Evidencias

Roque Silva saiu derrotado, humilhado e pode cair em breve

 

Tal como previmos na nossa última edição, a eleição do novo secretário-geral da Organização da Juventude Moçambicana (OJM) foi um parto a cesariana que abriu feridas profundas no seio dos camaradas, com o secretário-geral, Roque Silva, de relações cortadas com Caifadine Manasse, saindo como o principal derrotado depois de ter sido confrontado, na passada quinta-feira, no Comité Central do braço juvenil da Frelimo, pelos jovens quando tentava impor Hendro Nhavene como candidato único. Os congressistas não só desacataram o número dois do partido, como também forçaram a retirada do seu candidato, alegando estarem a cumprir orientações de Filipe Nyusi, segundo as quais somente jovens com menos de 30 anos podem assumir um cargo de direcção na OJM. Como tal, acabou sendo eleito para substituir Anchia Talapa, o jovem Silva Livone, natural da Zambézia, uma “criação” secreta de Caifadine Manasse e Osvaldo Peterburgo, dois grandes pivots da estratégia de Celso Correia e Filipe Nyusi, que até a passada quinta-feira não era tido nem achado entre os candidatos.

Nelson Mucandze e Reginaldo Tchambule

Desde o passado Sábado, a Organização da Juventude Moçambicana (OJM), braço juvenil da Frelimo, tem um novo secretário-geral. Trata-se de Silva Livone, natural da província da Zambézia, ao cargo de secretário-geral, em substituição de Anchia Talapa.

O jovem foi eleito numa eleição a dois bastante concorrida, mas até a passada quinta-feira era um verdadeiro outsider. Venceu com 60 por cento dos votos, contra 40 por cento do seu opositor, de nome Gemésio Cândido, oriundo de Cabo Delgado, que até a última hora era dado como fauna acompanhante e se esperava que retirasse a candidatura.

Nenhum dos dois que foram à disputa final estava entre os candidatos que manifestaram vontade de concorrer. Acabaram sendo empurrados pelo muro à última hora, na quinta-feira, durante a reunião do Comité Central. Nomes como Endro Nhavene, Gudson, Guiló Ndove e Mariana Cupene acabaram caindo por terra. 

Afastar estes potenciais concorrentes fazia parte da estratégia para abrir espaço para as armas secretas da ala que neste momento cerca o Presidente da República. Na verdade, a OJM era o último reduto por conquistar na Frelimo, depois da ala Nyusi ter conseguido impor Mariazinha Niquice e Fernando Faustino para a OMM e ACLIN, respectivamente.

Silva Livone era candidato de Osvaldo Petersburgo e Caifadine Manasse, dois jovens influentes da Zambézia, que conseguiram humilhar Roque Silva, que saiu do encontro da OJM com a sua legitimidade como secretário-geral posta em causa. Segundo apurou o Evidências, nem o primeiro secretário da Zambézia sabia que Livone era candidato.

Na verdade, Gimésio Cândido, candidato derrotado, não passava de fauna acompanhante. A estratégia passava por ele desistir na fase final da eleição para permitir uma derrota avassaladora de Silva Livone.

Os “donos da situação” tentaram convencer Hendro Nhavene a concorrer a membro do Comité Central da OJM, como prémio de consolação, mas este recusou-se, alegando que se não servia para secretário-geral também não servia para o Comité Central. Após essas palavras, Hendro foi ovacionado por todos os congressistas.

Candidato foge no momento de votação

No entanto, já no princípio da tarde de Sábado, Gimésio Cândido ganhou mais força quando foi eleito como o segundo mais votado para membro do Comité Central da OJM, ficando apenas atrás de Jacinto Ferrão Nyusi, filho do Presidente Nyusi. Enquanto isso, Livone veio da Zambézia como membro do Comité Central, como forma de fugir o crivo da eleição central, o que mostra que sempre foi uma arma secreta.

Embalado por ter sido segundo mais votado, Gimésio Cândido acabou ganhando força e em vez de retirar a candidatura avançou fazendo campanha, o que nalgum momento embaraçou os actuais “donos da situação”, que o haviam montado como fauna acompanhante.  

A situação passou a ser embaraçosa de tal forma que todos os “búfalos feridos”, com destaque para Roque Silva e Hendro Nhavene passaram a depositar suas últimas esperanças em Gimésio, lançando-se fortemente para se eleger como secretário-geral da OJM.

Roque Silva, que fez pessoalmente campanha para Hendro Nhavene, orientando os primeiros secretários provinciais para que os delegados provinciais apostassem no seu candidato. Já tinha garantido apoio de nove províncias e a vitória era certa. Todos que apoiavam Hendro passaram a ter Gimésio como última esperança.

