Roque Silva concorre como candidato único e continua secretário-geral da Frelimo

DESTAQUE POLÍTICA

É oficial! Tal como aconteceu nas eleições para a presidência do partido em que Filipe Nyusi foi o único candidato à sua própria sucessão, Roque Silva acaba de ser confirmado como único candidato para o cargo de secretário-geral do partido sexagenário.

Segundo o que o Evidências apurou nos corredores do 12 Congresso da FRELIMO, Roque Silva, mesmo não reunindo consenso no seio dos camaradas, será reeleito com 100% dos votos.

Refira-se que nas eleições para o Comitê Central do partido Roque Silva foi o candidato mais votado na lista de continuidade em masculinos.

Há muito que o Evidências vinha alertando para a tendência de candidatos únicos que prevaleceu desde a célula, passando pelo círculo até ao Congresso, o que é entendido nalguns círculos como limitação da democracia interna no partido.

Na altura revelamos que havia orientações superiores emanadas ao nível central para limitar a candidatura livre dos membros aos cargos de primeiros secretários do partido a vários níveis, fazendo vincar candidaturas únicas.

Alguns candidatos foram obrigados a renunciar as suas intenções, sob alegação de que “ainda não é a sua vez…”, “… é preciso respeitar o processo” ou “… tens que deixar o mais velho avançar…”.

De resto, esta tendência de candidatos únicos, que concorre para a aniquilação da democracia interna, tem estado a se consolidar sobretudo desde que Roque Silva (pai da célebre frase: “não basta você se querer, o partido tem que te querer”) assumiu o cargo de secretário-geral e nas últimas eleições dos órgãos sociais do partido assistiu-se à ditadura das “candidaturas únicas” e de renovação.

Aliás, consta que terá sido Roque Silva a desenhar a estratégia para sua própria sobrevivência e deu orientações e garantias aos primeiros secretários distritais e provinciais para matarem qualquer chance de qualquer membro poder se aventurar aos cargos do partido. A estratégia visava manter os secretários leais a si a todos níveis para chegar ao Congresso com garantias de reeleição e manutenção do poder na ala Nyusi.

O que está em jogo?

Ao limitar o espaço democrático interno, o grupo actualmente no poder forjou um falso consenso, manteve os primeiros secretários leais, controlou a eleição dos delegados a vários níveis até chegar ao Congresso, e uma vez no conclave, Roque Silva e a ala de Filipe Nyusi renovaram o poder e garantiram bases para um provável terceiro mandato ou a eleição de um fantoche facilmente manipulável remotamente.

Embora o Congresso não agendou a discussão da sucessão, é neste onde tudo ficou definido, pois o que estava em jogo era a eleição do novo Comité Central que terá a missão de escolher o próximo candidato do partido sob-proposta da nova Comissão Política que será definida dentro de instantes.

Quer isso dizer que quem conseguiu manipular as conferências desde a célula até chegar ao Congresso tem largas chances de controlar o novo Comité Central e por via disso temo partido à ponta dos seus dedos.

Mas, há também uma ideia de que ao controlar o Comité Central, a ala Nyusi esteja a preparar o terreno para efectivar-se a ideia que é defendida pela OJM de continuidade de Filipe Nyusi como Presidente do Partido, fazendo sombra para o próximo Presidente da República, sem poder a nível do partido, num contexto em que todas as actividades do Governo e da Assembleia da República são orientadas e coordenadas pela Comissão política.

É este plano maquiavélico que tem estado a ser denunciado por alguns camaradas que não vêem com bons olhos o afunilamento do espaço de debate e da democracia interna.

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