Com as incoerências e divergências que se ouvem nos discursos oficiais da TotalEnergies e do Governo, somos chamados a abrandar a nossa esperança de acreditar na possibilidade de experimentar o sabor, para breve, do projecto da Área 1 Offshore. De adiamento em adiamento, foi sempre renovada a certeza de que ainda no presente ciclo de governação o investimento avaliado em mais de 20 mil milhões de dólares vai arrancar.
Mesmo com os condicionalismos claros e previamente impostos pela TotalEnergies, nossa esperança no gás foi aumentando, facto que acabou por nos empurrar a preterir outros sectores de desenvolvimento, como agricultora que só cresce aos olhos de quem sabe manipular os números, mas nunca no prato de milhares de famílias moçambicanas que ainda precisam importar tomate, cebola, batata, frango…
Apesar da retoma das actividades em Palma, com os hotéis antes em cinzas por força do horror do terrorismo já de portas abertas e dezenas de empresas de construção estarem a operar, movimentando ao longo da insegura estrada N380 diversos materiais que ilustram claramente a vontade de reconstrução, as incertezas da TotalEnergies continuam e colocam o Governo, a nível mais alto, numa posição ridícula, ao assumir continuamente uma posição de mendigo.
Na semana passada, enquanto o Presidente da República, Filipe Nyusi, olhava com optimismo a subida dos preços de GNL no mercado internacional e o ambiente favorável no território nacional para a retoma das actividades em Palma, a TotalEnergies lembrava, um dia depois, que continua sem previsão exacta de quando é que pode anunciar o retorno. É uma posição que abre espaço para muitas interpretações, uma vez ter em mão o relatório de Jean-Christophe Rufin, o especialista independente contratado pela TotalEnergies, que a princípio devia determinar a retoma ou não dos trabalhos em Cabo Delgado.
Jean-Christophe Rufin devia terminar o trabalho em menos de dois meses, e tivemos das fontes a informação de que de facto cumpriu, o documento está nas mãos da TotalEnergies, que a este momento devia abandonar a incerteza. Mas não o fez, pelo contrário, já avança a necessidade de os “custos estarem sob controlo”, mas que custos? Estaria a se referir a alguma renegociação dos contratos?
Está claro que alguém está a faltar com a seriedade. Se é o Governo que nalgum momento faz vista grossa às exigências de TotalEnergies ou é a própria TotalEnergies que de tempo em tempo renova os condicionalismos, o tempo dirá. Por enquanto, é de se questionar quando é que o documento deixou de ser relevante para determinar a retoma ou não.
Dois meses depois da entrega do relatório, a TotalEnergies, nada mais se disse e as constatações que se especulam serem graves a nível administrativo concretamente na gestão de bens destinados aos deslocados não são partilhados. Enquanto isso, grita o Governo, afirmando a tranquilidade, enquanto encolhe a TotalEnergies, como se viu no ano passado, quando Patrick Pouyanné e Filipe Nyusi, lado a lado, mostravam duas facetas diferentes da mesma província, Cabo Delgado.
Facebook Comments