- Educação reporta novos erros sem corrigir os velhos
- ONP fala de sabotagem ao afirmar que há intenção de denegrir os professores
Até há pouco tempo os problemas de educação em Moçambique se resumiam nas infra-estruturas precárias, inconsistências no currículo e insuficiência de professores qualificados. Mas há alguns meses o grande dilema do sector são os recorrentes erros em manuais de ensino, manuais do professores, enunciados de provas e (até) em guias de correção, o que sugere cada vez a degradação do Sistema Nacional de Ensino (SNE) e o falhanço dos novos currículos. Em meio ao espanto devido aos erros graves de conteúdo e de escrita, verificados nas provas da 5ª, 6ª, 7ª e 9ª classes, na Cidade de Maputo e na Zambézia, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, dirigido por Carmelita Namashulua, continua a sacudir o capote, com o seu porta-voz a afirmar que esta é uma responsabilidade local, uma vez que as provas não são centralizadas. Já os professores falam de intenção de denegrir a classe, num contexto em que desdramatizar os erros que vieram denunciar mais uma vez o desastre em que está mergulhada a educação no país é a nova abordagem da instituição, que não passam muitos meses que sacrificou alguns bodes expiatórios para abafar o escândalo dos livros.
Nelson Mucandze
As mexidas regulares do currículo educacional estão se revelando desastrosas para a educação, e esta sabotagem, como uns chamam, ou incompetência, na opinião de outros, pode estar a afundar a educação, a julgar pelos resultados, no lugar de melhorar.
Há dois meses, o país discutia os erros nos livros que chegaram aos alunos seis meses depois do ano lectivo iniciar, e agora mais um escândalo veio assombrar o sector com erros básicos e de palmatória de escrita, e de conteúdos nas provas da 5ª, 6ª, 7ª e 9ª classes, na Cidade de Maputo e na Zambézia. Os erros constam dos enunciados e das guias de correção.
São erros verificados nas provas finais das disciplinas de Português, Matemática, Educação Visual e Ofícios e Ciências Naturais, que apresentam erros ortográficos, de conteúdo e até de cálculo.
No caso da prova da disciplina de Português, da 9ª classe, foram desafiados a encontrar estrofes e versos num texto de natureza narrativa. E na disciplina de Matemática, da 6ª classe, são ensinados que 64+36 é maior que 101. Contas feitas: 64 + 36 = 100, o que significa que o maior número é o da direita, 101. Mais do que isso, um outro guião de respostas, da 4ª classe, assume: 4521 + 8289 = 1810.
Na disciplina de Educação Visual, da 6ª classe, enumera e deixa ao critério dos alunos os tipos de desenhos conhecidos: “1. a) Os quatro (4) tipos de desenhos são: giz, lápis de carvão, lápis de cor, lápis de cera” – uma resposta que valia quatro valores. Entre outros casos, consta igualmente como destaque um enunciado com a cotação que vai até 40 valores.
“Há intenção de denegrir professores”, ONP
O porta-voz do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH), Feliciano Mahalambe, disse que não estava disponível para falar esta segunda-feira, mas, em resposta à questão do Evidências, disse que as provas eram de responsabilidades dos serviços provinciais.
No entanto, numa outra abordagem teria referido que as províncias estavam “em melhores condições de explicar o que está a acontecer”.
A Organização Nacional dos Professores (ONP) reconhece os erros ortográficos, de conteúdo e de cálculo nas provas trimestrais da 5ª, 6ª, 7ª e 9ª classes, em Maputo e na Zambézia. Entretanto, diz que há uma intenção de denegrir os professores e desvalorizar o seu trabalho.
A Organização Nacional dos Professores, nas palavras de Teodoro Muidumbe, seu secretário geral, “é preciso concordarmos que cada um que trabalha comete erros, diferente daquele que não trabalha, que só se ocupa em criticar, recolher o errado para publicar. Por que não fazem o contrário: louvar o trabalho que o professor está a fazer na escola, dentro das difíceis condições em que ele é sujeito?”, questionou Teodoro Muidumbe, secretário-geral da ONP.
Muidumbe considera que os erros foram cometidos por quem devia fazer a verificação final das provas, mas há pessoas com intenção de manchar a classe.
“A pessoa que fotografou estes enunciados já os encontrou com as partes erradas sublinhadas, o que significa que ele pegou rascunhos para publicitar. Mas, a pessoa que sublinhou os erros é o responsável pela correcção, que o fez para posterior correcção”, defendeu a fonte, que destacou que estes erros não terão impacto algum na qualidade das correcções das provas.
As provas em curso no país marcam o fim do segundo trimestre do presente ano lectivo, devendo os alunos ir de férias depois da próxima semana.
Luísa Diogo sugeriu que Namashulua se demitisse
Na entrevista que concedeu ao semanário Savana, a antiga primeira ministra, Luísa Diogo, que é actual presidente do Conselho de Administração do banco Absa, disse, aquando dos erros do livro da sexta classe e outros, que eram erros de incompreensões, que tem a ver com as lideranças, mas que num país com a cultura de prestação de contas a ministra poderia se demitir.
“Há países em que para você continuar a trabalhar bem e à vontade procura a reafirmação da confiança. Estou a dizer que, normalmente, nos países onde há cultura de prestação de contas, de brio profissional e de mérito há que começar a sentir que o mérito já não está a ser reconhecido. Eu preciso procurar a reafirmação da confiança. Era ir lá e dizer excelência aconteceu eu sei que não estou envolvida, mas é meu sector e eu respondo por ele, sinta-se à vontade. Então, o chefe de Estado decide o que vai fazer. Ninguém está a pedir a ninguém para sair”, disse na edição de 24 de Junho passado.
Mas a ministra não se demitiu, aliás, demitiu todos que estavam envolvidos no processo de avaliação do Livro, menos auto demissão. Sua permanência no cargo foi associada ao facto de ser esposa do secretário.
Facebook Comments