JOÃO TIMANE: UM JOVEM PINTOR DE TALENTO

OPINIÃO

AFONSO ALMEIDA BRANDÃO (texto)

ALBINO MAHUMANA  (fotos)

Em cada período da História da Arte encontramos claras diferenças entre os seus pintores — é o que se denomina por “estilo”. O estilo é essa caligrafia pessoal do artista que, com frequência, diz mais de si e da sua visão do Mundo do que os temas que trata. A pintura ajuda a expressar conteúdos difíceis de explicar de outro modo, como diz Arman: “Se a minha intenção fosse tentar demonstrar, seria melhor usar a caneta do que o pincel!”

Desenhar faz parte de uma necessidade imperativa, sendo o ponto de partida para a comunicação da qual todas as outras linguagens pictóricas constituem, também, nota de referência. A obra de João Timane que destacamos nesta edição é exemplo disso.

É importante realçar na obra de João Timane a disciplina do traço, a riqueza das cores, a transparência e a luz, a técnica evidente e harmoniosa a envolver os seus trabalhos e, sobretudo, o seu talento. Com efeito, é através do desenho que se adquire a disciplina e a capacidade para dilucidar as proporções, a densidade dos volumes, conceber grandeza ao conjunto, atribuir resistência ao conteúdo e harmonizar a pigmentação das pinceladas de forma equilibrada.

Num texto de 1913, o poeta Fernando Pessoa, a pretexto de uma exposição de caricaturas de Almada Negreiros, estabelecia três níveis de mérito dos artistas: o mais alto é o génio, depois o talento, e finalmente o mero habilidoso. É natural que quanto mais se desce nesta escala, mais representantes se encontrem.

conheci (e conheço) muitos habilidosos. No momento em que escrevo esta breve introdução a propósito de João Timane, artista que mereceu a nossa atenção desta semana, em termos de análise e merecido destaque, apenas quero lembrar-me dos que recusaram as facilidades que a habilidade encontra junto do público, e passaram a ter um comportamento que, mais demoradamente, lhes permitiu tomar presente o seu projecto mais profundo. Os que se encantaram com os elogios que a habilidade sempre provoca no «público inculto», ao nível do público inculto permaneceram. Mas o exercício dos “habilidosos” e do seu público quer impor os seus critérios. E no jogo do “empurra-empurra” reduz tudo aos limitadíssimos meios de aferir habilidades.

Isto parece não ter grande importância, quando se trata de encarar meia dúzia de casos; mas é insuportável, quando se atravessa os espaços onde centenas, senão milhares, de “habilidosos” que proliferam na nossa actual pintura exigem do Crítico de Arte (ou mesmo do jornalista cultural) a consideração que só é devida aos artistas que estão acima desse nível. Repare-se que eu não digo que são mais do que “habilidosos”, mas que estão acima. É inútil falar da habilidade de quem tem talento; e, ainda mais, de quem tem génio.

Não direi que estamos perante um artista de génio. Falo, naturalmente, de João Timane e da sua obra pictórica. Mas afirmo, categoricamente, que estamos perante um pintor de talento, que importará divulgar e realçar, além de acarinhar e incentivar, contudo, tratar-se de um artista jovem, que há pouco mais de 20 anos se aventurou nas “lides artísticas” e do qual auguraríamos inquestionável percurso promissor, em termos de futuro, dado o seu talento nato.

Há poucos anos tenho acompanhado, de perto, o percurso artístico e extraordinário do jovem artista João Timane, através do Facebook e dos meios de Comunicação Social. E sobre ele escrevo, agora, um primeiro texto de análise, que considero ser a todos os títulos merecedor e justo.

Para além do Artista de inegável qualidade que é, sempre o considerei um criador de mérito e dedicado, um pintor de feição figurativa, porém de cariz cubista e impressionista, imaginativo, de técnica segura e equilibrada, desenho rigoroso (repetimos), afectuoso embora dominador nos seus objectivos, agressivo e teimoso quando a obra não sai como pretende, mas também acessível, astuto, perspicaz, observador, algo individualista (também!), subtil e pessoa que gosta dos lugares cheios de mistério e secretismo — o que deu para deduzir em virtude das responsabilidades inteligentes em que sempre se desenvolveu ao longo dos trabalhos que foi executando, quer em óleo, acrílico, aguarela ou em desenho para ilustrações de livros e cartazes que tem realizado em diversas ocasiões e que apraz registar e dar a conhecer.

VIDA E OBRA

João Timane nasceu em Maputo, no Ano de 1991, tendo frequentado o Curso de Artes Visuais na Capital. Segundo sabemos, a sua inclinação vai para artistas como Picasso (pintor de origem espanhola), Malangatana, Naguib e Roberto Chichorro (pintores moçambicanos).

Daí, as suas influências pictóricas para com as vertentes do cubismo e do impressionismo — repetimos — não abdicando, contudo, da feição figurativa que está ligado. Tem feito várias ilustracções para capas de livros, de que destacamos os desenhos para a revista brasileira OMNIRA, quer para as Colecções “Artes Soltas”, quer para as Colecções “Entre Mentes”, além de ter realizado vários cartazes de média e grande dimensão, alusivos a eventos culturais.

João Timane é membro do Núcleo de Arte de Maputo e frequentou ainda o curso de Marketing no Instituto Superior de Comunicação e Imagem, igualmente na Capital. Trás consigo um curriculum interessante, embora construído a partir de 2012, ano em que participa na sua primeira exposição colectiva.

Não obstante o jovem pintor ter 30 anos, há que reconhecer que é dono  dum percurso artístico invejável, feito de experiências por onde andou e viveu. Efectou, até à data, três exposições de pintura individual, das quais duas em Portugal, designadamente na Galeria de Arte Embaixada, ao Príncipe Real, em Lisboa (2015), e na Biblioteca Municipal de Cantanhede (2018), actual Espaço de Arte Pedro Olayo Filho (1930-2016), em homenagem ao mestre de Coimbra, recentemente desaparecido, tendo participado ainda em dezenas de outras exposições colectivas de pintura, entre 2012 e 2021. Está representado em diversas colecções privadas e institucionais de alguns organismos oficiais em Moçambique e em Portugal. João Timane encontra-se ligado, já há alguns anos, ao Espaço Artístico KULUNGWANA, dirigido pela “Marchand” Henny Campos, que se localiza no Edifício dos C.F.M., à Praça Mac Mahon, na Baixa de Maputo.

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