Um 2023 para sair da sombra

EDITORIAL

Esta é a nossa última edição de 2022, um ano de muitos desafios cuja resposta a estes não se mostrou eficaz, e como efeito, os moçambicanos terminam digerindo o fracasso das respostas que do fardo dos próprios malefícios.

É exemplo disso a TSU, uma reforma administrativa Pública que criou enormes expectativas, colocando nos moçambicanos a nostalgia da TSA, quando o sonho de um salário melhorado se mostrou um fardo que hoje está a custar vida aos pacientes que buscam pela saúde nos hospitais. O julgamento das dívidas ocultas é um outro exemplo de como logramos insucesso na busca de respostas aos desafios que, afinal, seus malefícios transcendem o ano de 2022.

É exemplo de fracasso porque nem foi capaz de repor um quarto dos danos dos dois mil milhões de dólares das dívidas ocultas, muito menos arrolar para responsabilizar os barões que engendraram a nível político. Foi aplicada aos bodes expiatórios (?) que identificaram no calote uma outra bolada ou a oportunidade de tirar outros proveitos, penas que incentivam o desvio da coisa pública, pois todo o moçambicano viu que afinal compensa desviar uns tantos milhões de dólares e ir a cadeia cumprir um punhado de anos.

Na educação foi nos exposto o pior, depois de tudo que vimos continuamos a assistir a uma corrida desenfreada de destruir o saber, até os exames de admissão da semana passada não escaparam de erro, como que a cuidar que a nossa incompetência deve destruir também os que estão por vir.

Os exemplos dos malefícios que reprovaram a nossa capacidade de antecipar as respostas são vários e não podem caber neste editorial. O pomposo anúncio da retoma do Banco Mundial e FMI não conseguiu atenuar o fardo de uma economia ruída pela corrupção, que balança a cada choque externo e sem um plano de mérito de resgate, a não ser iniciativas com objectivos meramente políticos, como bem se viu com PAE, onde o Executivo teve de ser criticado para o pôr em prática.

A entrada em cena da plataforma flutuante, com exploração iniciada em Outubro passado, foi uma gota no oceano, pois era expectável que a estas alturas estivesse também a carburar o  projecto maior e mais lucrativo, liderado pela TotalEnergies, que no ano passado foi forçado a abandonar o terreno por força do terrorismo, um mal que para além de limitar grandes investimentos do país, vem ceifando, em actos bárbaros, vidas de moçambicanos.

Estes fragmentos que ilustram os desafios de um país por se construir foram manchete neste jornal, destacados com letras garrafais, não para colocar para baixo um Moçambique que já está no fundo, mas para chamar atenção do piloto deste barco para que não se adie as soluções. Afinal, ficou claro de que mais do que desafios, o problema de Moçambique, e África em geral, tem a ver com as lideranças.

E, enquanto jornalistas, a nossa contribuição se limita nestas linhas, num esforço de ter uma sociedade mais formada e informada, de modo que esta participe nas soluções. Apraz-nos, neste momento de balanço, saber que formamos consciências e ajudamos a influenciar políticas em prol do desenvolvimento do nosso país.

Não somos inocentes. Como país, nosso exercício de cidadania pode ser medido pela qualidade da educação que temos, dos serviços públicos, das lideranças, que no lugar de reflectir a vontade colectiva de todos os moçambicanos, acaba por reflectir a vontade da minoria que ousa participar e manipular a máquina, enquanto que a maioria, descrente nos nossos processos políticos, fica na sombra a reclamar de tudo e de todos, sem ao menos sujar as mãos.

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