- OAC proíbe Matlombe de desempenhar quaisquer funções e corta o seu cordão umbilical do dízimo
- No Domingo membros da direcção desvalorizaram a resolução da OAC em Sikwama
- OAC ameaça avançar com procedimentos disciplinares por desacato
- Em 2018, Matlombe mudou registos da igreja e é actualmente um dos “donos”
A novela da crise na Igreja Velha Apostólica em Moçambique (OAC) acaba de entrar na sua fase derradeira e mais delicada. No último dia 07 de Outubro, por resolução, o Apostolado de África e Médio Oriente, órgão central da sede da Igreja Velha Apostólica, localizada na África do Sul, decidiu antecipar, com carácter imediato, a reforma do Apóstolo Jaime César Matlombe, passando a ser Apóstolo Emérito sem mais responsabilidades espirituais na Igreja e deixa de ser interlocutor válido com as autoridades governamentais. Mas a mão dura do Apostolado da OAC, que diz estar determinado em repor a ordem e a paz na igreja e no país, não recai somente sobre Matlombe. Os seus secretários e servidores mais próximos estão proibidos de mexer ou movimentar as contas ou fundos da Igreja sem a aprovação por escrito do Apóstolo J M J Bila, que assume interinamente os distritos pastorais que estavam sob alçada do reformado. Entretanto, Evidências apurou que, apesar da resolução deixar claro que pode encetar procedimentos disciplinares em caso de desacato da medida, o Apóstolo Matlombe não se conforma com a decisão e no último domingo, dois dias depois de ter sido notificado verbalmente e por escrito, marcou um encontro na paróquia de Sikwama, onde se fez representar pela direcção também dissolvida, no qual informaram aos crentes que a decisão da OAC não é legítima e que o “amado” irá continuar à frente da congregação até Dezembro.
Reginaldo Tchambule
É oficial. O Apóstolo Jaime César Matlombe já não é o “senhor e dono” da Igreja Velha Apostólica em Moçambique. Desde o passado fim de semana, por decisão do Apostolado de África e Médio Oriente, órgão central da sede da Igreja Velha Apostólica, localizada na África do Sul, passou a reforma com carácter imediato, dois meses antes do período anteriormente previsto.
A sua reforma por via da idade estava prevista para Dezembro próximo, mas pesou para a decisão a decisão de antecipar o seu descanso, a fase crítica em que a congregação, até sexta-feira liderada por Jaime Matlombe, atravessava no país, bem como a aparente ingerência política. Recorde-se que, recentemente, uma das capelas, local de culto, chegou a ser transformada numa sala de conferências do partido Frelimo, com direito a uma actuação sensual de Matilde Conjo em pleno altar.
Sem nenhuma contemplação, cerca de um ano após ser despoletado o escândalo sexual, de um alegado adultério do amado apóstolo com uma crente da igreja, o Apostolado da OAC evocou a Constituição da Igreja que prevê a aposentação automática do Apóstolo J C Matlombe por ter atingido a idade de 70 anos, mas também a “actual situação terrível em Moçambique”.
Assim, desde a passada sexta-feira, dia em que foi formalmente notificado da decisão, Jaime Matlombe passou a ser Apóstolo Emérito e, ter sequer tempo de despedir-se, aposentou-se dos seus deveres e funções activas, com efeito imediato. Ou seja, sai pela porta pequena, sem sequer chance de dizer adeus às suas ovelhas.
“O Apóstolo JC Matlombe seja classificado como Apóstolo Emérito e que se aposente de todos os seus deveres e funções ativas, com efeito imediato. O Apóstolo J C Matlombe seja informado da decisão do Apostolado pelo secretário e presidente do Apostolado verbalmente, em 8 de Outubro de 2022, e por escrito no mesmo dia, e que as cópias da carta sejam entregues no endereço pessoal do Apóstolo J C Matlombe e na sede distrital da jurisdição do Apóstolo J C Matlombe”, lê-se no documento.
Este Domingo, em várias capelas, o anúncio da sua destituição foi celebrada com bastante euforia, tal como mostram vários vídeos partilhados pelas redes sociais com os crentes a entoarem e dançarem a canção “Matlombe, huma”, que numa tradução literal do changana para português significa “saia, Matlombe”.
OAC pondera medidas disciplinares em caso de desacato
E porque já há muito que vem se ensaiando a sua reforma e inclusive, há alguns meses, “mandou passear” uma Comissão de Inquérito destacada da África do Sul para investigar as alegações de adultério que acabaram por não ser provadas, o Apostolado da OAC adverte a Jaime Matlombe para que se submeta à decisão, sob pena de ser excomungado.
“Apóstolo J C Matlombe, que se submeta à autoridade e às decisões do Apostolado, sob pena de se tomar contra ele medidas disciplinares”, lê-se na resolução que orientou para que a decisão fosse tornada pública este domingo em todas as Capelas da Igreja em Moçambique e aos membros e oficiantes do apóstolo J C Matlombe.
Evidências apurou que, em cumprimento da orientação da OAC, os superintendentes da igreja haviam agendado encontros em Maputo e Gaza para informarem as lideranças da igreja sobre o despacho. No entanto, supostamente sob orientações da direcção máxima da igreja em Gaza, o encontro foi inviabilizado, mas a maior parte dos servos e superintendentes estiveram reunidos na capela de Ndlavela, na cidade da Matola.
