PIM! CATRAPUMBA!!!

OPINIÃO

Afonso Almeida Brandão

A Pastelaria Scala acabou por o seu fim. O turismo, a pressão imobiliária, o negócio desenfreado do qual a baixa de Maputo se tornou palco acabou por tomar em 2009 a sua voragem a antiga Pastelaria Scala, no Baixa da Cidade. Será isso um momento triste? Infelizmente não, é um momento de felicidade, de gáudio máximo. É caso para dizer: moçambicanos, sobretudo aqueles que nasceram em Maputo ou na então Lourenço Marques dos Tempos do Colonialismo, alegremos a nossas almas, cantemos jubilosos cânticos, pois a Pastelaria Scalajá mais não será a mesma! Foi reduzida a «um cubiclu»…

A antiga pastelaria, onde eu em menino comia deliciosos bolos de noz, conhecidos precisamente por “nozes”, a pastelaria de boas cadeiras, de empregados atenciosos e  limpeza imaculada, desapareceu. Isto se não for apenas fruto de uma Memória inventada por um deus benfazejo, uma vez que a imunda, cara e antipática casa de comida plástica em que o velho Scala se tornou parece que ali habita há séculos, mesmo juntinho ao Cinema com o mesmo nome.

A actual Scala é tudo o que um Moçambicano tradicionalista e conservador mais abomina, independentemente de raças, cor de pele e religião. Massificada, caríssima, desprezando o Cidadão, abraçando os tostões do Turista de “pé descalço”, ou de classe média baixa, com uns Randes,DólaresEUA,Euros ou Meticais, no bolso, é uma
imagem degradante de uma Cidade que tem nos “Chapas” e no “Tchopela”o grande padrão de desenvolvimento moçambicano em termos de transporte público.

Bolos mal confeccionados, comida abominável, esplanada descaracterizada —o Scala, na Baixa de Maputo, foi, com o tempo, tomando a imagem que os seus proprietários lhe quiseram dar, uma deplorável decadência com vidros e espelhos sujos, e plásticos, muitos plásticos. Só lhe faltava a abominável “francesinha” para acabar na mais infinita e inominável corrupção!

O Scala não será pasto da voragem do novo Turismo. Provavelmente só poderá melhorar, porque o infinitamente mau nunca poderá piorar. Se for transformada num lupanar ou num hotel de luxo, mudará apenas de categoria. O Scala já era um monumento ao velho turismo, ao lucro fácil, à desqualificação.

A sua transformação será um raio de sol numa Baixa em que o actual Scalanão se enquadra. Não, não temos pena, nem do Scala — para não falarmos do Restaurante PIRIPIRI, ao fundo da Av. 24 de Julho, hoje um Prédio de vários andares — nem dos proprietários que, durante anos e anos enriqueceram à custa da desqualificação de um nome.

Não temos pena, porque os proprietários quer do Scala, quer do PIRIPIRI acabaram eventualmentepor receber rios de dinheiro com o negócio em que transformaram umaPastelaria e um Restaurante históricos há muitos anos atrás, em vez de uma falência mais do que merecida
pelo péssimo serviço que vinham prestando a Maputo e ao País.

Meia dúzia de cromos resolveram escrever uma carta em“pertugês” (mas que ideia,Se-
nhores?!), ao então Presidente do Município, David Simango, à época (2009). Claro que os respectivos proprietários estiveram“nas tintas” para o Scalae para o Restaurante PIRIPIRI, não se apercebendo do ridículo de querer salvar esse antro da Baixa de Maputo principalmente, onde nunca deve ter entrado, pois a veemência da carta deixa entrever que aquilo seria uma espécie de Palácio da Cultura, do bom-gosto ou da qualidade de vidaemMoçambique, quando é exactamente o contrário.

Qualquer recuperação de uma Scala desaparecida há mais de duas décadasé uma
invenção anacrónica. No seu espaço surgiram vários estabalecimentos de indianos que, pelo menos esses, tiveram um bom projecto de decoração de interiores que não envergonhamMaputo e o País. O mesmo aconteceu no lugar do já saudoso PIRIPIRI

Morra oScala, morreu já o Restaurante PIRIPIRE, PIM, Catrapumba!!!Entretanto, que outras referências hoteleiras se encontram na Lista da Demolição Selvagem, Senhor Eanes Comiche?!…

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