No passado dia 28 de Março, completou-se exacto um ano desde que a Total decidiu abandonar as actividades em Afungi, distrito de Palma, província de Cabo Delgado, colocando uma incerteza no projecto de 23 mil milhões de dólares. O representante da Total Energies em Moçambique, Maxime Rabilloud, destaca a relevância do projecto de Gás Natural Liquefeito (GNL) e, pessoalmente, “espera que a Total nunca saia”, mas o que aconteceu em Palma foi “trágico” e apesar da Total ser uma empresa “cidadã”, ela não vai “expor a vida de colaboradores moçambicanos numa situação de extrema (insegurança)”, refere, cimentando ainda mais a indecisão sobre o regresso das operações
Para ilustrar que para a Total Energies mais vale a segurança das pessoas que os interesses da empresa, Maxime Rabilloud deu exemplo de Mianmar, onde abandonou as actividades depois de um golpe do Estado protagonizado pela Junta Militar, que colocou no poder um militar, derrubando e detendo o Governo liderado por Aung San Suu Kyi.
O facto gerou uma crise de Direitos Humanos, o que forçou a empresa a abandonar as suas infra-estruturas. Embora trata-se de uma situação diferente da de Cabo Delgado, o exemplo de Mianmar foi evocado por Rabilloud para mostrar o compromisso da empresa quando se trata de vidas humanas.
“Perdemos nossos investimentos porque consideramos que os Direitos Humanos que são direitos fundamentais não condiziam mais com o mínimo ponderável para empresa. Bom, não paramos nosso projecto em Moçambique por causa dos direitos humanos, mas os eventos que lá passaram foram trágicos, foi um desastre, chegamos num momento em que não dava mais para operar frente a situação factual, então nós saímos”, disse Rabilloud, sem esconder o desconforto em falar do assunto.
Prosseguindo, referiu que “hoje em dia, infelizmente, as condições para relançar o projecto ainda não foram criadas, muito embora houve, do lado de segurança, melhorias”.
Essas declarações divergem com a posição oficial do governo que garante estar já reposta a normalidade, de tal sorte que tem instruído os funcionários públicos dos distritos afectados a voltar para os seus postos de trabalho.
Fora dos benefícios do Projecto GNL, o representante da Total Energies foi confrontado sobre as consequências da exploração de gás, num contexto em que a agenda global é a aposta em energias limpas. A resposta de Rabilloud é de que é preciso trabalhar-se as ideias e caminhar-se junto, argumentando que actualmente existem tecnologias que permitem desenvolver ou explorar esses tipos de recursos sem danificar o subsolo.
No caso de Cabo Delgado não há fracturação de rochas, mas “é usado o próprio gás que cria um fluxo de pressão natural para sair”, disse. Rabilloud, reiterando que a empresa investe para ter retorno financeiro a semelhança de qualquer outra empresa, mas há filosofia e propósito atrás disso: “gerar energia para todos”.
“Para nós, Total Energies, o investimento é fundamental, Moçambique é um projecto estratégico. O projecto LNG é estratégico, mas não só, todas as áreas que mencionei da transição energética, a Total Energies vê esse potencial em Moçambique e gostaria de ser parceiro. Estar junto com Moçambique para desenvolver essas novas áreas”, sublinhou o representante da multinacional.
Total desafia Universidades a formar com altíssimos padrões de qualidade
Rabilloud falava durante uma aula inaugural da Universidade de Maputo (UP-Maputo), que decorreu sob o tema “Gás e transição energética”, mas, apesar de ter recusado falar à imprensa sobre a Total, do plenário saíram questões incómodas, que colocam a Total como uma empresa “chantagista” ao condicionar o retorno.
A escolha do tema, de acordo com o reitor da UP, Jorge Ferrão, vem desde o ano passado, quando aquela universidade introduziu o doutoramento em energia e “queremos capitalizar abrindo espaço para um debate sobre a questão do gás. Por outro lado, nós somos parceiros do Instituto Nacional de Petróleo (INP) e temos seguido essa agenda sobre os próximos caminhos e acho eu que a Universidade tem que se antecipar, ver as tendências do mundo e tentar capitalizar em cima daqueles que são os nossos principais recursos”.
“Eu sempre persegui com muito interesse esse debate de que temos que formar e não me oponho a isso, mas também tenho consciência de que essas empresas têm um nível de exigência muito alto, e tem equipas que são formadas com muito automatismo, então eles retiram para as suas operações a melhor pessoa das Filipinas, da Indonésia, de Moçambique, então vamos formar mais temos que ter a consciência de que precisamos ser melhor do que qualquer outra pessoa do mundo. Não é só ser moçambicano e pensar que vou trabalhar porque o recurso já é meu, temos que ir para os altíssimos padrões”.
De resto, o representante da Total Energies disse ser vontade da empresa que o GNL seja o mais limpo do mercado, reconhecendo que o Governo tem impondo às empresas a observação desse quesito.
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