Afastamento de Matlombe pode estar perto

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Arrancou este domingo, na África do Sul, a Conferência da Igreja Velha Apostólica (OAC na sigla inglesa) que deverá terminar no próximo sábado (17), um evento anual que reúne líderes daquela congregação afectos nas paróquias de diversos países. Para este ano, o evento colocou na agenda o futuro do líder da igreja em Moçambique, Jaime Matlombe, que vem sendo contestado pelos fiéis da igreja, que o acusam de práticas que não abonam a instituição. Na última comunicação em Maputo, em uma reunião onde esteve a ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Helena Kida, Jaime Matlombe não reteve a sua fúria, quando seus opositores, que se mostravam serenos, pediram espaço para se explicar. Do resto, aquele líder já não é bem-vindo em muitas paróquias do país e nem os recentes préstimos do partido Frelimo amainaram as relações com seus fiéis.

É uma luta que já conheceu várias etapas, até as mais vergonhosas que não se pode imaginar numa congregação religiosa. Nas redes sociais, os vídeos que circulam evidenciam os momentos turbulentos que a igreja está a viver em Moçambique, conflitos estes que envolvem pancadaria, uso de pistolas e armas brancas, insultos e cânticos de repúdio ao líder da igreja.

As primeiras acusações limitavam-se no adultério, supostamente envolvendo o Apóstolo e uma mãe superintendente casada com um servo da igreja, mas rapidamente começaram a surgir a público na medida que mais membros decepcionados com o seu guia espiritual se manifestavam e denunciavam actos de má gestão de fundos, curandeirismo e outras práticas não ortodoxas.

Nalguns casos até a polícia foi chamada para apaziguar o ambiente e prestar seus serviços de segurança ao “amado” apóstolo, acarinhado pelo poder político devido aos seus préstimos. Aliás, recentemente cedeu uma das paróquias para a Frelimo realizar as suas conferências distritais, numa demonstração de que estava do lado do poder, transformando o altar em um palco para actuação de Matilde Conjo. O episódio viria a ser usado pelos seus opositores internos para mais uma vez questionar a sanidade do apóstolo, não obstante ter transformado a casa de Deus num “dumbanengue” de votos, .

Na semana passada, a ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Helena Kida, ofereceu-se para mediar as conversações entre os membros em conflito da Igreja Velha Apostólica e Jaime Matlombe. A vontade foi expressa e acolhida numa reunião com várias congregações, que se queixaram de líderes que supostamente extorquem crentes com base na fé. O primeiro dia de restituição naquela congregação estava marcado para esta segunda-feira (12).

Mas dias antes dessa reunião, os membros da OAC já tinham convocado uma conferência de imprensa para anunciar a reforma compulsiva de líder da igreja. “Todos reconhecemos que o apóstolo é um homem bastante dedicado, carismático e teve uma contribuição digna de realce a avaliar pelo crescimento da Igreja desde Junho de 2001. Algumas das situações ou acções são tomadas por ele como reflexo da idade e do cansaço físico”, disse Rafael Chivite, superintendente da igreja, numa conferência bastante concorrida, que decorreu em Maputo. 

Ele (Matlombe) está cansado

Prosseguindo, os crentes vincaram que “ele está cansado, trabalhou muito. Faltam apenas três meses para reformar, porém achamos que para voltar e recuperar a moral e valores apostólicos que caracterizam e prestigiam a OAC, gostaríamos de, em nome dos superintendes, comunicar ao amado apóstolo que passe a reforma efectiva”.

De acordo com o superintendente da igreja, os apostolados da África Austral e Médio Oriente seriam informados para designar um novo apóstolo para Moçambique.

“Em nome da paz, os apóstolos Matlombe e Lhale (reformado) não poderão se fazer presente na comunidade da igreja e até a orientação do apostolado nenhum servo deverá acatar as ordens destes”, sentenciou o representante dos superintendes.

Mas o golpe não funcionou. Na reunião que juntou várias congregações, Matlombe esteve lá de carne e osso na qualidade de líder da instituição, rodeado por seus membros confidentes da direcção.

“Distanciamo-nos de todas as falácias. Somos pela paz, nós cultivamos a paz, nós plantamos a paz”, disse Hermenegildo Massango, membro do Conselho de Direcção da OAC, quando dirigia-se a Helena Kida, uma afirmação desmentida pela realidade que se assiste dentro das paróquias da igreja.

Os oponentes do líder da Igreja Velha Apostólica estavam também na sala e quiseram apresentar a sua versão, mas foi o próprio apóstolo Matlombe a deixar a raiva consumir-lhe e barrar as explicações.

“Isto está a acontecer por falta de diálogo”, retorquiu Elídio Mavume, membro da igreja, mostrando-se mais sereno que o seu líder Matlombe, que apontou o dedo e o acusou de estar a criar distúrbios perante ao governo.

Apesar da disponibilidade manifestada pela ministra para mediar o diálogo e restituir a paz no meio da congregação, com reuniões que deverão iniciar esta segunda-feira (12), os fiéis da igreja estão mais confiantes na Conferência que decorre desde este domingo (11) na África do Sul.

A reunião dos apóstolos que decorre todos os anos na vizinha África do Sul tem na agenda o caso Matlombe, e há certeza de que esta deverá confirmar a reforma de Matlombe, que também se encontra na África do Sul desde a semana passada.

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