Não houve milagres: Reconciliação das contas reduz endividamento em 47,3 milhões de dólares

DESTAQUE POLÍTICA
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  • Dinheiro estava registado como passivo
  • FMA ainda está a actuar nos procedimentos administrativos
  • Projecta meter os primeiros aviões em duas semanas
  • LAM vendeu secretamente as duas sucatas que estavam em Nairobi há seis meses

A Fly Modern Ark (FMA) simulou milagres ao anunciar uma redução de dívida em 47,3 milhões de dólares num espaço de um mês. Mas não passou de uma correcção matemática que tirou os correspondentes 47,3 milhões de dólares de passivo para o activo. Até ao momento, a Comissão de Gestão está a actuar a nível administrativo, não assumindo ainda qualquer previsão de quando é que irá meter os próprios aviões e iniciar com a intervenção operacional. O Evidências soube de fontes que a aguardada entrada de novos aviões pode ocorrer nas próximas duas semanas. Enquanto isso, a empresa segue sem um avião sequer, até as duas “sucatas” (aviões) que estavam em Nairobi já foram vendidas e passam seis meses, mas nada foi dito.

Nelson Mucandze e Duarte Sitoe

A FMA já gaba-se das suas descobertas de 47,3 milhões de dólares escondidos no passivo (rubrica de endividamento), o que num primeiro momento parece um erro matemático. Mas não se deixa de lado a possibilidade de ser parte de um valor deliberadamente escondido, para fins que já se especulam.

Na conferência de imprensa, a FMA evocou alguns aspectos e números que fazem parte do contrato, para não revelar a fórmula que permitiu em pouco tempo recuperar 47,3 milhões de dólares, mas Evidências apurou que a empresa não cobrou a alguns clientes como diz, mas sim trabalhou na contabilidade onde descobriu um enorme passivo e tratou de reconciliar as contas.

“A posição de endividamento reduzido em 47,3 milhões de dólares, atingindo deste modo um rácio de dívida/capital próprio inferior a um e, por conseguinte, a LAM deixa de ser considerada tecnicamente insolvente”, referiu Sérgio Matos, gestor do projecto da restruturação da LAM por parte da Fly Modern Ask, sem explicar a fórmula que levou a essa descoberta. Aliás, disse que A Fly Modern Ark suspendeu todas condições de crédito na venda de bilhetes e foi “isso que aumentou a receita de vendas em 15%”.

A actuação de FMA no primeiro mês se limitou em procedimentos administrativos e financeiros, onde veio se descobrir que afinal há incompetentes na LAM, nas três direções, nomeadamente a financeira, comercial e recursos humanos.

Actualmente, a companhia de bandeira funciona com aviões alugados. Questionado sobre o destino dos dois aviões que estavam estacionados no Aeroporto de Nairobi, Matos declarou que este assunto não era de competências da companhia sul – africana. Mas o Evidências sabe que as Linhas Aéreas de Moçambique já venderam as duas aeronaves há seis meses e optaram por abraçar o silêncio, aparentemente para esconderem os números que roçam a escândalo.

O representante da FMA referiu, por outro lado, que nos próximos dias vão chegar dois aviões para reforçar a frota da LAM no âmbito do contrato celebrado com o Executivo para melhorar a gestão da empresa que nos últimos anos acumulou mais prejuízo em relação a lucros. Aliás, Sérgio Matos reconheceu que a frota das Linhas Aéreas de Moçambique está envelhecida e subaproveitada.

“Temos aviões que tecnicamente não estão em condições de servir muito mais tempo. Não estou a dizer que são velhos, ainda não chegaram a esta parte, é só uma questão de estarmos preparados para fazermos a mudança (…) A FMA está a trabalhar e vai trazer os seus equipamentos. Além disso, é uma das coisas que consta do nosso contrato de trazer frota e algum capital para poder alavancar o negócio da LAM. Teremos duas aeronaves em Maputo e as outras vamos trazer de forma faseada”, disse a fonte.

LAM não terá lucros a curto prazo

De acordo com a FAM, gestor que tem a aparente sorte de actuar sem interferência, a LAM não é competitiva no mercado e não opera da melhor forma tendo em conta a sua geração de receitas, que continuará uma incerteza até nos próximos dias.

