Promessas políticas enganadoras

OPINIÃO

Alexandre Chiure

Em períodos eleitorais, os moçambicanos têm o costume de votar mais nos emblemas partidários, nomeadamente no batuque e maçaroca, galo ou perdiz e por aí em diante, do que propriamente no que esses partidos políticos apresentam como proposta de programa de governação ou no que são capazes de fazer pelo país.

Face ao analfabetismo, cujos níveis são ainda elevados, os eleitores em geral não estão em condições de avaliar o mérito ou a qualidade de um programa e tão-pouco preparados para direccionar a sua escolha para o manifesto que vai ao encontro das suas expectativas.

De referir que cerca de 53,6% da população adulta não sabe ler nem escrever, encontrando-se 65,7% nas zonas rurais e 30,7% nos centros urbanos. As mulheres são o rosto deste fenómeno, pois representam 68% de analfabetos e os homens 36,7%.

Alguns populares, sobretudo no campo, são facilmente enganados por promessas inexequíveis e até aplaudem o partido ou candidato que as apresentar, pura e simplesmente porque não têm capacidade de análise para avaliar a sua pertinência.

É, porventura, por essa razão que somos bombardeados com manifestos eleitorais que deixam muito a desejar, por políticos que exploram, ao máximo, as fraquezas do eleitorado moçambicano, que tende a ser exigente através da massa crítica que se vai formando no país.

Com efeito, se os programas fossem determinantes para convencer o eleitorado a votar em si, os partidos políticos e candidatos seriam mais cuidadosos do que têm sido actualmente na sua elaboração. Ver-se-iam obrigados a prestar atenção a questões de pormenor.

Sentir-se-iam forçados a trazer a público propostas de programas de governação organizadas e bem estruturadas. Teriam de escrever e reescrever várias vezes os seus manifestos eleitorais para adequá-los à realidade moçambicana. Evitariam fazer promessas descabidas ou um tanto e quanto folclóricas só para impressionar o público, como tem acontecido em pleitos eleitorais moçambicanos.

Não teríamos promessas como da criação de três milhões de postos de trabalho, no presente quinquénio, correspondentes ao total das populações dos municípios de Maputo e Matola, constante no manifesto eleitoral do partido no governo, que despertou a atenção das pessoas em situação de desemprego.

Não sei, por exemplo, que contas foram feitas para se chegar a este número. É que, para tal, seria necessário gerar, por ano, 600 mil postos de trabalho e 50 mil por mês, o que não me parece exequível, tendo em conta o comportamento da economia nacional e o ritmo de investimentos nacionais e estrangeiros em curso no país.

A título de exemplo, consultei o relatório de 2021 da Agência de Promoção de Investimentos e Exportações (APIEX) e verifiquei que os 244 projectos aprovados oferecem apenas pouco mais de 14 mil oportunidades de emprego.

Resolvi multiplicar este número por três para compensar o facto de estas cifras se referirem ao período da Covid-19. O resultado obtido foi de 42.600, menos 7.400 em relação ao ideal, que é de 50 mil.

Se houvesse rigor, em 2014, o governo do dia não teria prometido a instalação de uma linha de metro na capital do país, ciente de que não está em condições de oferecer o serviço.

Em conversa com o ministro dos Transportes e Comunicações sobre a seriedade do projecto, ele disse-me que quem há-de beneficiar do metro são os filhos dos filhos dos nossos filhos, o que, por outras palavras, significa que não é nada sério. Lamentei.

Na verdade, passado algum tempo, o projecto foi abandonado, como tantos outros, e os italianos responsáveis pelo estudo preliminar processaram o Estado moçambicano pelos prejuízos daí resultantes.

O outro lado da história reside no facto de que há promessas que, apesar de exequíveis, não se encontram em execução. Eneas Comiche anunciou, por exemplo, durante a campanha eleitoral, que seriam os desportistas a indicarem o vereador que lhes aprouvesse para responder pela área desportiva, o que não aconteceu até ao presente.

Em Fevereiro de 2018, depois do aluimento de parte do lixo que ceifou a vida de 17 pessoas e destruiu dezenas de casas, o governo assumiu o compromisso de encerrar, o mais rápido possível, a lixeira de Hulene. O processo envolveu o então ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia. O statu quo é do domínio público, isto é, não se registam avanços no sentido da concretização do desiderato.

O presidente do município de Maputo prometeu, no seu discurso da tomada de posse, a 7 de Fevereiro de 2019, melhorar a qualidade de vida dos munícipes nos bairros, através da abertura de vias de acesso, expansão da rede de iluminação e de abastecimento de água, bem como organizar a prática do mercado informal.

Passados três anos de mandato, nada foi feito. No lugar de organizar o mercado informal, as autoridades municipais encarregaram-se de violentar vendedores e arrancar-lhes os seus bens, sem descurar o projecto FUTRAN, um sistema de transporte suspenso que ligaria Maputo e Matola e que iria operar nos finais de 2022, até hoje no papel.

É assim como vai a democracia em Moçambique. É assim como os políticos enganam o eleitorado. É assim como eles perdem a credibilidade perante o público. Os partidos da oposição não podiam ser diferentes. Algumas das suas promessas eleitorais que nos têm sido reveladas são simplesmente infantis.

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