ao Vento.  Da sua obra fazem ainda parte Ventos do Apocalipse, O Alegre Canto da Perdiz (2008), As Andorinhas (2009), Na mão de Deus e Por Quem Vibram os Tambores do Além (2013), Ngoma Yethu: O Curandeiro e o Novo Testamento (2015), O Canto dos Escravos (2017) e O Curandeiro e o Novo Testamento (2018). Este ano lançou, em Maputo, em conjunto com Dionísio Bahule, o livro A voz do Cárcere, depois de ambos entrarem nas prisões e ouvirem os reclusos – ela a escutar as mulheres, ele, os homens.

João Innecco falava numa entrevista exclusiva a Entre Aspas, no contexto da sua participação no Festival de Poesia e Artes Performativas – Poetas D’Alma.

João Innecco (1993) é poeta, educador e LGBTQ+. É membro do Transarau e dos Poetas do Tietê, licenciado em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). É educador do Cursinho Popular Transformação, cursinho que foca suas acções para a população trans, travesti e não binária. Actua também como educador em prisões, no Sarau Asas Abertas, sarau realizado dentro de penitenciárias do estado de São Paulo, que foi indicado ao Prémio  Jabuti 2020.  Entre Aspas

Facebook Comments

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *