Sequestradores continuam a tirar a paz aos moçambicanos

POLÍTICA
  • Nem a polícia, nem o SERNIC, muito menos as câmeras de videovigilância resolvem
  • Sequestradores raptam Munawar Bhai, dias depois da libertação de Ahmed Anwar

Quando se fala de Moçambique no mundo, a primeira imagem que aparece é de um país dilacerado pelo terrorismo, que amanhã completa cinco anos desde o primeiro ataque registado a 05 de Outubro de 2017, mas longe de Cabo Delgado, há um outro terror instalado no país, sobretudo nos centros urbanos. Trata-se dos raptos, que tiram sono, a paz e o sossego de muitas famílias moçambicanas e a cada dia que passa desafiam o nível de prontidão do sector castrense do Estado. Esta segunda-feira, no centro da cidade de Maputo foi raptado mais um empresário de origem asiática.

Evidências

Trata-se de um cidadão identificado como Munawar Bhai, que um dia antes da celebração da paz, foi raptado próximo da Comunidade Mahometana, numa das zonas mais movimentadas da Cidade de Maputo, por volta das 11 horas e 30 minutos.

Presume-se que os sequestradores vinham seguindo a vítima até ao local, tendo bloqueado a sua viatura antes de arrastá-la para o interior do seu carro. Segundo testemunhas oculares, os agressores tiveram de disparar alguns tiros para o ar antes de levarem a vítima a alta velocidade.

Segundo relatos a vítima dirigiu-se à comunidade mohomentana, concretamente a o Centro Cultural Islâmico, na Avenida Albert Lithuli, onde ia adquirir um livro. Os raptores seguiam numa viatura de marca Nissan.

Momentos depois começaram a circular imagens do carro em que seguiam os sequestradores, no entanto, a polícia e o SERNIC, esta última que chegou tarde à cena do crime, dizem não ter pistas sobre o destino tomado pelos criminosos com a sua vítima.

Esta situação, faz reacender o debate sobre a utilidade das centenas de câmaras de vídeo vigilância instaladas nas cidades de Maputo e da Matola, e noutros centros urbanos do país, que custaram aos cofres do Estado pouco mais 140 milhões de dólares norte-americanos.

As câmeras estão instalados nas principais avenidas e principais pontos de entrada e saída da cidade, mas até o momento, passados mais de seis anos desde a sua implantação não é conhecido nenhum caso que tenha sido solucionado com a ajuda dos mesmos.

Aliás, em 2018, o jornalista e activista social Ericino de Salema foi raptado num local próximo de duas câmeras, que estão conectadas a um sistema que permite armazenar o material recolhido durante 90 dias, no entanto,

O segurança da comunidade mahomentana foi uma das testemunhas oculares do incidente e alega ter sido ameaçado com armas de fogo pelos agressores, mas isso não o coibiu de correr a procura de socorro que chegou tarde.

Até ao fecho desta edição, a PRM assim como o SERNIC ainda não se haviam pronunciado sobre o assunto. Refira-se que nos últimos tempos as famílias das vítimas têm optado por pagar o resgate para resgatarem seus entes nas mãos dos raptores.

A suspeita de envolvimento de agentes da polícia e do SERNIC na rede dos sequestradores faz com que muitas famílias tenham receio de colaborar com as autoridades, fazendo com que adiram às negociações com os criminosos.

O último rapto, acontece dias depois da libertação de Ahmed Anwar do cativeiro. É dono do Hotel Royal e tinha sido raptado há três meses,  perto da sua casa na Sommershield II, em Maputo, mais concretamente nas imediações da residência oficial do Comandante Geral da Polícia e do Director Geral do SISE, tendo sido posto em liberdade após o pagamento de resgate.

Governo recusou proposta da comunidade muçulmana para trazer a Interpol

O Estado, através das Forças de Defesa e Segurança, concretamente do Comando Geral da PRM e do SISE, criou, no passado, uma equipa denominada Brigada Anti-rapto, uma força que se supõe que seja especializada para esclarecer este tipo de crimes, mas não chegou a ter nenhum resultado palpável.

É por isso que há alguns anos, preocupada com o recrudescimento do crime organizado, sobretudo raptos, a comunidade muçulmana reuniu-se com as autoridades moçambicanas para discutir uma saída para este problema.

Na ocasião, membros dessa mesma comunidade prontificavam-se a pagar dinheiro para que a Interpol, através da sua força especializada, pudesse entrar no país e apoiar as Forças de Defesa e Segurança, com vista a estancar o fenómeno.

Apesar de reconhecer o sofrimento das famílias, a frequência dos raptos, com o número de sequestrados a crescer, o que faz com que muitas famílias de empresários deixem de residir em Moçambique, e ainda que os empresários reduzam seus investimentos na pérola do Índico, o Estado moçambicano não aceitou, até hoje, a entrada da Interpol para trabalhar nesta matéria, o que é encarado por alguns sectores como sintomático de que uma eventual investigação poderia destapar muita sujidade e possivelmente o envolvimento de gente graúda no negócio.

Refira-se vários empresários já abandonaram o país devido à insegurança, retirando ou reduzindo os seus investimentos em Moçambique. São os casos, por exemplo, de Manish Cantilal, Anifo Osman, Rizwan Adatia, entre vários outros que sucumbiram na mão dos meliantes e desinvestiram no país ou passaram a gerir remotamente os seus investimentos.

É que o pesadelo das vítimas dos raptos não termina com o pagamento do resgate. Elas continuam a ser perseguidas pelos meliantes e obrigadas a pagar a taxa de liberdade face a incapacidade de as autoridades de ordem garantirem a segurança dos cidadãos. Numa das suas edições, o Canal de Moçambique referiu que alguns empresários da capital continuam a constar na planilha da “taxa de liberdade”, cobrada pela quadrilha dos raptos, para que não voltem a ser enclausurados ou seviciados.

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