Afonso Almeida Brandão
É provável que não tenha sido um credor, mas um qualquer amigo de um devedor que anunciou o que hoje é um ditado popular: TRISTEZAS NÃO PAGAM DÍVIDAS. E se não pagam, terá dito o amigo, «não vale a pena estares triste. Cara alegre que tudo se resolve, sobretudo se fizer por isso…»
O ditado popular — tristezas não pagam dívidas — chama a atenção para o facto de que o que paga a dívida é mesmo o pagamento e não a tristeza ou a má disposição. Por isso, a boa questão, tanto para o devedor e o seu amigo, como para o credor, é que comportamento ou atitude levará mais depressa a saldar a dívida. E aqui a Sabedoria Popular junta-se ao que diz a investigação contemporânea das ciências comportamentais: ser bem-disposto é o melhor para a DÍVIDA. Alegres e bem-dispostos trabalhamos melhor, aproveitamos mais as oportunidades e conseguimos melhores resultados. Hoje, sabe-se que a alegria, o optimismo, a Esperança melhoram a química corporal, têm consequências positivas na Testosterona, a harmonia da confiança e da acção competitiva, na Dopamina, a química do cérebro que gera a sensação de realização, na Adrenalina, que nos foca e dá energia, rapidez e capacidade de acção, no Cortisol, a harmonia do stress, etc., etc..
Mais alegres e bem-dispostos temos melhor percepção, os nossos sentidos captam mais, temos melhor cognição, raciocínio e capacidades de entendimento, temos mais energia, menos stress e maior resistência ao cansaço. Satisfeitos temos mais confiança e arriscamos mais. Quem duvida?
Os vários estudos sobre o assunto têm descobertas interessantes. Por exemplo, as pessoas optimistas vivem, em média, mais 12 anos. As mais bem-dispostas têm menos doenças, atingem mais vezes os objectivos profissionais e ganham mais Dinheiro ao longo da Vida — “mais 30%, em média”, refere Sonja Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia (EUA), na obra “Os Mitos da Felicidade”.
Mas as tristezas não pagam dívidas, a alegria, por si só, também não paga; nada de entusiasmos. O trabalho sério, honesto, dedicado e esforçado, a persistência e a aprendizagem, bem como a capacidade de planear, trabalhar e adiar recompensas fazem parte da atitude certa, que não só vai pagar dívida como inicia uma outra história, de desenvolvimento e motivação, que vai bem mais longe.
A boa-disposição, «a cara alegre», mesmo quando já estivemos bem melhor, ajudam. Em geral, a boa-disposição traz maior produtividade, mais promoções, maior estabilidade familiar e social, maior capacidade de reacção, de adaptação e de Sucesso. Em resumo: Tristezas não pagam dívidas, mas OS ROUBOS E AS FALCATRUAS de alguns dos nossos governantes e políticos — evidentemente com excepções! — são «o reverso da medalha» de tudo aquilo que acabamos de mencionar acima.
Ou seja: quem rouba ou comete “desvios e falcatruas” devia estar triste e verdadeiramente arrependido, e devia abrir o jogo e confessar “os seus crimes”. Mas, como todos nós sabemos e assistimos, infelizmente, não é isso que acontece e todos eles se escondem por detrás «do dito pelo não dito», com (alguns) Juízes e Advogados de Acusação que deviam apurar as verdades e condenar, posteriormente, sem apelo nem agravo, todos aqueles que são conhecidos, a começar pelo mais alto Governante da Nação (actual e anterior) e a acabar em alguns Ministros e Directores Nacionais que todos conhecemos quem são. Mas nada acontece, antes pelo contrário, estão todos felizes e alegres.
E a verdade é que a justiça e todos aqueles que deviam-na representar e deviam exercer e aplicar as leis nada fazem para julgar e apurar responsabilidades (ou fazem muito pouco), e por vezes até acabam por ser coniventes com a “corja” que está identificada e que não “ganha juízo”.
Por isso são anafados, bem parecidos, fisicamente elegantes e risonhos. E proliferam em Moçambique como se estivessem cá a passar umas férias merecedoras com a Família, já que o nosso País continua a ser um País sem leis e brando, uma vez que não condena quem já devia ter sido condenado, independentemente de quem quer que seja, governantes, meros políticos, directores nacionais ou provinciais, meros cidadãos, desde que responsáveis por actos ignóbeis e reprováveis contra a Soberania e Democracia de um País sério e que há muito continua “em cheque”.
Basta continuarmos «a ser o alvo diário das “bocas” de toda a Comunidade Internacional» — pelas piores razões — que nos envergonha e acaba por nos deixar marginalizados e impotentes.
Efectivamente, alguns dos nossos governantes — independente das suas funções e responsabilidades — continuam “à solta” e impunes, e já deviam ter sido condenados e estarem a cumprir penas pesadas no “xilindró” . Mas todos eles, graças a Deus, felizes, contentes e bem de saúde, com “o taco” bem “guardadinho” em Paraísos Fiscais, aí estão, satisfeitos e a gozarem com todos nós “à fartazana”.
Palavras duras, acusações fortes? Sim, concordamos que são. Mas de que servem, ao fim e ao cabo, estes AVISOS que já não são mais do que “lamentos surdos”, pois sabemos que não têm tido o impacto que deveriam ter há muito tempo…?! De nada servem, eis a conclusão triste a que chegamos.
E mais uma vez recordo o saudoso jornalista e amigo Carlos Cardoso, que dizia, com ironia, «que em Moçambique nada acontece àqueles que nos enganam e roubam. Por isso é que o País e o Povo continuarão sempre “sofredores” e à mercê de uns tantos larápios que habitam impunemente entre nós…» (sic).
Sim: se as tristezas não pagam dívidas, as alegrias, as aldrabices, os desvios deliberados, os roubos e as falcatruas sistemáticas parece que pagam, e por isso ninguém vai preso, eis a conclusão a que chegamos. E assim vai a nossa Liberdade e a nossa Democracia em Moçambique, “à Beira Índico Implantado”, «como se fossemos um mero e desgraçado “País das Bananas”» — dir-nos-ia um leitor revoltado com este estado de situação a que chegamos. Há que esperar por dias melhores. Mas até quando não sabemos…
Facebook Comments