Caixas de medicamentos usadas como receitas e fichas de nascimento em Sofala

Ninguém assume, mas o Serviço Nacional de Saúde (SNS) há muito que entrou em colapso. Se, em Maputo, os centros de saúde debatem-se com a falta de redes mosquiteiras para as gestantes, os pacientes são obrigados a comprar materiais para pequenas cirurgias e as farmácias hospitalares só tem paracetamol, na província de Sofala os hospitais e centros de saúde não têm impressos de fichas para recém-nascidos, papel timbrado para receitas, entre outros. Na ausência daqueles impressos, os profissionais de saúde afectos às maternidades, urgências e triagens usam pedaços de caixas de medicamentos e outros papéis descartados para receitar e ou registar informações dos pacientes. Contactada, a directora de Saúde ao nível da província de Sofala, Neusa Joel, confirmou a falta de fichas e livros de receita, tendo prometido resolver a situação num curto espaço de tempo.

Jossias Sixpence- Beira

Actualmente, quem entra em serviço de parto nos hospitais da província de Sofala quando recebe alta e com o seu bebé nas mãos, em vez da habitual ficha, apenas recebe um pedaço de papel ou de uma caixa com informações escritas à mão, por falta de impressos e papel timbrado.

O Evidências visitou alguns hospitais e centros de saúde ao nível da província de Sofala e constatou que o problema da falta de fichas já tem barbas brancas, visto que há crianças de quatro meses que usam um pedaço de caixa para armazenar informações sobre as vacinas, os seus de dados de peso e outras informações.

Manuela Manuel, mãe de uma criança de três meses, deu a luz numa das unidades sanitárias da província de Sofala e, para o seu espanto, em vez da ficha recebeu um pedaço de papel contendo toda a informação de nascimento de seu filho. Manuel pensava que se tratava de um documento provisório e que teria a ficha no dia que tiver alta, mas, debalde, até hoje ainda não viu a cor da ficha.

“Quando me deram a papelinho, pensei que depois de ter alta teria a ficha, mas até a minha saída não tive. Infelizmente, temos que nos contentar com esta triste realidade. Esse pedaço de caixa já não tem espaço para registar informações. Pedimos a quem de direito para resolver esta situação porque Sofala não é uma ilha, também faz parte de Moçambique”, protestou.

Há quem venda fichas a 800 meticais

Antónia Cossa denunciou que as fichas que, actualmente, faltam no grosso dos hospitais da província de Sofala são vendidas por alguns profissionais de saúde a um preço que varia entre 600 e 800 meticais.

 “Nos hospitais não há fichas, mas estranhamente há enfermeiros que dispõem do material que falta nos hospitais e vendem a 600 ou 800 meticais. Quem tem dinheiro é obrigado a comprar porque pretende organizar as informações do seu filho. É uma situação dramática, porque as pessoas são obrigadas a comprar algo que em norma é gratuito do Sistema Nacional de Saúde”, denuncia.

Por sua vez, Laurinda Fernando apontou o dedo ao Governo pela situação que vive nos hospitais e centros de saúde na província de Sofala, tendo referido que parece que o País está a regressar a era da dominação colonial.

“A criança vai completar um ano. Tenho que andar com montão de papéis na pasta porque o pedaço que cortam dura entre três a quatro meses e terminado este período dão outro. Parece que voltamos ao tempo colonial em que faltava um pouco de tudo e não tínhamos o acesso aos serviços básicos de saúde”, lamentou Laurinda, para depois acrescentar que a situação da falta de fichas iniciou no último trimestre de 2022.

“Sempre que venho ao controlo mensal do peso e estado de saúde do meu filho vejo que há poucas mães que tem as fichas de nascimento, cujo filhos nasceram entre Novembro do ano passado e Fevereiro do corrente ano. As mães que têm fichas compraram ou receberam dos familiares que trabalham nos hospitais”, sublinha.

Direcção provincial de Saúde promete resolver a situação num curto espaço de tempo

A directora de Saúde ao nível da província de Sofala, Neusa Joel, citada pelo Diário de Moçambique, confirmou a falta de fichas, tendo avançado que esta situação deve-se ao atraso do camião que traz o material de Maputo que está impossibilitado de atravessar o rio Save devido às chuvas que caíram nos últimos dias e pela passagem do Ciclone “Freddy”.

Prosseguindo, Joel prometeu que a situação que inquieta os utentes na província de Sofala será resolvida num curto espaço de tempo.

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