- Está difícil a reconciliação entre os camaradas
- O estranho é que outro presidente honorário foi convidado
- Joaquim Chissano e Graça Machel estiveram entre os convidados
Depois de ter se ausentado durante alguns momentos-chave do último Congresso na Matola, o antigo Presidente da República e presidente honorário da Frelimo, Armando Guebuza, não foi convidado, este fim-de-semana, pela direcção do partido, para participar da reunião do Comité Central para indução e integração dos membros eleitos no XII Congresso da Frelimo, realizado no passado mês de Setembro, na Matola. A ausência de Armando Guebuza, que saltou à vista num encontro em que esteve o outro presidente honorário, Joaquim Chissano, e outros membros influentes, como Graça Machel, reacende o debate sobre o mal-estar entre “Tchembene” e Filipe Nyusi, e mostra que a reconciliação entre as diversas alas poderá ser mais difícil
Evidências
Há muito que o mal-estar entre Filipe Nyusi e Armando Guebuza é indisfarçável e no último Congresso, apesar das saudações de praxe, foi visível o desalinhamento entre as duas figuras, sobretudo pela ausência de Guebuza na votação e aclamação de Filipe Nyusi para o terceiro mandato à frente do partido, bem como no encerramento dos trabalhos.
Ciente deste mal-estar, no seu discurso, momentos depois de conferir posse a Filipe Nyusi no decurso do último Congresso, Joaquim Chissano apelou à reconciliação entre os camaradas, devendo, por vezes, engolir sapos em nome da paz, contudo parece que os destinatários desta mensagem fizeram ouvidos moucos.
Quadro de proa com lugar cativo no Comité Central por causa da sua qualidade de presidente honorário, Armando Guebuza foi excluído da lista dos convidados à sessão de indução e integração dos membros do Comité Central eleitos no último Congresso, que teve lugar no último Sábado na Praia de Barra, província de Inhambane.
O encontro convocado a meio da semana passada não era ordinário, mas era alargado a alguns membros seniores do partido. No entanto, para o espanto de todos, não esteve presente um dos dois presidentes honorários e a sua ausência não foi justificada, no entanto Evidências apurou que nem sequer foi convidado.
Em sentido contrário, Joaquim Chissano, primeiro presidente honorário na Frelimo, esteve em Inhambane como convidado. Para além de Chissano, outras figuras como Graça Machel estiveram presentes, o que reforça a tese de que Guebuza esteja a ser vítima de uma purga por parte da ala de Filipe Nyusi, que no último Congresso viu os seus poderes reforçados, ao expurgar grande parte da base de apoio de Guebuza do Comité Central.
Já há alguns anos que é indisfarçável o mau ambiente entre os dois, e no último Congresso não se mostrou nenhum sinal de aproximação entre as partes. Em Setembro de 2020, os dois dirigentes chegaram a trocar indirectas, abrindo uma nova fase da clivagem.
Das queixas de perseguição de Armando Guebuza
Nyusi é acusado de ser o rosto da perseguição de que sempre se queixou o antigo Presidente da República, Armando Guebuza, à sua família. Tchemene nunca engoliu o facto de um dos seus filhos estar preso em conexão com as dívidas ocultas, facto que ficou evidente durante a sua audição como declarante no julgamento das dívidas ocultas, em Fevereiro último, em que empurrou parte da responsabilidade pelo calote a Filipe Nyusi.
“Assumo responsabilidade pela criação do SIMP, eu era Presidente da República, queria defender todo o país, incluindo o juiz”, justificou Guebuza, antes de referir que confiou a negociação de aspectos financeiros e a operacionalização do projecto ao Comando Operativo das Forças de Defesa e Segurança, pelo que remeteu a parte das questões ao antigo ministro da Defesa, Filipe Nyusi.
“Eu fiz um despacho em que delegava os poderes de negociação ao ministro da Defesa (Filipe Nyusi), ministro do Interior (Alberto Mondlane) e ao Director-Geral do SISE (Gregório Leão). Portanto, havia um grupo delegado para negociar, não precisava ser eu a saber (de questões ligadas ao financiamento das empresas). Talvez o chefe do Comando Operativo (Filipe Nyusi) pudesse esclarecer melhor”, disse Guebuza, assumindo que ele é que orientou o Comando Operativo para procurar financiamento, o que justifica o facto de ter sido Filipe Nyusi (em carta enviada a Manuel Chang) e Gregório Leão a solicitarem garantias a favor das três empresas.
Perante a insistência do Ministério Público, Guebuza voltou a atirar “não sei se estará cá alguém do comando operativo para explicar… O comando operativo tinha o seu chefe, que era o ministro da Defesa Nacional”, sentenciou, empurrando parte da responsabilidade para Filipe Nyusi. Durante toda a audição, que durou dois dias, Guebuza citou várias vezes o nome de Nyusi, tendo chegado a responsabilizá-lo pelo insucesso na implementação das três empresas.
Nyusi defende rejuvenescimento do partido
Totalmente despreocupado com o que se pode pensar, o Presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, defendeu a necessidade dos membros do Comité Central não terem medo de mudanças e vincou que o rejuvenescimento da OJM e do próprio partido é um processo irreversível.
“Como dizia o saudoso Presidente Samora Machel, a juventude é o palco de confrontação entre as forças de revolução e as forças de reacção. Quer isto dizer que tanto nós, como os nossos opositores, sejam eles os partidos políticos da oposição ou outros actores internos e externos que procuram nos afastar do poder, procuram a todo custo atrair a juventude na concretização das suas agendas. Os principais actores das convulsões sociais e políticas são maioritariamente jovens”, explicou.
Prosseguindo, destacou que é por esta razão que temos estado a insistir na necessidade de rejuvenescimento da própria OJM, como do partido, para elevar o nível da consciência da juventude sobre a sua responsabilidade na edificação da nação. Daí que, no nosso programa de governação, contemplamos acções visando o acesso ao emprego e auto-emprego, formação técnico-profissional, influenciando os jovens a não se deixarem levar por projectos utópicos e insustentáveis”.
Na ocasião, instou aos membros do Comité Central a “encararem o trabalho com a juventude como uma das maiores prioridades da agenda política da actualidade”, destacando que a competição mais intensa tem sido captar o voto da juventude, um segmento social que, refere, constitui a maior faixa demográfica do país.
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