“Esse não é assunto da ACLIN… Perguntem a OJM”

DESTAQUE POLÍTICA
  • ACLIN “não está a tratar” o assunto do terceiro mandato de Filipe Nyusi
  • OJM está isolada e “chama” do terceiro mandato começa a perder força
  • Há rumores de que os combatentes estão desapontados com governação do primeiro civil
  • Fernando Faustino não concorda com o General Chipande

Desde Maio de 2021, quando uma influente camarada fez a proposta em pleno Comité Central, os rumores de uma suposta pretensão do Presidente da República, Filipe Nyusi, concorrer para um terceiro mandato têm vindo a ganhar consistência, facto que foi reforçado pelas lideranças da Organização da Juventude Moçambicana (OJM). Entretanto, a Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLIN), através do seu respectivo secretário-geral, Fernando Faustino, veio a terreiro pela primeira vez separar as águas. Para aquela que é tida como principal reserva moral do partido e que mostra bastante influência na indicação dos candidatos do partido, a probabilidade de um terceiro mandato para o actual chefe do Estado é um não assunto na Frelimo e desafia a OJM a indicar em que se inspirou para tão inusitado pedido.

Reginaldo Tchambule

Em 2021, durante a quarta sessão ordinária do Comité Central, Felizarda Paulino, antiga deputada da Assembleia da República e actual membro do Conselho de Estado, gelou a sala de reuniões da Escola Central da Frelimo, na Matola, ao propor que a vitória expressiva de 2019 cria condições para que Filipe Nyusi continue a dirigir o País até 2030.

Na altura, aquela inusitada proposta não teve o devido acolhimento dentro do Comité Central, contudo, um ano depois, ou seja, em Maio de 2022, os apelos inconstitucionais subiram de tom quando a antiga secretária-geral da OJM, Anchia Talapa, anunciou o apoio daquela organização juvenil para um terceiro mandato. Fazendo corro, no seu primeiro discurso após a eleição, Silva Livone, actual secretário-geral, também pronunciou-se nos mesmos termos.

No entanto, parece que o lobby do terceiro mandato não está a ter força suficiente para convencer os mais velhos. Nas duas sessões onde foi proposta a continuidade de Filipe Nyusi, a Organização da Mulher Moçambicana e a ACLIN não se pronunciaram a respeito, no entanto, o secretário-geral desta última organização social acaba de quebrar o silêncio.

De forma categórica, com um discurso polido e bem conseguido, Fernando Faustino pronunciou-se sobre alguns dos assuntos mais candentes da actualidade, tendo desvalorizado por completo qualquer tentativa de um debate sobre o terceiro mandato. Aliás, diz mesmo que isso não é assunto.

“Em nenhum momento, que eu saiba, ele (Filipe Nyusi) manifestou interesse em se recandidatar, e esse não é assunto da ACLLN; devem perguntar à OJM: em que se inspirou para dizer isso? Vocês devem saber o seguinte: nós somos uma organização muito forte.  Há pouco tempo nós tivemos o Comitè Central e este assunto que me aborda aqui não foi tratado”, desvalorizou Fernando Faustino, que em 2014 foi uma das pessoas consultadas pelo antigo Presidente da República sobre o futuro do seu sucessor, que acabaria por ser Filipe Nyusi.

Segundo Fernando Faustino, neste momento a preocupação do Presidente Nyusi “não deve ser nem terceiro, nem quarto, nem quinto mandato. A preocupação do Presidente Nyusi deve ser acabar com os insurgentes em Cabo Delgado, acabar com a fome em Moçambique, acabar com o custo de vida e com os bandidos que andam aí em todos os cantos”.

Estes pronunciamentos acontecem numa altura em que há rumores de que os antigos combatentes estão desapontados com a governação daquele que é o primeiro civil (Filipe Nyusi) a ser inquilino da Ponta Vermelha. Aliás, fala-se de uma suposta pretensão de devolver o poder a um combatente.

Fernando Faustino não concorda com afirmações do General Chipande

Numa curta entrevista à jornalistas em que foi questionado sobre vários assuntos, o secretário-geral da ACLIN foi confrontado com as declarações do General na Reserva, Alberto Chipande, que, há dias, afirmou que existe tribalismo em Moçambique, liderado sobretudo por gente do sul, que durante muito tempo abocanhou as oportunidades.

 

Muito cauteloso, Fernando Faustino disse respeitar o pensamento do homem que a história oficial (mas contestada) lhe atribuiu a autoria do primeiro tiro da Luta de Libertação Nacional, contudo não concorda com este.

 

“Eu não concordo, porque a nossa arma secreta é a unidade nacional. Na Frelimo, há liberdade de expressão. O general Chipande é nosso grande chefe e respeitamo-lo bastante, mas penso que esse é o pensamento dele”, disse Fernando Faustino.

 

Sobre uma ordem de serviço emanado pela ministra da Administração Estatal e Função Pública para que os filhos dos combatentes tivessem prioridade nas vagas de emprego na função pública, Fernando Faustino, num dia de grande inspiração discursiva, distanciou-se da atitude de Ana Comoana, apontando que os moçambicanos são iguais.

 

“Nós temos muita juventude que já terminou os seus estudos, mas que neste momento não tem emprego, e neste grupo dos que não tem emprego também estão filhos de combatentes. A nossa prioridade não é olhar só para os filhos dos combatentes, mas para todos filhos dos moçambicanos. Não vi o ofício, mas a minha preocupação é que filhos dos combatentes e de todos os outros moçambicanos tenham emprego, este é o objectivo principal”, concluiu Faustino, que falava à margem de uma visita ao Comité da ACLIN da cidade de Maputo, onde os antigos combatentes reafirmaram a vontade de ajudar a Frelimo a ganhar.

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