- Chuva expõe “nudez” de Eneas Comiche
- Município havia feito tapamento de buracos, mas a chuva destapou os remendos
- As estradas no centro da cidade têm um piso extremamente irregular e esburacado
Nos últimos dias, nos intervalos de dias de calor intenso, tem caído chuva miúda na cidade de Maputo. Apesar de não cair de forma regular foi suficiente para destapar os remendos que o município de Maputo havia feito para esconder os buracos nas principais ruas e avenidas da capital do país. Demonstrando total incapacidade, o executivo do já octogenário edil Eneas Comiche, que vendeu a ilusão de que voltava para Txunar Maputo, parece ter perdido a guerra contra os buracos, pois a menos de dois anos para o fim do mandato contam-se com os dedos de uma palma de mão as vias com asfalto em condições. Automobilistas acusam a edilidade de estar preocupada em introduzir ou agravar impostos para encher os seus cofres sem atacar os problemas que apoquentam os munícipes. Por seu turno, para justificar os USD 100 milhões do Banco Mundial, a edilidade promete fazer intervenções de vulto nalgumas artérias, mas sem avançar datas.
Duarte Sitoe
Circular nas principais estradas da Cidade de Maputo tem sido um autêntico martírio. Os munícipes que foram convencidos pelo ambicioso manifesto eleitoral de “txunar” a Cidade das Acácias, para finalmente ser uma cidade próspera, bela, limpa, segura e solidária, estão indignados com a gestão do regressado Eneas Comiche.
Logo à entrada da cidade de Maputo, vindo da Matola, os buracos que engoliram a Avenida Joaquim Chissano dão boas-vindas aos automobilistas que fintaram a portagem na Estrada Nacional Número 4. Os automobilistas que usam aquela via são obrigados a pautar pela condução defensiva, o que de certa forma acaba originando congestionamento nas primeiras horas do dia e na hora de ponta.
Alexandre Langa é motorista da rota Patrice – Xipamanine e usa frequentemente a Avenida Joaquim Chissano. Langa declarou que as covas que engoliram aquela “via rápida” constituem autêntico perigo para viaturas e, sobretudo, para os passageiros.
“Já presenciamos muitos acidentes nesta avenida. Na tentativa de esquivar as covas, os carros acabam se embatendo. Não é fácil circular nesta via. O município devia se preocupar em reabilitar essas estradas antes que aconteçam acidentes que podem ceifar vidas”, declarou.
Sebastião Paulino conseguiu fintar com êxito as covas da Avenida Joaquim Chissano, contudo, não teve a mesma sorte na Avenida do Trabalho, ou seja, viu o amortecedor do seu carro quebrado por não ter conseguido contornar uma cova, o que de certa forma acabou condicionando a circulação de pessoas e bens naquele troço.
Com os nervos à flor da pele, Paulino dispara contra a actual gestão do Conselho Municipal de Maputo, a quem apelidou de incompetente e sangue-suga.
“Os nossos dirigentes são os principais responsáveis pelos problemas que passamos. Hoje, a Cidade de Maputo virou cidade de covas. É deveras frustrante para um cidadão que paga impostos e todas taxas inventadas pelo município para no final de tudo não ver melhorias. A Avenida do Trabalho é uma lástima, a Guerra Popular idem e a Avenida 24 de Julho também. Estamos a ser governados por ambiciosos que só estão preocupados em encher os bolsos, e o Governo Central, por sua vez, nada faz para punir esses servidores públicos que só estão para aumentar o número”, declarou, revoltado, Paulino, para depois pedir a quem de direito para resolver imediatamente a situação das estradas na capital moçambicana.
Quem também está agastado com o estado de degradação da Avenida Julius Nyerere são os transportadores da rota Praça dos Combatentes – Magoanine. Os motoristas dos semi-colectivos, vulgo chapas, entrevistados pelo Evidências, declaram que foram enganados por Eneas Comiche. Aliás, contam que estão cansados de, anualmente, assistir aos técnicos remendar os buracos para depois, quando chover, tudo voltar como estava antes.
“Durante a campanha eleitoral prometeram rios e mundos, mas hoje estamos abandonados à nossa própria sorte. As estradas foram tomadas por crateras e quando chove somos obrigados a parquear os carros. Eles esquecem que os carros avariam devido ao estado das estradas, mas a polícia municipal exige sempre inspecção. O município devia, primeiro, se preocupar em reabilitar estradas em vez de inflacionar os impostos. Mesmo o Governo é penalizado pela degradação das estradas, muitos autocarros da Agência Metropolitana foram parqueados porque não foram feitos para circular em estradas esburacadas e sem qualidade”, sentencia.
Guerra Popular e 24 Julho: duas avenidas que expõem por completo a nudez de Comiche
Maputo tornou-se uma cidade dos buracos. São buracos aqui e acolá: desde os grandes até os pequenos. Os automobilistas são obrigados a fazer testes para diferenciar a cratera rasa e a funda. A cada ano que passa, o município promete reabilitar as vias de acesso, mas não passa de intervenções paliativas e o problema persiste, e o executivo de Eneias Comiche está a apenas dois anos de terminar o mandato.
