A activista Graça Machel desafia os movimentos feministas a serem ponte e voz de todas as mulheres para que haja legitimidade, credibilidade e reconhecimento das várias organizações que defendem os direitos das mulheres nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
Neila Sitoe
“Somos movimentos feministas, somos organizações, mas não lutamos pelo básico, mas sim pelo reconhecimento de que a nossa legitimidade só poderá vir quando formos capazes de exprimir e expressar aquilo que são as lutas, desafios, aspirações, exemplos e sonhos de todas as mulheres de cada um dos nossos países. Esse é primeiro desafio que quero colocar ao movimento feminista. Segundo, desafio as organizações feministas a serem a voz de milhares de mulheres nas diferentes categorias onde se encontram”, disse.
A activista falava, esta segunda-feira, durante o Fórum dos Movimentos e Colectivo de Mulheres, que junta movimentos feministas de todo o país e dos PALOP (Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe), com o objectivo de reflectir sobre a inclusão, desafios e perspectivas da participação social, política e económica da mulher desses países.
“A CPLP é uma comunidade que parte da diversidade para construir a igualdade, reconhecemos que ainda que tenhamos uma história comum que nos conduziu a independência dos nossos países, somos nações e somos povos diversos onde estamos localizados, mas em qualquer um dos países a diversidade é que caracteriza o nosso eu e a maneira como nos expressamos e como agimos, a partir da diversidade para construir o eu colectivo”, prosseguiu a activista.
Adiante, acrescentou que é preciso conhecer a experiência de cada país, com rigor para que os activistas sejam ponte destas mulheres que representam, por isso é preciso conhecer, valorizar e desenvolver os movimentos feministas através dos perfis de cada país, para conhecer as prioridades de cada país e cruzar aquilo que são as prioridades comuns.
Graça Machel disse que a identidade não se limita à língua, a identidade assenta nas lutas que os povos travam, no quotidiano, baseados em valores concretos, não são valores abstractos. As pessoas só se identificam quando vêem e sentem que a outra pessoa se comunica com elas. E não é a língua que faz os povos comuns, mas o que os faz comum são as lutas e a busca de promoção de espaços e valores comuns.
“Os principais valores comuns pelos quais lutamos são a não discriminação em qualquer espaço onde estejamos, a dignidade humana da mulher independentemente do seu extracto social seja respeitada e valorizada, e ai começa o desafio dos movimentos que trazemos e que queremos que se fortalecam. O desafio começa em nós próprios, reconhecermos que a dignidade de toda e qualquer mulher no nosso país e no nosso espaço comum tem de ser conhecida, respeitada e valorizada”.
Para a activista, os movimentos feministas são pontes, porque ao se reuniram e falarem da mulher, devem ter consciência clara e profunda que estão a falar em torno de milhões de mulheres e são a ponte daquelas que não estão nas organizações, em que tem a obrigação de conhecer as suas lutas, as suas aspirações, os seus desafios, os seus desejos mais profundos.
“Devem ser a voz de mulheres que ainda não tem o espaço de se exprimir, por tanto a responsabilidade do movimento é reconhecer, valorizar e criar os espaços para que depois todas as mulheres dos nossos países tenham espaços onde a sua dignidade seja respeitada. É preciso resistir à tentação de ver, exprimir a realidade de acordo com a nossa perspectiva e de tentarmos a todo o custo exprimir a realidade na perspectiva das mulheres que nós representamos”, frisou.
O Fórum lusofuno feminista africano é organizado pelo Observatório das Mulheres, a WAFA e o Fórum Mulher, e terá a duração de dois dias, onde mulheres poderão partilhar as suas estórias de vida e gerar soluções para a representatividade destas nos processos de tomada de decisão nos seus países em todos os níveis.