Percurso Sinuoso de Inclusão Financeira: um olhar sobre Educação Financeira (Parte VI)

OPINIÃO
  • Sobre o Relatório da ENIF (2020) do BM
  • Investir em Activos e Liberdade Financeira

Por: Teodósio Camilo

A expressão liberdade financeira tem suscitado acesos debates no seio de analistas financeiros. Liberdade Financeira é o nível mais alto, quando o dinheiro oferece garantias. A liberdade financeira não se trata apenas de acumulação de capital, mas, sim, é estabelecer metas que devem ser alcançadas, em paralelo com a felicidade e faz parte da realização plena de toda pessoa.

A Liberdade financeira ocorre quando um indivíduo é livre de escolher onde investir o seu dinheiro para geração de renda que permite cobrir as despesas, realizar o que o faz feliz e o bem-estar (RAFFO, 2016). Para alcançar a liberdade financeira é necessário cumprir as quatro fases: a fase do endividamento, a fase de ser um pequeno investidor, a fase do foco a longo prazo e a fase da liberdade financeira. A liberdade financeira é o resultado dos investimentos geridos de forma sustentável, é um projecto a longo prazo. A maioria das pessoas não percebe que na vida não importa quanto dinheiro a pessoa ganha, mas quanto poupa e investe.

É nesta óptica que Michael (1991) introduz a teoria de bem-estar, baseada em activos, na qual diz que tanto a renda quanto os activos são importantes para o bem-estar pessoal e doméstico. A noção de bem-estar refere-se a um estado geral de bem-estar económico. Porém, esta percepção não é de fácil assimilação sem Educação Financeira. O modelo de bem-estar é caracterizado por rendas mais activas, ou seja, as receitas e os bens que podem gerar dinheiro.

Neste caso, a renda é usada para o consumo, a poupança não é considerada como um resíduo da renda menos o consumo. Os activos são reservados para fins de acumulação de poupanças e aquisição de activos. Os activos, nesta lógica, não são apenas uma reserva para consumo no futuro, mas, sim, produzem os efeitos no bem-estar, liberdade financeira, geram renda adicional e maior capitalização. Assim, indivíduos financeiramente educados poupam da renda para adquirir activos, não apenas para consumo no futuro, pois compreendem que acumulação do capital somente é possível quando se investe em activos.

Sherraden (1991) introduz o conceito da estrutura baseada em activos, enfatiza o valor dos activos com a finalidade de alcançar a segurança económica e mobilidade social, construção de riqueza, incluindo recursos financeiros, nomeadamente bens tangíveis que têm valor monetário, tais como, casa, negócio, carro e os investimentos em activos não tangíveis tais como, educação e a formação profissional. Os activos financeiros – capital financeiro – podem ser reservados para construir ou comprar activos tangíveis – capital físico. Os investimentos em educação e treinamento aumentam o capital humano e, assim, melhoraram a capacidade de gerar mais capital financeiro, riqueza e alcançar o bem-estar financeiro.

Evidentemente, a Educação Financeira, sendo elemento construtor de capital humano, é um dos factores necessários para fazer decisões financeiras sábias e administrar recursos financeiros de forma eficiente (Huston, 2010). Indivíduos com práticas positivas do comportamento financeiro aumentam o bem-estar com consistência e contribuem ao bem-estar financeiro.

Sherraden (1991), em sua crítica à política de bem-estar, define a pobreza em termos de falta de renda, usa o modelo de bem-estar baseado em activos aos pobres com apenas salário. Por isso mesmo, os pobres permanecerão pobres enquanto estes não tiverem Educação Financeira que os apoie a construir activos. Os pobres são sustentados apenas por transferências de renda, têm apenas o suficiente para suprir as necessidades básicas de consumo e sem capital destinado à aquisição de activos. Os pobres precisam de renda e bens, a renda regular paga as despesas diárias, enquanto os activos ajudam a lidar com choques económicos, permitem aos proprietários de activos planificar o seu futuro.

Portanto, a Educação Financeira deve beneficiar a todas as pessoas, independentemente do nível de renda, mercado de trabalho e nível académico. É uma ferramenta básica de planificação de poupança de modo que suas despesas e dívidas fiquem controladas. Inculca nas famílias a disciplina de poupar, criar melhores condições para financiar a educação dos filhos, plano de saúde e proporcionar vida mais confortável.

(Nem se quer me ocorria uma penumbra de colegas com os quais partilharia as páginas do Evidências. Porém, coube-me a sorte de estar na trincheira comum experiente, conhecedor da matéria, escrita-bravo- Afonso Almeida Brandão. A si dedico este artigo pelo encorajamento que, incondicionalmente, me tem dado nesta actividade. O seu comentário é valioso para o meu crescimento profissional).

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