Chakil Aboubakar deve 11 meses de salários aos colaboradores da revista Mais Jovem

DESTAQUE POLÍTICA
  • Empresário ligado à Frelimo acusado de promover trabalho escravo
  • Desde que a revista foi fundada, colaboradores sentem-se abandonados a sua própria sorte
  • Aboubakar refuta e diz que colaboradores estavam a fazer um trabalho filantrópico

Reina um ambiente de cortar à faca entre os colaboradores e a direcção da Master Link, proprietária da revista Mais Jovens, apresentada no ano passado numa badalada cerimónia. Os colaboradores estão há quase um ano sem ver a cor do dinheiro. Os queixosos, que denunciaram maus tratos protagonizados pelo patronato, já estão fartos das promessas da empresa liderada por Chakil Aboubakar, um famoso empresário com ambições políticas dentro do partido no poder. Entretanto, em sua defesa, Aboubakar refuta todas as acusações dos colaboradores da revista Mais Jovem, tendo justificado que os mesmos estavam a fazer um trabalho filantrópico, ou seja, ao invés de salários tinham direitos a subsídios.

Duarte Sitoe

Os colaboradores estão de costas voltadas com a direcção da Master Link, proprietária da revista Mais Jovens. Os salários em atraso, falta de contratos de trabalho e recorrentes promessas não cumpridas estão na origem do imbróglio entre as duas partes.

Segundo os queixosos, aquando do início da produção da revista, a direcção da Master Link disse que estava a elaborar contratos, contudo, de lá a esta parte os contratos ainda não apareceram e para o seu espanto a empresa não honra com as remunerações devidas.

Um colaborador que preferiu se identificar pelo nome de Ismael Job denunciou que, na ausência dos salários, a direcção disponibilizava subsídio de transporte, o que, segundo ele, era insuficiente para custear as suas despesas

“Já estamos agastados com esta situação. Somos pais de família e trabalhamos durante todo ano sem direito ao salário. Quando falávamos com a direcção sobre os salários em atraso e os contratos, diziam que temos que deixar de reclamar e continuar a trabalhar porque os problemas seriam resolvidos, mas infelizmente nada aconteceu. Estamos entregues a nossa própria sorte. Não se explica como é que um renomado empresário se disponibiliza para pagar subsídio de transporte ao invés do salário como foi previamente acordado”, contou Job.

Para justificar as intermináveis falhas no pagamento de remunerações, o patronato, segundo os queixosos, escondia-se na falta de patrocinadores, peso embora a revista tivesse ligação com o partido e tivesse uma dúzia de publicidades.

“Nas reuniões que tivemos com o proprietário da revista prometia que as condições seriam melhoradas, porém não passavam de promessas falsas. Mesmo com as publicidades a direcção justificava que não conseguia pagar salários porque ainda não tinha patrocinadores. Sabemos que isso não corresponde à verdade porque existem pessoas que tem salários em dia e nós continuamos sem ver a cor de dinheiro”, desabafa um outro colaborador.

Colaboradores relatam humilhações do patronato

Nas noves edições publicadas em 2022, uma foi patrocinada pelo Centro de Colaboração em Saúde, sendo que a direcção comprometeu-se em usar o remanescente do valor disponibilizado para pagar os salários em atraso.

Entretanto, segundo os queixosos, foi mais uma promessa falsa da empresa liderada por Chakil Aboubakar. Não só não cumpriu com a promessa como também foram surpreendidos, em finais de 2022, com anúncio de reestruturação da revista com vista a atrair investimentos.

“Tínhamos a esperança de receber os salários em atraso em Novembro, mas, debalde, nada aconteceu. Desde a última edição ainda não se pronunciou sobre os ordenados e não sabemos o que será das nossas famílias. A direcção veio com a proposta de reestruturar a revista com vista a atrair mais investimentos e até Março corrente continuamos parados”, revelam os queixosos.

Na tentativa de ultrapassar o imbróglio, os trabalhadores Master Link, proprietária da revista Mais Jovens levaram o caso ao Centro de Mediação e Arbitragem Laboral – CEMAL, contudo o caso ainda continua em “banho Maria” e Ricardo Manteigas desconfia que o Ministério do Trabalho e Segurança Social esteja a proteger o “camarada” Chakil Aboubakar, até porque a Revista tinha fortes ligações com o Ministério e com a Secretaria de Estado da Juventude e Emprego.

“A revista já estava a circular em todo território nacional, mas infelizmente o dono preferiu abraçar outros negócios. Por entender que a direcção já estava a nos faltar com o respeito, decidimos levar o caso para à mediação laboral. As nossas ambições foram frustradas porque vimos que aquela instituição estava a proteger a quem nos está a desgraçar. Pedimos a quem é de direito para resolver o nosso problema. Somos pais de famílias e precisamos do nosso dinheiro. Trabalhamos e não estamos a pedir favores”, protestou a fonte.

Por sua vez, Matanato Obadias, nome fictício de outro colaborador, denunciou que os colaboradores eram alvos de humilhações por parte Chakil Aboubakar, uma vez que o mesmo exibia sua riqueza nas reuniões, enquanto seus colaboradores não tinham o que deixar na mesa de suas famílias.

“Sabemos que somos pobres e não precisamos de ninguém para usar como espectadores para exibir o dinheiro que tem. Fomos humilhados como ratos de esgotos, mas não vamos desistir antes de receber o nosso dinheiro. Recentemente, tivemos uma reunião na qual falaram que a produção da revista seria suspensa por um período indeterminado, mas nem chegaram de falar dos salários em atrasos”, disse.

Aboubakar nega tudo e diz que era um trabalho filantrópico com subsídio

Chamado a contar a sua versão dos factos, o proprietário da MasterLink refutou todas as acusações dos colaboradores da revista Mais Jovem. Parco nas palavras, justificou que os mesmos estavam a fazer um trabalho filantrópico e ao invés de salários tinham direito a subsídios.

Aliás, para sustentar a sua tese, Chakil Aboubakar apoiou-se ao facto da revista ser de distribuição gratuita, o que de certa forma não permite encaixe financeiro capaz de sustentar aquele magazine mensal.

“Os trabalhadores prestavam serviços filantrópicos porque não tínhamos fonte de rendimento. Os patrocínios enquadravam-se na troca de serviços. Os colaboradores estão a misturar assuntos. Gastava mensalmente 192 mil meticais para a produção da revista e não tinha nem retorno de 50 mil meticais”, defendeu-se.

Prosseguindo, a fonte assumiu a ideia de reestruturar revista para conseguir mais parceiros. Em nenhum momento assumiu ter tido um entendimento, ainda que verbal, para o pagamento de salários, o que contradiz com a versão dos colaboradores que dizem que somente estavam a espera dos contratos.

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