- Província de Maputo enaltece feitos que encorajam retenção de menores na escola
Perto de 1500 crianças de Djuba, no posto administrativo da Matola Rio, distrito de Boane, na província de Maputo, celebraram em comunidade o dia da criança Africana, 16 de Junho. O evento que proporcionou uma tarde de alegria e reflexão, conduzido pelo Governador da Província de Maputo, Júlio Parruque, terminou com oferta de kits escolares e apelos aos adultos para que participem no combate dos males que perturbam o crescimento de menores.
Neila Sitoe
É um convívio que se tornou numa tradição em Djuba, sempre que chega 16 de Junho, dia da criança Africana. É um dia de diversão no espaçoso parque de diversão, oferecido há alguns anos pela “família Muzila” às crianças da comunidade e não só para que tenham a oportunidade de brincar e se divertirem num ambiente sadio, como, aliás, recordou Júlio Parruque, governador da província de Maputo.
Como tem sido habitual, no passado dia 16 de Junho, as crianças participam de uma diversidade de brincadeiras, com destaque para sorteios e dança, em que os vencedores acabaram premiados. No entanto, como o dia é de festa, todos voltaram para casa com kits escolares, oferecidos pelo patrono do evento, que luta para que as gerações vindouras não sejam corrompidas ainda em tenra idade pelas vicissitudes da vida.
Aos balouços, no escorrega e noutra diversidade de brinquedos foi-se o dia dos petizes em meio a diversão necessária, que lembra aos petizes a máxima de que o amanhã depende das boas escolhas de hoje e sobretudo do aprendizado escolar. E não é para menos. A província precisa: Só no ano de 2020, 3100 raparigas abandonaram a escola, e em 2021 o número viria reduzir para 1926 crianças. Um acto animador, mas que coloca as autoridades da província de Maputo ainda em alerta.
A nível de gravidezes precoces, foram vítimas, naquela província de Maputo, 128 raparigas em 2020, mas o número viria a subir para 245 em 2021. Estes são números que reflectem a problemática de uniões prematuras, que se situaram na ordem de 107 em 2020 e 40 em 2021.
Adiante, o governador destacou que estes e outros males têm contribuído de forma muito negativa para o crescimento dos menores, mas também são esses males que contribuem para o aumento da desistência escolar daquela faixa etária.
“Temos muitos que abandonam a escola por causa de casamentos forçados, de gravidezes antes de tempo e da violência doméstica”, sentenciou, para depois condenar, com veemência, “aqueles que fazem crescer rápidos as raparigas”.
Ainda na senda da problemática da criança, dados partilhados pelas autoridades da província de Maputo indicam que foram registados com muito entusiasmo a assistência de 5100 crianças em situação de vulnerabilidade, um exercício que permitiu a reintegração das mesmas nas escolas.
“No ano passado, registamos com muito entusiasmo a assistência de 5100 crainças em situação de vulnerabilidade, onde foram integradas nas escolas, e no mesmo ano reunificamos 74 crianças do sexo feminino, que estavam em uniões forçadas”, disse o governador da Província de Maputo, Júlio Parruque, que falava por ocasião do dia da criança africana, no evento organizado pelo empresário local e patrono de iniciativa, Samuel Muzila, que tem se mostrado sensibilizado pelos desafios das crianças.
Mais de 1300 crianças estiveram no evento
O evento que se realiza anualmente no mesmo espaço, este ano, superou todas as expectativas em termos de organização e participação de petizes. Foram ao todo mais de 1300 crianças idas não só de Djuba, como também de bairros circunvizinhos, que depois de se divertirem e refastelarem, levaram para casa um kit de material escolar oferecido pelo patrono do evento.
É um gesto que foi enaltecido pelo governador, que reconheceu o contributo da “família Muzila”, que anualmente têm contribuído para que várias crianças não passem esta data “em branco”.
“Este é um grande contributo para o Governo, nós queremos parceiros assim, que olham para as necessidades que temos à nossa volta, e as crianças precisam. Gostava de destacar que estamos a celebrar esse dia num parque infantil desta família que disponibilizou o espaço para um bem público. É este o exemplo que queremos, de menos egoísmo na gestão da terra”, sublinhou Parruque.
O evento que juntou professores e alunos foi organizado pela Dumadumana Servicos Lda, empresa da qual Samuel Muzila é o responsável. Ao seu estilo característico, na sua intervenção, destacou que as melhores ofertas que devem ser dadas às crianças são oportunidades para melhorar a educação e estimular os mesmos a estudarem.
“A educação é que cria o homem e o prepara para os grandes desafios do amanhã. Se faltarmos a educação estaremos a roubar o futuro dos nossos filhos e netos”, afirmou, para depois anunciar mais kits às crianças que enfrentam o terror da instabilidade em Cabo Delgado.
Convidado a se pronunciar sobre os desafios da educação, defendeu que as crianças devem ser dotadas de valores que retratam e exaltam a cultura local, aliás, defendeu a necessidade de se reservar o 16 de Junho, porque reflecte, em parte, a história em que Moçambique é parte.
“Porquê não ser feriado, para que as crianças passem com os pais e aprender sobre nossa história”, desafiou o empresário.
O dia 16 de Junho é uma data que lembra o massacre de Soweto, na Africa do Sul, em 1976, quando milhares de crianças e adolescentes em idade escolar foram assassinadas pelo regime do apartheid na tentativa de protestar contra a má qualidade da educação dos negros. Em Moçambique, a data coincide com o dia da moeda nacional e do massacre ocorrido em Mueda, na província de Cabo Delgado.
Facebook Comments