Tradições fomentam gravidezes precoces em Empire

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Os ritos de iniciação, casamentos prematuros e o abuso sexual de menores são as principais causas da gravidez precoce na zona norte de Moçambique. No posto Administrativo de Empire, província de Cabo Delgado, as tradições contribuem sobremaneira para o aumento das gravidezes precoce. Na opinião da activista social Sonia Antônio as lacunas ao nível da legislação podem estar por  detrás do elevado índice da gravidez precoce em alguns distritos da província de Cabo Delgado.

Texto: Duarte Sitoe

As estatísticas da UNICEF indicam que perto da metade das jovens moçambicanas tiveram filhos antes de completar 18 anos. Este dado contrasta com os esforços do Governo e da sociedade civil que procuram a todo o custo desencorajar esta tendência, que agrava a vulnerabilidade das mulheres.

Aliás, de acordo com o IMASIDA 2015, em Moçambique quase metade das mulheres (46%) tiveram uma criança nascida-vida ou estiveram grávidas pela primeira vez, sendo que 14% engravidaram antes dos 15 anos.

Maria Ismael, de 18 anos de idade, é mais de dois filhos, uma de quatro anos de idade e outro de um ano. Ao Evidências, Ismael contou que na sua família as mulheres são obrigadas a casar ainda na mocidade.

“Aqui nós obedecemos as regras das nossas famílias. A minha mãe casou com o meu pai quando tinha 14 anos de idade. E foi na mesma idade que me casei. Hoje tenho dois filhos e estou feliz. A nossa tradição obriga as mulheres a casarem ainda cedo e não podemos nos opor a isso. Já recebemos activistas que nos aconselharam a casar depois dos 18 anos, mas os nossos pais é que decidem sobre o nosso futuro”, referiu a fonte.

Isma José, de 17 anos de idade, viu-se obrigada a suspender os estudos porque os progenitores a obrigaram a casar com um homem mais velho.  O sonho de ser médica foi “sol de pouca dura” porque na família do marido de Isma as mulheres não podem ir escola, ou seja, devem exclusivamente cuidar dos filhos e do marido.

José contou que em algum momento ficou inconformado com a decisão dos pais, mas, de balde, não podia se opor mesma porque estaria a desonrar a família perante a comunidade. “Aqui em Empire as mulheres crescem para casar. Quando ia escola aprendi que tinha direitos e deveres, mas não pude lutar pelos meus direitos porque não podia desrespeitar a decisão da minha família, eles acharam que aquele era um momento certo para casa. Felizmente, eu sou mãe, mas se possível gostaria de voltar a estudar”.

Sandra Mahomed conseguiu fintar a tradição do Posto Administrativo de Empire e conseguiu se formar com professora. Mahomed que foi graças ao apoio da irmã que vive na Cidade da Beira que desviada de uma união prematura.

“Hoje sou professora. A minha família já tinha arranjado um marido para mim, mas a minha irmã insistiu que eu tinha dar continuar com estudos e me levou para a Cidade da Beira onde me formei como professora. No presente, aconselho as minhas alunas para darem prioridade aos estudos ao invés de crescer a pensar no casamento. Por vezes tem sido uma luta inglória, mas acredito que futuramente vamos alcançar grandes resultados.

Por sua vez, a activista social Sonia Antônio, referiu que as lacunas ao nível da legislação podem estar por detrás do elevado índice da gravidez precoce em alguns distritos da província de Cabo Delgado.

Indo mais longe, Antônio apontou que as tradições, com destaque para os ritos de iniciação estão entre as principais causas das gravidezes precoces no posto Administrativo de Empire.

“As meninas entram nos ritos de iniciação mais ou menos com 10, 11 anos de idade, altura em que elas têm a primeira menstruação. Nesses ritos, elas são preparadas para o casamento e saem de lá como mulheres e isso contribui para o aumento de casos de gravidez precoce, visto que quando saem de lá já estão prontas para casar”, referiu a activista social

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