No mesmo dia, segundo apuramos, um grupo de membros da direcção, próximos a Matlombe e que também cessam funções, orientou um outro encontro na paróquia de Ndlavela, onde desvalorizaram por completo as orientações emanadas na resolução da OAC e garantiram que este irá continuar as funções até ao final deste ano, um braço de ferro que pode adicionar mais alguns capítulos na guerra pelo trono naquela igreja.
Estão cortadas todas as comunicações com o apóstolo Matlombe
Refira-se que para o lugar de Jaime Matlombe, o Apostolado da OAC nomeou provisoriamente o apóstolo João Manuel João Bila, que passa temporariamente a responder por Maputo, Gaza, Nampula, Cabo-Delgado e Quénia até ordem em contrário ou que novo apóstolo seja ordenado.
“Todos os Superintendentes, Profetas e Evangelistas devem contactar o Apóstolo J M J Bila para orientação”, sublinha a direcção suprema da igreja, orientando ao secretário, a direcção fiscal e demais funcionários para pararem, de forma imediata, com todas as comunicações com o apóstolo emérito, Matlombe, e que todas as questões sejam encaminhadas ao apóstolo interino, João Bila.
Como se tal não bastasse, Matlombe deixa de ser interlocutor válido entre a igreja e as autoridades governamentais em Moçambique, uma decisão que deve já ter sido comunicada por escrito à ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Helena Kida, seguindo a orientação da OAC.
“O secretário seja autorizado a escrever uma carta oportuna à ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos para informá-la das decisões do Apostolado de classificar o Apóstolo J C Matlombe como Apóstolo Emérito sem mais responsabilidades espirituais ou temporais na Igreja, incluindo quaisquer contactos com autoridades governamentais, e assegurar ao governo de Moçambique a determinação da Igreja em restaurar a ordem e a paz da Igreja em Moçambique. Uma cópia da Constituição da Igreja será fornecida à ministra, conforme solicitado por ela, e ela também deve ser informada especificamente de todos os mecanismos de governação da Igreja”, sentencia o Apostolado.
O Evidências entrou em contacto esta segunda-feira, por telefone, com o apóstolo João Bila, que de uma forma culta disse não estar autorizado a falar sobre o assunto, mas perante a insistência do jornal acabou por deixar escapar que está a par da decisão da OAC. Aliás, não só ele tem conhecimento, como também o apóstolo Matlombe e os demais.
“Não estou autorizado para falar no jornal”, afirmou, para depois, quando questionado se conhece o documento, responder que “conheço sim. Ele (apóstolo Matlombe) também tem conhecimento e todos têm conhecimento”, disse, voltando a repisar que não tem autorização para falar à imprensa, o que limitou a conversa.
Está cortado o cordão umbilical do dízimo
Mas as mudanças não param por aí. O apóstolo Matlombe, que alguns alegam que devia ter ido a reforma em Fevereiro do ano em curso, antes do conflito se agigantar, o que o força a deixar o cargo pela porta pequena, não foi dado nem tempo para organizar as contas da igreja para o período pós-apostolado.
Com efeitos imediatos, deixou também de ter acesso aos dinheiros e outros bens da igreja. A orientação da igreja é clara, o secretário da igreja e membros da direção estão proibidos de mexer ou movimentar dinheiro ou fundos da igreja.
“O secretário e qualquer outro funcionário, dirigente ou indivíduo (Guimarães) que trabalhe com fundos da Igreja na sede do distrito estão proibidos de mexer ou movimentar as contas ou fundos da Igreja sem a aprovação por escrito do Apóstolo J M J Bila”, sustenta a resolução.
Com a decisão, o apóstolo Jaime Matlombe, que foi muitas vezes acusado de gestão danosa de fundos e património da igreja, deixa de ter qualquer contacto com as contas onde é depositado o dízimo da igreja.
Refira-se que, esta segunda-feira, os membros da congregação começaram a circular algumas imagens pelas redes sociais mostrando camiões carregados com cadeiras e outros bens supostamente pertencentes à igreja, que estariam a ser movimentados para parte incerta.
OAC desautoriza e invalida todas decisões tomadas por Matlombe nos últimos dois anos

Numa clara desautorização daquele que um dia foi dos mais respeitados e amados apóstolos do país, o Apostolado da OAC endureceu o seu tom, orientando para que todos os superintendentes, evangelistas e profetas que foram suspensos/destituídos pelo apóstolo J C Matlombe nos últimos 24 meses sejam reconduzidos aos seus respectivos escalões, aguardando pela indicação das suas futuras responsabilidades.
Por outro lado, a OAC mandou cessar imediatamente um conjunto de 37 novos superintendentes e servos que foram ordenados, à revelia da OAC, no sábado e domingo antepassados, sendo 20 em Maputo e 17 em Gaza e que já se preparava para apresentá-los à congregação a partir do passado domingo.
“Todos os superintendentes, profetas, evangelistas e anciãos que foram ordenados pelo apóstolo Matlombe em 1 e 2 de Outubro de 2022 sejam informados de que infelizmente foram ordenados sem a devida autorização do Apostolado e do Fórum dos Apóstolos”, esticou a corda a OAC, que devolve o poder ao Fórum dos Apóstolos, apoiado pelos Apóstolos designados, que deve tomar com máxima prioridade a consagração de novos apóstolos e a implementação de todas as disposições da Constituição da Igreja.

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