“Provavelmente, a LAM poderá não ter lucros a curto prazo porque está com dívidas acima de 300 milhões de dólares. Daquilo que é plano que ainda estamos a elaborar estamos a fazer uma indicação de um acréscimo de cinco milhões de dólares na componente dos passageiros e um acréscimo de 500 a 600 mil dólares na componente de carga”, explicou Sérgio Matos.

Adiante, reconhece que a companhia sul-africana não terá muitos ganhos na restruturação das Linhas Aéreas de Moçambique.

“A FMA vai ter os seus ganhos. Mas não são lá muito grandes. Infelizmente, não posso falar os números porque o contrato que foi assinado com o Governo tem algumas coisas que não posso falar”, frisou, destacando que em relação as rotas, está em curso a elaboração de um plano.

Do referido plano consta a reabertura dos hubs da Beira e de Nampula para os voos não partirem apenas na Cidade de Maputo para o resto das províncias, mas também partir da Beira e de Nampula. Isso já existia, é só uma questão de reactivar.

Por outro lado, a FAM pretende dentro do mesmo plano, reabrir a rota Maputo – Portugal e as frotas subsequentes serão Maputo – São Paulo, Maputo – Dubai. “Isso vai ser em fases. A melhor foto só teremos daqui a três meses, se tivermos terminado o plano que foi apresentado”, enfatiza Matos.

Ainda no balanço do primeiro mês da restruturação da LAM, Matos referiu que a empresa sul – africana se viu obrigada a fazer uma cobrança agressiva para recuperar cerca de 20 milhões de dólares que estavam nas mãos de empresas estatais e privadas.

Refira-se que na resposta estratégica e táctica para desviar as Linhas Aéreas de Moçambique do colapso, a Fly Modern Ask referiu que desenhou quatro pilares, nomeadamente, Reanimação (Imediata e Urgente), Estabilizar, Reestruturar e reorganizar para crescimento acelerado e Acelerar o crescimento.

Mas quem é Sérgio Matos?

Sérgio Matos foi quem apresentou o relatório dos primeiros 30 dias da actuação da FMA nas Linhas Aéreas de Moçambique. Matos veio da Câmara de Comércio Árabe – Moçambique, sendo que teve seu envolvimento nas recentes viagens do Presidente da República, Filipe Nyusi, a Emirados Árabes Unidos, país que por várias vezes foi mencionado no julgamento das dívidas ocultas.

Matos é um camarada que fez carreira na OJM, onde chegou a secretário da cidade de Maputo no Governo anterior. De acordo com fontes, já espalha no seio dos seus colegas do partido as ambições de chegar ao topo da gestão da LAM.

Apesar de ser um economista aceitável, que ao lado dos colegas estrangeiros da FAM vai descobrindo algumas falcatruas da gestão da LAM, não tem nenhuma experiência na aviação e a fase que se segue de gestão operacional (introdução de voos) pode ser decisiva para uma Comissão que sonha em voar para Europa, Ásia e América.

Neste momento, parte dos resultados da FAM, relacionados com a má gestão, podem ser produto de denúncias dos próprios funcionários da LAM que nunca olharam com bons olhos a gestão de Pó Jorge, e noutras ocasiões já denunciaram nomeação de pessoas sem a devida experiência. Aliás, este conflito entre a direcção e os funcionários acompanha a história de gestão que passa da LAM.

A queixa de indicação de pessoas sem currículo para o efeito é agora confirmada pela FAM que, na lista dos 10 principais riscos da LAM identificados, aponta com destaque para a falta de competências e de recursos humanos adequados em certas áreas. Como parte de solução a este problema, a nova gestão compromete-se a desenvolver e aplicar um quadro de competências. “Os CVs de todos os quadros devem ser revistos e as competências avaliadas para determinar a adequação às respectivas funções, ou seja, auditoria de competências”, defende FAM.

Do resto, constam na lista dos riscos identificados: o risco de liquidez, a cultura organizacional, o risco de reputação da LAM, a frota sub-aproveitada e envelhecida, entre outros riscos.

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