Entrar na Cidade usando a avenida 04 de Outubro é um autêntico martírio. Martins Cossa teve azar de usar aquela via quando ia fazer a inspecção da sua viatura no bairro Zimpeto. Cossa não teve arte e engenho para contornar as covas e o seu veículo não conseguiu a certificação para circular nas estradas nacionais.
“Fui levar a viatura no Porto de Maputo, usei a Avenida União Africana no regresso a casa, felizmente consegui contornar os buracos que tomaram aquela via alternativa, mas não tive a mesma sorte no Benfica. Na tentativa de fintar as covas grandes acabei entrando num buraco fundo, que acabou estragando a viatura, como consequência foi chumbada na inspecção. Ou seja, o meu carro não está apto para andar nas estradas que causaram o problema, vê se pode”, protestou.
Prosseguindo, a fonte considerou que a edilidade nada faz para mudar a triste realidade das estradas. “É vergonhoso o que estamos a presenciar neste país. Todas as estradas da capital foram engolidas por buracos. Somos um país com muitos recursos, mas somos superados por países como Eswatini e Malawi, no que toca às vias de comunicação. Temos que despertar, os nossos dirigentes devem mudar para o bem do povo.
As Avenidas Guerra Popular e 24 de Julho, as duas principais avenidas que atravessam o coração da cidade, expõem por completo a vergonha de Eneas Comiche. Os munícipes, que num passado recente deixaram-se convencer com discursos de um futuro melhor, sentem-se traídos pela edilidade. A Avenida Guerra Popular tem buracos em quase toda sua extensão, e esquivar buracos tem sido o pão de cada dia dos automobilistas.
Resignada, Marieta Nhantumbo decidiu abraçar o conformismo, apontando que falta ao município vontade de melhorar a vida dos munícipes.
“Não tenho comentários sobre o estado das estradas na Cidade de Maputo, porque já é um problema com barbas brancas. Todos percebemos que o município está mais preocupado em retirar os vendedores ambulantes dos passeios e agravar taxas, acabando por esquecer as promessas que fez durante a campanha eleitoral. Ao meu ver, Eneas Comiche não tem vontade de reabilitar estradas, talvez seja uma estratégia para reabilitar nas vésperas das eleições para passar de vilão para herói”, disse desconfiado.
Município recorre a remendos
Ciclicamente, a edilidade de Maputo promete reabilitar estradas na capital do país, contudo, no fim socorre-se de remendo através de tapamento de buracos, uma solução que, para além de tornar o piso da estrada cada vez irregular, dura somente até a chuva seguinte.
“Não sou especialista em construção civil, mas reprovo a ideia de tapar covas com remendos porque quando chove os buracos voltam a tomar conta das estradas. Temos que ter vergonha como país, o Presidente da República, os ministros, o presidente do município e os deputados, quando vão à Assembleia da República, usam a Avenida de 24 de Julho, mas a mesma está degradada. Remendar estradas chega a ser dispendioso que colocar um novo asfalto, porque a cada vez que chove os remendos cedem e os buracos voltam a tomar conta das estradas”, sublinha Abel Macamo.
Especialistas ouvidos pelo Evidências observam que diferente de construir uma estrada de raiz, a reabilitação não é de todo tão dispendiosa, pois toda a estrutura que compreende a base e sub-base já existe, bastando somente repor o asfalto, tal como, aliás, no consulado de David Simango a edilidade chegou a fazer.
“Reabilitando estradas com recurso ao asfalto, o município estaria a pensar a médio e longo prazo, diferente do que está a acontecer no presente. A título de exemplo, no presente estão a ser tapados os buracos ao longo da Avenida do Trabalho, mas quando chegar a época chuvosa os buracos vão renascer. Nesta era moderna é preciso construir obras capazes de resistir aos impactos das mudanças climáticas”, apontou um dos especialistas.
Edilidade com 100 milhões (do Banco Mundial) para reabilitar estradas
Contactado pelo Evidências para falar dos planos do Conselho Municipal de Maputo para arrancar as estradas dos buracos e devolvê-las aos automobilistas, o vereador de Ordenamento Territorial, Urbanização e Ambiente, Silva Magaia, decidiu abraçar o silêncio.
Entretanto, o director municipal de infra-estruturas Urbanas, Saturnino Chembeze, mesmo sem avançar datas para o arranque das obras, tornou público que a edilidade da capital moçambicana tem em mãos um donativo de 100 milhões de dólares do Banco Mundial para requalificar a Cidade das acácias.
“Na Julius Nyerere vamos reabilitar os dois troços que são entre o Ministério da Defesa Nacional e a Praça do Destacamento Feminino, e entre a Praça dos Combatentes até à Praça da Juventude. Temos o projecto feito, estamos a fazer pequenas correcções, temos lá alguns acertos. Temos a Avenida do Trabalho que também está em preparação, a Rua São Pedro no Bairro 25 de Junho, enfim, temos um conjunto de obras que vão arrancar muito em breve”, declarou Chembeze, numa entrevista que concedeu ao diário o País.
Por outro lado, o governante avançou que uma parte das obras da aguardada requalificação da Cidade de Maputo serão suportadas por fundos do orçamento da edilidade.
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