Homens continuam indiferentes ao debate sobre igualdade de género

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A participação de homens em fóruns de debates sobre a igualdade de género ainda é bastante fraca, o que, segundo activistas sociais, tem colocado em causa o sucesso da luta contra as desigualdades.

Neila Sitoe

A falta de informação e percepção sobre o que realmente é a igualdade de género e o que se pretende alcançar pode ser justificada pela fraca participação ou falta de interesse dos homens em eventos organizados com a finalidade de debater sobre estas temáticas.

Adão Paia, activista social e especialista em masculinidades positivas, diz que a fraca participação dos homens nos debates sobre a igualdade de género não é algo actual e tende a agravar-se num contexto onde as normas sociais, o poder patriarcal e a tradição são muito expressivos.

“No início das discussões sobre a necessidade da igualdade de direitos, de género, de oportunidades entre outras questões, os homens, devido a forma como foram socializados, ficaram alheios a estas discussões e, automaticamente, enquanto os movimentos sociais avançavam, eles ficavam desatualizados, o que fez com que não percebessem que eles também devem contribuir para o alcance desta igualdade, e mais do que ser visto como autores das desigualdades sociais eles devem ser autores da mudança. Devo reconhecer que o homem também é vítima do sistema (da sociedade, da tradição e da cultura), onde nem sequer pode expressar uma fraqueza porque deve ser homem, e este deve ser sempre forte”, lamentou.

Para Paia, muitos homens, principalmente dos países africanos, pensam que com a igualdade de género as mulheres querem tomar os seus lugares, passando a mandar neles, e para piorar a situação não mais os respeitarão.

“Eles devem compreender que a igualdade de género é um dos principais caminhos para a erradicação da pobreza, por exemplo, e a sociedade não é capaz de desenvolver enquanto ainda existirem grupos vulneráveis (mulheres e raparigas), e esta vulnerabilidade muitas das vezes é causada pelo homem, algo que não é propositado, mas foi assim que ele foi socializado”, observa o activista social.

Medo de ver as mulheres se tornarem autónomas

Leandra Chivure, activista social e assistente de género

Por seu turno, André Cossa, oficial de programas de engajamento masculino e boas práticas, acredita que o fraco envolvimento do homem nestas temáticas é movido pelo medo de ver as mulheres a se tornarem autónomas e não mais dependerem deles como foram ensinados desde a tenra idade.  

“O machismo, o patriarcado e as normas sociais tóxicas eram muito predominantes no país, o que fez com que os homens nascessem sabendo que eles é que devem ser provedores, por exemplo, e as mulheres devem ser em tudo submissas a eles, e quando pensam na ideia das mulheres serem autónomas e participativas dentro da esfera social, política e económica do país cria-lhes um certo medo de perder o seu espaço”, explicou.

Para o activista, a falta de participação dos homens contribui para um grande atraso na luta contra a desigualdade de género e contribui para atrasar o desenvolvimento do país.

Já no entender de Leandra Chivure, activista social e assistente de género, o homem precisa ser educado para que se interesse por questões de género, porque é inconcebível no nível em que o país está, concernente a igualdade de género, ainda haver mulheres a serem assediadas para poderem ocupar uma vaga disponível numa instituição; com todas as leis que o país tem ainda registar níveis altos de violação sexual, instituições que violem direitos humanos básicos dos colaboradores, principalmente se forem mulheres, e mais factores que aumentam as desigualdades de género.

“O homem foi ensinado que existem assuntos de mulheres pelos quais ele não deve se interessar, existem coisas que o homem não deve fazer, que se fizer é conotado como fraco, entre outros assuntos que contribuam para desigualdades de género ainda dentro da família”, sustenta Leandra, destacando que “o envolvimento de homens assim como de mulheres em todos os assuntos do país poderá fazer com que alcancemos a verdadeira igualdade de género”.

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