AS DIFERENÇAS ENTRE O ENSINO PÚBLICO E PRIVADO

OPINIÃO

Afonso Almeida Brandão

Os famosos “rankings” que elencam a Escola Portuguesa em Maputo e dos Estabelecimentos de Ensino (principalmente) em Portugal, mediante os resultados dos seus alunos nos exames nacionais, assunto que fez manchete e que agitou a Comunicação Social recentemente, só serviu mesmo para alimentar páginas nas redes sociais, a cumprir a tradição desde que foram inventados. Raios os partam!

Para quem desconhece, o processo passa por ordenar, inferir e proceder a uma análise pouco criteriosa e pouco credível, apesar da objectividade dos resultados, pois acabam (sempre) por fazer comparações sobre quais as melhores Escolas do País e quais as piores — isto naturalmente em qualquer parte que seja.

Trata-se de uma depuração deturpada, sendo que compara realidades escandalosamente incomparáveis. Um autêntico desfile de vaidades e de aparências, o mesmo será dizer que as crianças pobres perderam e as ricas ganharam, certo? Que grande novidade!!!

As notícias são veiculadas aparentando tratar-se de algo equitativo ou justo. O que não é de todo verdade, os resultados representam uma verdadeira falácia, pela injustiça que encerram. E a Comunicação Social — sobretudo a portuguesa, embora a moçambicana não fique muito atrás —, que conscientemente amplificam e reproduzem “estas patranhas”, prestam-se a representar o papel de um desbragado braço armado de interesses particulares, a fazer-lhes propaganda descarada, pisando no trabalho duro de tantos Professores e guetizando ainda mais tantos miúdos. E aqui os alunos matriculados na Escola Portuguesa, em Maputo, “apanham por tabela”, naturalmente. Cá como Lá!

Que sentido faz uma corrida entre um cavalo e um caracol? Acham porventura que se o caracol se esforçar muito, imprimir toda a sua vitalidade, irá ganhar a corrida?

Rankings das escolas, só a própria expressão aquilatada já diz quase tudo sobre o que se pensa sobre a Educação. Não passa de um instrumento ao serviço de uma Agenda Política para beneficiar a Escola Privada em detrimento da Escola Pública — convenhamos.

Como se não bastasse, trata-se de algo completamente distorcido, enviesado, uma total aberração. As escolas são completamente diversas, “faunamente” falando: as Privadas são equinos, enquanto que as Públicas são moluscos. E não é por se fazerem estas ridículas comparações que se eclipsam as discrepâncias, os constrangimentos Económicos, Sociais, Geográficos e a prática dos colégios, de escolherem os seus alunos conforme o pedigree.

O Ensino Privado — e podemos citar o exemplo da Escola Portuguesa de Maputo — tem maioritariamente resultados melhores nos exames porque faz uma concorrência desleal com a maioria das Escolas Moçambicanas, embora as Disciplinas e as Matérias, em termos de comparação e equivalência, sejam diferentes, como não podia deixar de ser. Em grande parte porque recruta e recebe alunos por “castas”, os chamados “filhos” dos Políticos, Governantes da FRELIMO e de outras “classes de graúdos”, com apoio escolar e explicações privadas, transporte à porta dos “papás”, das “mamãs” ou simplesmente dos “motoristas” que vêm buscar “os Meninos”— e instalações de primeira. Isto sobretudo em Maputo. Quem não conhece entre nós a Moderna Escola Portuguesa?

Contudo, embora os rankings pretendam passar uma imagem de imaculada objectividade, de um facto palpável e comprovado, encerram, no entanto, uma grande aleatoriedade, pois os seus principais indicadores, os Alunos e os Professores, são variáveis e estão em permanente mutação, temos de reconhecer. Não existe fundamento científico nestes resultados, há apenas um negócio (que até há uns anos atrás os Trimestre eram pagos em Dólares USD ou em EUROS), além de constituir uma repetida e gigante promoção, há que dizê-lo. Por outro lado, o METICAL muito raramente era utilizado como forma de pagamento nos estabelecimentos de ensino moçambicano, incluindo na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), nas Décadas de 80 e 90 do Séc. XX.

Se são os rendimentos que garantem o acesso aos colégios, não resta a dúvida de que é de um privilégio que se trata, e “estas classificações batoteiras” caluniam a Escola Pública de facilitista e de prestar um serviço público de menos boa Qualidade, quando na realidade foi a Escola Pública, e não a(s) Privada(s), o principal garante do nosso desenvolvimento. Fez-nos passar de 30% de Analfabetismo, em 1974, para uma percentagem residual.

As Escolas Públicas Portuguesas ou as Escolas Moçambicanas no nosso País albergam todos e têm obrigatoriamente de ser inclusivas — concluímos nós! —, porque é uma Escola pensada para todos: do mais miserável ao mais burguês, do menos capacitado ao mais capacitado, e mediante a realidade que possui cumpre o melhor que pode com os escassos meios que lhe são proporcionados, sobretudo com as Escolas do Ensino Moçambicano, onde os Professores e todo o pessoal Funcionário são miseravelmente pagos. Estabelecer comparações aleatoriamente entre escolas, sem atender às variáveis das equações e à Realidade Económica e Social de Moçambique e dos seus discentes, é ser-se no mínimo moralmente desonesto. Em Portugal já não será bem assim, porque as condições, apesar de tudo, são um pouco melhores, dado as condições do custo de vida e dos vencimentos em vigor (embora, insuficientes…)

A melhor garantia de sucesso de um aluno continua a ser o meio social de onde provém e os seus bastidores familiares. É contra a desigualdade social que actualmente a Escola Pública Moçambicana se bate. Todos os dias se trabalha para que os Alunos que a frequentam possam almejar melhor qualidade de vida do que as Gerações anteriores. E é urgente que se ACABE de uma vez por todas «com as falcatruas» de passarem Alunos de Ano Escolar, mediante pagamento antecipado dos Encarregados de Educação aos Professores por “debaixo da mesa”… E a verdade é que quase todos têm conhecimento desta triste realidade e não acontece nada a quem suborna e a quem é subornado… Será por falta de Fiscalização ou de Desinteresse e Compadrio?!… Deixamos a pergunta “no ar”.

A notícia metralhada pela Comunicação Social, seja ela qual for, é que a Escola Pública está a perder a luta, sendo certo que estes “rankings” servem apenas para estigmatizar as escolas que aparecem nos últimos lugares, como se não estivessem a cumprir bem o seu papel, à luz da ideia de que a Competição e a Meritocracia favorecem a aprendizagem. E por aqui ficamos

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