Assédio sexual nas universidades públicas e privadas compromete a formação superior das raparigas em Nampula

DESTAQUE SAÚDE SOCIEDADE
  • “Não fácil denunciar um docente por assédio sexual porque no grosso das vezes ele acaba sendo protegido pela direcção”
  • “As vítimas sentem-se humilhadas e degradadas perante a família e a sociedade”, refere o psicólogo Miguel Dengua

O assédio sexual nas universidades públicas e privadas foi, recentemente, tema de um debate que reuniu estudantes, representantes do Ministério da Educação e Desenvolvimento, Ministro da Tecnologia e Ensino Superior e algumas organizações da sociedade civil. As universitárias da chamada capital da zona norte apontaram para o assédio sexual como um dos como um dos problemas que compromete a formação superior das raparigas e mulheres. Para reverter este cenário que compromete a retenção das raparigas as organizações da sociedade civil exigem punições exemplares para os docentes assediadores.

Texto: Duarte Sitoe

Um estudo sobre Assédio Sexual nas Escolas realizado pelo Movimento Educação para Todos (MEPT), em 2019, mostrou que embora o Governo esteja a implementar políticas no sector da educação, com vista a aumentar a participação da rapariga na escola, prevalece o desafio de assegurar a retenção desta nos estudos, sendo o assédio uma das maiores causas da desistência, sendo que a situação verifica-se em todos os níveis de ensino, ou seja, do primário ao superior.

Várias instituições do ensino superior têm vindo a reforçar o mecanismo de prevenção e combate ao assédio sexual para incentivar denúncias e responsabilização dos infractores. Entretanto, mesmo com o reforço de mecanismos ainda persistem casos de assédio sexual nas universidades baseadas na província de Nampula.

Recentemente, estudantes, representantes do Ministério da Educação e Desenvolvimento, Ministro da Tecnologia e Ensino Superior e algumas organizações da sociedade civil sentaram na mesma mesa para debater a questão de assédio sexual, uma vez que este fenômeno compromete a formação superior da rapariga naquele ponto do país.

Marta Domingos, estudante numa instituição de ensino superior na Cidade de Nampula, já foi vítima de assédio sexual e contou que por conta disso o seu aproveitamento pedagógico baixou consideravelmente.

 

“Em algum momento o assédio sexual acaba afectado o psíquico das estudantes. É uma questão complicada e muito triste. Infelizmente, já fui vítima de assédio sexual e devido a pressão que sofria dos meus docentes acabei tendo um aproveitamento pedagógico abaixo das expectativas. Não se pode fechar os olhos perante a esta triste realidade, as mulheres estão a ser assediadas nas escolas e preferem sofrer no silêncio”, disse Domingos para posteriormente acrescentar que as universidades devem ser mais vigilantes para evitar esse fenômeno.

“Aquelas que são as direçcões das universidades deviam ter mais atenção a este aspecto porque muitas mulheres acabam tendo aproveitamento negativo por culpa do assédio sexual, sendo que algumas chegam a desistir dos estudos. São situações que acontecem nas nossas universidades, mas o Governo deve tomar medidas para colocar um ponto final neste tipo de casos que minam a formação das mulheres”

 

“As vítimas sentem-se humilhadas e degradadas perante a família e a sociedade”

Joana Paulino já foi vítima de assédio sexual na Universidade Eduardo Mondlane na província de Nampula, mas teve a coragem de denunciar o docente e o mesmo foi responsabilizado.

“Não fácil denunciar um docente por assédio sexual porque no grosso das vezes ele acaba sendo protegido pela direcção, porem quando foi assediada falei com os meus pais sobre o assunto eles incentivaram a denunciar. Felizmente, fiz a denúncia e o docente foi responsabilizado pelos seus actos. As mulheres não podem sofrer no silêncio, devem denunciar os docentes assediadores”.

Segundo a fonte, em Nampula as mulheres têm medo de denunciar os professores porque os mesmos são protegidos pelas direcções das universidades. Aliás, Joana Paulino referiu que estes tipos de casos não acontecem só na província de Nampula, mas em todo território nacional.

“É difícil denunciar docente numa instituição que ele é amigo do director. Quando isso acontece a pessoa fica limitada porque não sabe onde denunciar. São situações que acontecem em muitas instituições, não só em Nampula, mas em todo território nacional. As meninas sofrem caladas por medo de serem reprovadas”.

Na qualidade de representante do Governo, a directora do Conselho Nacional de Avaliação e Qualidade do Ensino Superior Maria Agibo, frisou que há necessidade de encarar com seriedade o fenômeno de assédio sexual nas universidades porque tem grande impacto na qualidade do ensino.

Para o psicólogo Miguel Dengua, a questão do assédio sexual nas instituições do ensino superior traz consequências negativas na vida das sobreviventes, tendo igualmente referido que o fenômeno deve ser dado importância porque afecta quase todas as escolas.

“A questão do assédio sexual nas escolas não pode continuar um tabu. As mulheres devem ter a coragem de denunciar porque as vítimas sentem-se humilhadas e degradadas perante a família e a sociedade. Depois de serem assediadas algumas raparigas tem dificuldades de se relacionar com os outros estudantes e isso acaba afectando o desempenho acadêmico delas. Por outro lado, o assédio pode desenvolver sentimentos negativos, podendo terminar com o abandono escolar”.

Prosseguindo, Dengua referiu que as vítimas de assédio apresentam frequentemente sentimento de culpa, maus sonhos, pesadelos, medos, injustiça, impotência, agressividade, solidão, perda de memória, dificuldades de concentração, irritabilidade e nervosismo excessivo.

 

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