No entanto, quando tinha tudo para ganhar, Gimésio desapareceu na hora da votação, o que gerou alguma estranheza e confundiu a sua base de apoio. Evidências apurou que o jovem terá sido pressionado a cumprir o acordo de ser somente fauna acompanhante. Mesmo não estando na sala, acabou conseguindo 61 votos, bem próximo do vencedor, com 93.

Evidências sabe que na quinta-feira, de manhã, houve uma reunião na Presidência da República, onde se discutiu as directrizes da OJM. Participaram do encontro antigos secretários-gerais da “jota”, com destaque para Basílio Muhate, Pedro Cossa, Mety Gondola e Anchia Talapa, bem como Licínio Mauae, antigo dirigente e membro influente, e Alcinda de abreu, membro fundadora.

A receita para qualquerizar um secretário-geral

Tudo começou quando, ao seu estilo característico, Roque Silva, na reunião do Comité Central da OJM, na passada quinta-feira, um dia antes do arranque do II Congresso, decidiu, em jeito de concertação com os jovens, reforçar uma mensagem que já havia lançado aos secretários provinciais do partido para se apoiar um único candidato, no caso Hendro Nhavene, que até aquele momento era o mais favorito.

Para a sua surpresa, segundo apurou o Evidências, os jovens, de forma destemida, confrontaram o secretário-geral, chegando a dizer que não queriam um candidato imposto pela direcção do partido.

Houve uma pequena troca de mimos, mas os jovens, teleguiados a partir de fora, mostraram que estavam até dispostos a cruzar a linha vermelha da disciplina partidária para garantirem que o candidato de Roque Silva caísse.

Jovens vingam-se de Roque Silva

Como se tal não bastasse aproveitaram para se vingar de Roque Silva, que recentemente denunciou uma violação dos estatutos na Organização da Juventude Moçambicana (OJM), ao referir que mais de 100 membros do comité central do órgão encontram-se em situação irregular por terem ultrapassado os 35 anos, idade limite de militância no braço juvenil do partido no poder.

 

Usando do seu próprio veneno, os jovens impuseram que só podiam concorrer jovens com menos de 30 anos, o que significa que não havia nenhuma hipótese para que Hendro Nhavene e outros candidatos que já vinham fazendo concorressem.

 

O secretário-geral, habituado a impor as suas ideias e dono da expressão “não basta você se querer, é preciso o partido te querer”, saiu da reunião humilhado e cabisbaixo. Estava confirmada dessa forma a primeira grande derrota de Roque Silva, que viu Filipe Nyusi, no dia seguinte, no discurso de abertura do II Congresso da OJM, a reforçar a ideia de que para assumir um cargo de direcção tem de ser até aos 30 anos, baseando-se na definição de jovem das Nações Unidas. No mesmo dia, a OJM acabou revendo os seus estatutos, sacramentando esta nova directiva.

 

A segunda derrota para Roque Silva, que pode não sobreviver no Congresso do partido, foi ver um candidato montado por Caifadine Manasse, que está de relações cortadas, vencer e se tornar secretário-geral da OJM. Trata-se de um teste de forças que diminuiu o seu poder e colocou em cheque a legitimidade de Roque Silva.

 

Com este novo alinhamento, Caifadine Manasse, de quem há um consenso de que irá “cair” no Comité Central ou mais tardar do Congresso, poderá estar a buscar recuperar a confiança que perdeu por causa das suas clivagens com Roque Silva.

Pode ser o último Comité Central de Roque Silva como SG

O Comité Central do partido Frelimo, reúne-se na Matola, a partir desta sexta-feira (27) até o Domingo (29), devendo discutir, dentre vários aspectos os documentos orientadores do XII Congresso que terá lugar em Setembro próximo, com destaque para o relatório do gabinete central de preparação do congresso da Frelimo, assim como o relatório do Comité de Verificação do Comité Central.

Segundo apurou o Evidências, este poderá ser o último Comité Central de Roque Silva como secretário-geral do partido. No penúltimo fim-de-semana (13 e 15 de Maio), a Comissão Política do partido, alargada a alguns quadros, esteve reunida em Bilene, onde um dos pontos fortes foi a discussão do futuro de Roque Silva.

É provável que Roque Silva não saia do Congresso de Setembro ainda secretário-geral do partido e para o seu lugar, o encontro de Bilene, apontou o nome de Mety Gondola, aliado de Celso Correia, que esteve como um dos convidados e endossou a sua candidatura. No entanto, nos corredores avança-se a possibilidade de Fernando Faustino e outros quadros também entrarem na luta.

Exit mobile version