- Partido até ensaiou controlo de esquemas, mas não conseguiu
- Delegados comprados deviam votar e tirar foto para confirmar
- Partido orientou a proibição de telefones no momento de votação
O partido Frelimo elegeu, no último sábado e domingo, os seus 65 cabeças-de-lista para igual número de autarquias do país, numa eleição novamente assombrada por relatos de esquemas de compra e venda de votos um pouco de todo o país, uma situação que obrigou o partido dos camaradas a emitir uma ordem a proibir a entrada de telefones no acto de votação, pois alguns candidatos que previamente subornaram delegados para votarem em si exigiam que enviassem fotos para confirmação. No entanto, essa medida não funcionou para todos. Enquanto há locais em que os candidatos “pagadores” foram encontrados em contrapé, perdendo de forma vergonhosa, noutros, conseguiram fazer valer o dinheiro para chegarem ao posto mais cobiçado ao nível das autarquias.
E a história se repetiu. O perfil dos candidatos do partido Frelimo, tirando uma e outra excepção, é predominantemente de empresários, comerciantes ou lobistas com acesso facilitado aos órgãos do partido, o que reforça a ideia de que os “endinheirados” têm cada vez mais chances de chegar a posições elegíveis.
Evidências recolheu informações sólidas do Norte a Sul do país de alguns candidatos a cabeças-de-lista que gastaram avultadas somas em dinheiro para poderem se eleger. Alguns conseguiram e outros não, pois a estratégia de confirmação de lealdade nalgum momento foi posta em causa quando a direção do partido ensaiou uma estratégia para frustrar candidatos espertos.
É que, segundo apuramos, após pagarem dinheiro para garantirem a eleição, os candidatos exigiram que os delegados tirassem fotos dos bolentins de votos para confirmarem que realmente votaram num respectivo candidato, o que nalgum momento não funcionou, pois houve mesmo recolha de telefones nalguns casos.
A recolha de telefones embaraçou a estratégia de alguns Chico-espertos, alguns dos quais perderam as eleições vergonhosamente, depois de despenderem milhões em dinheiro, para além de outros que fizeram promessas de emprego.
Nesta corrida aos cabeças-de-lista, o Evidências apurou que alguns delegados facturaram, para além de dinheiro, casas, carros e viagens turísticas. Para além dos delegados que tinham a faca e queijo na mão, alguns primeiros secretários facturaram bastante, pois havia candidatos que não tinham esforços a medir quando o assunto era agradar os chefes e outros membros do secretariado.
Vai daí que alguns membros do secretariado ficaram frustrados logo após a imposição de candidatos por parte da Comissão Política, o que os levou a tentarem agitar, sem sucesso, aos candidatos a desafiar as ordens de cima.
Tal como Evidências relatou na sua última edição, foi uma semana de nervos nas autarquias onde houve candidatos enxertados pela Comissão Política, com alguns membros do secretariado local e delegados que já tinham engolido algum a tentarem convencer os candidatos a concorrer à revelia.
Tirando Calisto Cossa, que renunciou a sua candidatura de forma sorrateira na passada quarta-feira, os demais candidatos, no caso da Beira, Quelimane e Nampula, onde a Comissão política impôs seus candidatos, só anunciaram a desistência à boca das urnas, e Evidências apurou que alguns não o fizeram por livre e espontânea vontade, mas tiveram que se confiormar às decisões superiores.
Como prova de que havia orientações superiores, em todas autarquias onde a Comissão política impôs candidatos, os cabeças-de-lista foram eleitos com números coreanos, ou seja, 100 por cento dos votos, tal como se viu na Matola, Beira, Nampula e Quelimane.
Uma feliz aposta nos jovens
Incidentes a parte, um dos grandes méritos da Frelimo nestas conferências eleitorais foi o notável domínio de jovens entre os principais eleitos, o que demostra uma estratégia de rejuvenescimento do partido, ou mesmo, uma transição geracional.
Na província e cidade de Maputo, por exemplo, dos seis cabeças-de-lista (incluíndo Razaque Manhique), apenas Luís Munguambe (autarquia da Manhiça), único sobrevivente dos presidentes que tentaram renovar os mandatos na provincia de Maputo, é que tem uma idade avançada.
Os restantes, nomeadamente Júlio José Parruque, pela autarquia da Matola; Paulo Chitiva, da autarquia de Namaacha; Geraldina Bonifácio, de Boane; Abdul Gafur da Matola Rio; Shafee Sidat de Marracuene e Razaque Manhique da cidade de Maputo, são todos jovens.
Mesma tendência se manteve um pouco por todo país, onde se destacam jovens como Lourenço Gani, em Quelimane; Stela Zeca, na Beira e Satar Abdul Gani, em Pemba.
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