Frelimo conflitua entre a base e o topo

EDITORIAL

A próxima quarta-feira será, provavelmente, o dia de frustração de uns e celebração de outros. A Comissão Política da Frelimo vai confirmar os nomes dos 65 cabeças de lista pelo partido para as eleições autárquicas de 11 de Outubro de 2023.

 

Tendo em conta que os candidatos da Frelimo são, maioritariamente, os potenciais vitoriosos às eleições, em virtude da fraude ou não, é justo e pontual escrutinar como a Frelimo elege os seus candidatos. E até aqui, a julgar pela forma como os nomes chegaram na província de onde foram enviados para CP, é seguro afirmar que, no geral, a competência, a integridade, a aceitação popular e a experiência de governação foram preteridas, seja na totalidade ou em parte.

 

A sorte acompanha os espertos, os corruptos e os que têm tacho para distribuir na OJM, um grupo que configura actualmente no topo da lista dos que mais agitam o partido, no sentido negativo. Mas, a garantia de aceitação não provém daí, alguns candidatos conjugam esses esforços com compras de uma viatura para o primeiro secretário distrital, ou de uma casa para o secretário-geral, entre outros favores a nível mais alto. O fenómeno configura institucionalização da corrupção e a Frelimo celebra.

 

A preferência da base e do topo não coincide. Embora seja uma constatação superficial, ela é crível. Há muitos nomes que mesmo depois de uma experiência amarga de governação municipal conseguiram passar e lideram as listas enviadas à Comissão Política. Outros nem salários conseguem pagar, mas mesmo assim querem mais uma oportunidade de continuar edis. E nos casos mais graves, é uma incompetência manifesta como se vê na Matola, onde estradas construídas no primeiro mandato não duraram até o segundo mandato. Mas podia se falar das falácias de Boane. Ou pode-se visitar mesmo o perfil de alguns candidatos nas redes sociais, onde nem conseguem umas 100 reações. A pergunta é como foi possível manter estes nomes na corrida eleitoral E a resposta indica para uma corrupção institucionalizada, um vírus enraizado no topo, mas que já se manifesta com naturalidade na base e não há um braço moral para sua repreensão, afinal quem decide quem vai ou deixa de ir tem uma postura imaculada. Foi esta arrogância de cedência a apetites estomacais que terminou em derrota em Nacala-Porto.

 

É aqui onde coincide a divergência, o povo quer uma liderança aglutinadora, lideranças que existem em todos os momentos, até fora dos períodos eleitorais, cuja continuidade ou não é legitimada pelo povo e não em suplementos nos jornais. Se a Frelimo do topo reconciliasse a decisão com a vontade da base, aquela base cujas necessidades são partilhadas por todos, sem cor partidária, afinal, o lixo nauseante ou as estradas degradadas é prejudicial a todos, não precisaria da fraude para se manter. Ganhava as próximas eleições sem precisar de se sujar. O recurso à fraude é, em parte, o reconhecimento da impopularidade e da negação dos seus candidatos.

 

E neste momento em que estamos, há ainda tempo de serem validados cabeças de listas competentes, que granjeiam simpatia e que tenham maior aceitação a nível da base, capazes de ir às próximas eleições sem o conforto de uma eleição fraudulenta. Mas é preciso coragem, coragem de apostar na competência e de desfazer todo histórico de eleições e devolver aos candidatos o orgulho do voto, um voto que transmite confiança e responsabilização no caso de fracasso.d

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